por João Sena
Os iranianos voltaram a ser controlados e ameaçados pela Patrulha da Orientação da República Islâmica do Irão – conhecida por polícia da moralidade ou dos costumes – isto quando se aproxima o primeiro aniversário da morte da jovem Jina Mahsa, de 22 anos, que foi detida por usar incorretamente o obrigatório véu islâmico hijab, e levada pela polícia para um centro de reeducação para ter lições de modéstia. Três dias depois, estava morta.
A história de Amini foi um alerta internacional para o ultrapassado e violento sistema de disciplina do Irão, e para a impunidade de que goza a elite eclesiástica do país. Desde essa altura, os líderes islâmicos passaram a ter um discurso mais suave, apelando à «educação» e «correção», o que foi visto como uma cedência ao movimento de protesto que se instalou no Irão desde setembro do ano passado depois da morte de Mahsa Amini. Contudo, a prática policial é totalmente diferente e continua a impor de forma forçada os valores do Islão. Num regime teocrático, os agentes da moralidade detêm arbitrariamente milhares de mulheres sob o pretexto de não cumprirem o uso correto do hijab e as regras estabelecidas pelo país.
No final do ano passado, o Irão anunciou o fim da polícia da moralidade. No entanto, o procurador-geral, Mohamad Jafar Montazeri, adiantou que o comportamento comunitário vai continuar a ser fiscalizado e destacou que a indumentária feminina continua a ser muito importante, principalmente nos espaços sagrados. As tenebrosas carrinhas brancas da polícia do Estado voltaram a ser vistas nas ruas das principais cidades iranianas e quem não cumpre sofre a raiva dos agentes policiais. «Parece que o perigo de autodestruição, do qual já se falou muitas vezes, se coloca mais do que nunca, com o regresso da polícia da moralidade», disse o ex-Presidente Mohammad Khatami.
A polícia de moralidade tem acesso ao poder, a armas e aos centros de reeducação, onde são detidas as mulheres e homens que não cumpram as regras do Estado sobre modéstia. Nesses centros recebem aulas sobre o Islão e a importância do hijab e antes de serem libertadas têm de assinar um compromisso de cumprir as regras de vestuário.
Mas nem sempre foi assim. Em 1936, o governante pró-ocidental Reza Shah proibiu o uso de véus e lenços de cabeça com a intenção de modernizar o país, só que muitas mulheres recusaram essa abertura. Com a República Islâmica a situação mudou por completo e, a partir de 1979, o hijab tornou-se obrigatório no Irão.
As reações contrárias não se fizeram esperar. Nos últimos anos surgiram vários movimentos anti-hijab, como as Girls of Revolution Street em 2017 e os protestos nas redes sociais no Dia Nacional do Hijab e da Castidade, que originaram inúmeras detenções e perseguições.