Por Manuel Pereira Ramos, Jornalista
Qualquer cidadão se sentiria feliz estando seguro de poder confiar na palavra dos políticos aos que, com o seu voto, outorgou a sua confiança na gestão do bem comum ao nível do país, da região ou até da pequena aldeia em que vive. Mas esse principio, que deveria ser elementar e cumprido de forma natural, parece estar cada vez mais em dúvida, são muitas as promessas que não se cumprem, as mentiras e as meias verdades que se dizem e não deixa de ser frequente dar-se o dito por não dito ou mudar de opinião, algo legitimo mas que pode deixar de o ser se não se dão as devidas explicações. Alberto Núñez Feijóo, candidato a primeiro-ministro espanhol reconhece esta realidade quando afirma que «nestes tempos em que a palavra de um político não vale nada, eu reivindico a política da palavra, porque sem palavra não há politica».
Mais do que pela sua gestão à frente do Governo, os grandes ataques dos opositores a Pedro Sánchez e até de gente do seu próprio partido têm a ver com algumas decisões por ele tomadas e que consideram ter sido um engano ao povo espanhol tomando como alguns exemplos o indulto aos independentistas catalães que havia prometido que nunca daria, a proteção aos mesmos com a eliminação, no Código Penal, do crime de sedição ou a promessa de que jamais governaria com Podemos, um conjunto de contradições que levou o jornalista Carlos Alsina a perguntar-lhe, no começo de uma entrevista «porquê nos mente tanto, sr. Presidente?». Pedro Sánchez perdeu credibilidade mas não se considera um mentiroso, simplesmente as circunstâncias adversas surgidas durante o seu mandato, obrigaram-no a mudar de posição politica e defende-se esgrimindo dois exemplos passados: Adolfo Suárez garantiu que nunca legalizaria o Partido Comunista e acabou por o fazer e Felipe González depois de ter lutado contra a entrada da Espanha na NATO, tomou uma posição totalmente diferente pedindo aos espanhóis que votassem a favor no referendo que ele próprio promoveu quando chegou a primeiro-ministro.
Mas as mudanças de opinião não são um monopólio de Pedro Sánchez, o que acaba de suceder na nossa vizinha Extremadura, é tanto ou ainda mais chocante. Nas recentes eleições para o parlamento autárquico, ganharam os socialistas mas sem poderem continuar a governar devido a que a direita, representada pelo Partido Popular e Vox, terem somado mais deputados. Estes dois partidos ficaram, pois, obrigados a entender-se para poderem governar e foi então quando a presidenta dos populares, Maria Guardiola, garantiu de forma rotunda e publicamente que nunca deixaria entrar no seu executivo a um partido como Vox que nega a violência familiar e que ultraja os emigrantes. Mas quem manda, manda e ela, em vez de tomar a digna atitude de demitir, não se importou de obedecer ao seu chefe Feijóo, o tal que propugna a politica da palavra, teve de meter a viola no saco e engolir em seco como se nunca tivesse dito o que toda a gente ouviu que disse, uma vez mais a tentação do poder foi mais forte que a da dignidade.
Dentro da campanha para as próximas eleições gerais, Pedro Sánchez e Núñez Feijóo tiveram esta semana um cara a cara na televisão, supostamente para informar os cidadãos sobre os programas que pensam aplicar ao chegar ao governo. Foi um debate duro, cheio de acusações mútuas e no que abundaram, pelas duas partes, as conscientes mentiras, as imprecisões ou as verdades distorcidas, tudo menos tentar explicar medidas concretas destinadas a ajudar a resolver os problemas que sofrem muitos milhões de espanhóis. Mas eles sabem que os votantes aceitam, como algo normal, que as mentiras eleitorais sejam menos mentiras mostrando até, muitas vezes, uma certa alergia a conhecer a verdade preferindo, numa atitude de defesa própria, que se lhes seja ocultada a dura realidade. Falando de promessas, talvez a mais extravagante tenha sido a formulada por Yolanda Diaz, ‘líder’ da nova formação de esquerda, Sumar, ao garantir que, cada cidadão ou cidadã, ao chegar aos 18 anos, terá direito a um subsídio de 20.000 euros destinados a empreender um negócio ou á sua própria formação. Muito interessante, só que a ela não explicou onde se irão buscar os 10 mil milhões de euros que custará semelhante iniciativa.
Mas a mentira não é um privilégio da classe política, em maior ou menor grau e mais ou menos escondida, anda por toda a parte. EL Pais, um jornal de comprovada idoneidade, acaba de publicar um artigo com o título As mentiras detrás da água mineral de Cristiano Ronaldo e no que se põem em dívida os benefícios anunciados na conferencia de imprensa de lançamento do novo negócio do futebolista que nela esteve presente. Segundo demonstra o autor do estudo, a água em questão não é antioxidante, a sua pretendida alcalinidade não serve para nada, o vídeo promocional é falso pois as imagens não correspondem à nascente de Ávila mas sim á Cascada da Fraga da Pena, em Arganil e a mesma água, mas com menos glamour, é vendida por Auchamp, em Portugal, a metade do preço que o El Corte Inglês. Convenhamos que Cristiano Ronaldo é o menos culpado de todos estes presumíveis enganos, a sua especialidade é o futebol e não as águas minerais mas, não deve poder ser que um “marketing” agressivo no que tudo vale para promover o negócio, posso prejudicar uma imagem que durante muitos anos e com grande esforço tanto lhe custou a ganhar.