Futebol feminino: Deixou de haver impossíveis

A viagem foi longa, mas a concretização do sonho está perto. O Campeonato do Mundo de futebol feminino começou esta semana e as Navegadoras portuguesas vão lá estar.

por João Sena

A seleção nacional feminina já se encontra na Nova Zelândia onde vai disputar o seu primeiro Mundial. Há uma natural expectativa na comitiva portuguesa, mas há também muito respeito pela competição que junta as 32 melhores seleções do mundo, coisa que as jogadoras portuguesas nunca tinham experimentado. Portugal tem o primeiro jogo domingo, dia 23, às 8h30, frente aos Países Baixos, vice-campeões do mundo; segue-se o Vietname, dia 27, às 8h30, e termina a fase de grupos frente aos Estados Unidos, atuais campeões do mundo, dia 1 de agosto, às 8h30. Há missões mais fáceis, mas o selecionador Francisco Neto afirmou que «a seleção abraça esta campanha e esta viagem com energias altamente positivas», pelo que só podemos esperar o melhor, e o melhor seria passar aos oitavos de final, o que significaria que a campeã do mundo ou a vice-campeã (não é expectável que o Vietname entre nestas contas) teriam caído frente às portuguesas.

Começa a ser um bom hábito Portugal marcar presença nas fases finais das grandes competições. Depois da presença nos Campeonatos da Europa de 2017 e 2022 segue-se, em estreia, o Campeonato do Mundo de 2023, que se realiza entre 20 de junho e 20 de julho, no outro lado do mundo, numa organização conjunta entre a Nova Zelândia e Austrália. Por esse motivo, os jogos de Portugal serão sempre muito cedo, mas vale a pena ver (RTP 1) a equipa das quinas no feminino.

O apuramento para o Mundial é a maior proeza do futebol feminino português e resultado do trabalho que começou a ser feito há 40 anos, como referiu o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. A qualidade do plantel, a determinação, o foco e o querer das jogadoras contribuíram para a afirmação do futebol português a nível internacional, e deve ser visto como ponto de partida para outras conquistas e uma referência para as próximas gerações.

O desempenho da seleção mereceu uma comparação curiosa por parte do Presidente da República que afirmou que a seleção feminina alcançou mais depressa a primeira participação num Mundial do que o setor masculino. «A primeira vez que os homens foram a um Mundial foi em 1966, 45 anos depois do primeiro jogo. A Seleção feminina chega a uma fase final 42 anos após o primeiro jogo», disse Marcelo Rebelo de Sousa, que reforçou essa ideia com umas contas simples: «Mas a verdade é que entre 1983 e 1993 não houve competições internacionais, pelo que há que descontar dez anos. Assim, a seleção feminina demorou 32 anos a chegar a um Mundial», concluiu o Presidente da República, na receção das Navegadoras, no Palácio de Belém.

 

Preparar o futuro

Dolores Silva, capitã da seleção nacional desde 2021, partiu para a Nova Zelândia ainda mais motivada depois de atingir as 150 internacionalizações no jogo de preparação frente à Ucrânia (2-0), isto depois de ter empatado (0-0) com a Inglaterra, campeã europeia. «Fizemos dois grandes testes, com equipas de características diferentes». As dificuldades vão aumentar, mas a confiança é grande: «Fazer parte deste grupo é um orgulho tremendo. Acima de tudo, o que eu mais quero é poder desfrutar deste momento único e trabalhar ao máximo com as minhas colegas para representar Portugal da melhor maneira possível. Temos pela frente um grupo difícil, adversárias que dispensam apresentação, mas temos a consciência de que estamos num patamar elevado e que vamos defrontar as melhores». A internacional portuguesa falou do «privilégio que é fazer parte do primeiro grupo que vai participar num Mundial», e lembrou: «Representamos também as gerações que tanto lutaram para que este momento chegasse e queremos abrir portas a novas gerações, dizer-lhes que podem continuar a sonhar».

Ter a braçadeira de capitã de equipa reforça ainda mais a sua determinação. «É uma grande responsabilidade, mas não me faz diferente das minhas colegas. Faz-me, isso sim, querer que elas estejam o mais confortáveis possível dentro e fora do campo para sermos o mais coerentes possível. A união que temos foi determinante durante esta caminhada. O meu papel é fazer com que essa união continue presente dentro e fora do campo», referiu a jogadora. Dolores pede aos portugueses que continuem a acreditar e a apoiar o futebol feminino, e que durante o Mundial «ponham o despertador para acordar cedo». Estamos a contar com eles», sublinhou. A centrocampista estreou-se pela seleção a 4 de março de 2009 na vitória sobre a Polónia (2-1), no torneio internacional Algarve Cup. Marcou até ao momento 17 golos, viu por 17 vezes o cartão amarelo e nunca foi expulsa. «Foi, sem dúvida, uma noite muito especial, um marco como este sempre foi um sonho. Ainda para mais num estádio completamente cheio para nos apoiar. Nada teria sido possível sem o grupo de jogadoras que me tem acompanhado ao longo destes anos. Esta marca é de todas elas», fez questão de salientar a jogadora, de 31 anos.

Jéssica Silva esteve em evidência no último jogo de preparação ao marcar dois golos frente à Ucrânia. A número 10 de Portugal contabiliza 100 internacionalizações pela seleção principal e considera esta presença muito importantes para o futebol feminino. «Temos de acreditar em nós. Sabemos perfeitamente aquilo que tem sido o processo e o caminho ao longo destes anos, por isso é que estamos no Mundial. Queremos continuar a mostrar o Portugal competente e competitivo que temos mostrado ao longo destes anos», salientou a internacional portuguesa, de 28 anos.

 

Eles apoiam

Habituados a estes grandes momentos, alguns jogadores da seleção masculina vestiram o equipamento exclusivo da sua congénere feminina em mais uma manifestação de apoio à equipa de Francisco Neto que vai participar pela primeira vez num Campeonato do Mundo de futebol. O capitão Cristiano Ronaldo, Rúben Dias, António Silva, Raphael Guerreiro, Danilo Pereira, João Félix e Diogo Costa envergaram o equipamento alternativo da seleção feminina. l