Passei pelo Rossio e vi que o tempo que nos distancia do início das Jornadas Mundiais da Juventude é de tão somente quinze dias. Mais, ainda, se considerarmos que uma parte dos jovens virá para as Jornadas nas Dioceses, veremos que dentro de cinco dias teremos os jovens de todo o mundo a atravessar as fronteiras. Isso será uma festa… não apenas em Lisboa, mas em muitas cidades portuguesas, de norte a sul, das ilhas ao continente.
Estou em contacto com grupos de vários países do mundo. Muitos jovens viram o seu desejo de participarem nas Jornadas de Lisboa ser recusado por falta de visto. Muitos outros não hão-de participar por motivos financeiros. Outros, porém, serão obrigados a ficar em casa por não viverem em paz nos seus próprios países.
Uma semana depois de ter justamente sido eleito Cardeal pelo Papa Francisco, D. Américo Aguiar anunciou que se iria deslocar à Ucrânia para se encontrar com os jovens que estão incapacitados de se deslocarem a Lisboa para participarem num dos encontros mais significativos do mundo católico. A Ucrânia não é maioritariamente católica, mas ortodoxa. Foi, no entanto, para todos – católicos e ortodoxos – que o responsável máximo das Jornadas Mundiais da Juventude de 2023, de Lisboa, se deslocou à Ucrânia.
Ao ver as fotografias dos jovens ucranianos vestidos com aqueles trajes tradicionais, nos encontros com o cardeal eleito, D. Américo Aguiar, fez-me lembrar a primeira Jornada em que participei, em 1997, na cidade de Paris. Eu estava esbugalhado ao ver aqueles jovens de leste que trajavam com as suas vestes, como se fosse príncipes. Era lindíssimo…
Vinte e seis anos depois, recordo como eram jovens com uma identidade cultural muito arraigada e extremamente devotos. Nos Encontros Europeus de Jovens, organizados pela Comunidade de Taizé, os jovens de leste têm sempre umas apresentações tradicionais que me enchem a alma. As jovens dançam como princesas, de mão dada aos jovens, trajados ambos com as suas roupas brancas e os galões coloridos.
Ao longo destes anos, a imagem que tinha destes jovens libertados das garras do comunismo era esta: gente lindíssima, com uma forte identidade cultural e um desejo enorme de participar da nossa vida comum. Olhando para trás, até posso compreender que não estava longe da queda do império comunista. As jornadas de Paris ocorreram em 1997, ou seja, seis anos depois de ter caído o malfadado império soviético.
Pensar que, hoje, há jovens daqueles países que, por causa da guerra, não poderão participar das Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa, é pensar que o mundo retrocedeu uns trinta anos. Nós prometemos a liberdade das garras soviéticas e afinal a ameaça russa expande-se para cima de todos estes países, sem piedade.
D. Américo dizia que que lhe tinha impressionado ver o funeral de um jovem em solo ucraniano. Pois! É verdade! Descer ao túmulo, à mansão dos mortos – esse sheol sem fim -, no início da sua vida, é um roubo de um dom que lhes foi dado. Jovens! São jovens que ainda não viveram o que os senhores da guerra viveram. São jovens que não chegaram a viver o que Putin e os seus generais viveram. Desceram ao túmulo, à mansão dos mortos.
Esta visita de D. Américo Aguiar à Ucrânia foi mais do que justa e só me resta esperar que dentro de dois anos, quando aparecer o próximo jubileu, os que hoje participam na guerra possam em 2025 participar das próximas Jornadas Mundiais da Juventude.