por Pedro Faísca
Vice-Diretor e Docente da Faculdade de Medicina Veterinária Universidade Lusófona
Após a 2.ª Guerra Mundial, as revistas científicas passaram a recorrer à revisão por pares, como forma de garantir a qualidade do que era publicado. Quem financiava a investigação científica queria uma garantia de que o seu dinheiro estava a ser bem aplicado e a ideia de uma verificação por pares parecia boa.
As Instituições adaptaram-se, e os professores e as próprias Universidades passaram a ser avaliados pelo número de publicações e revisões. Setenta anos volvidos, há sinais que este modelo não está a funcionar, estando inclusive a desvirtuar a forma como a Ciência está a ser gerida.
Imagine criar uma obra e para a expor, tem de pagar a uma galeria de arte. Os donos da galeria por sua vez, para garantir que vão expor algo de qualidade, enviam a obra a outros artistas para estes a avaliarem. Esse processo de avaliação é gratuito e a obra de arte pode ser aceite como está, ser aceite com críticas ou, ainda recusada. Na segunda situação, os donos da galeria devolvem a obra de arte ao autor e só consideram expô-la se forem feitas as alterações sugeridas. Caso o autor consiga realizar as alterações, os donos da Galeria vão cobrar dinheiro para a expor e ainda vão cobrar ‘bilhete’ a todos aqueles que a quiserem apreciar sem que o autor lucre com isso.
Recentemente, aproveitando a incapacidade de os jornais tradicionais responderem em tempo útil às necessidades dos cientistas, apareceram os jornais predadores. Estes jornais cobram cada publicação a peso de ouro, mas fazem-no em tempo relâmpago. Pressionam os revisores a responder, aliciando-os com vouchers de desconto numa futura publicação, e pressionam os autores a ressubmeter rapidamente. Como depressa e bem não há quem, isso reflete-se na qualidade. São conhecidas situações em que os autores incluíram erros nas suas submissões, tendo verificado posteriormente que apenas 30% dos mesmos foram detetados; e outros submeteram pseudo-artigos forjados que foram aceites para publicação desde que pagos. A revisão por pares que deveria ser um selo de qualidade, está a ser usada por alguns como marketing.
Os cientistas, pressionados, passaram a publicar focados na avaliação que comanda a sua carreira ou determina a probabilidade de obter financiamento e não na ciência per se. O resultado é claro, de acordo com um estudo recente publicado na revista Nature, o potencial revolucionário das descobertas científicas desacelerou em todas as áreas de saber nas últimas décadas.
O Einstein apenas teve um dos seus artigos revistos por pares e não foi isso que o impediu de ser quem foi.