E se a extrema-direita não for a extrema-direita?

O conceito é utilizado como um adjectivo para demonizar e desqualificar projectos políticos que irrompem como urgência necessária de alternativas a um tipo de democracia corroída.

por João Maurício Brás

Na última década um tipo de média pouco independentes e que estão mais preocupados em doutrinar que informar bombardeiam-nos com a ideia que há um perigo sério para as maravilhosas democracias ocidentais, a extrema-direita. Ora, o uso desse conceito não é sério, pois não tem qualquer factualidade, nem correspondência em evidências políticas, sociológicas e históricas.

O conceito é utilizado como um adjectivo para demonizar e desqualificar projectos políticos que irrompem como urgência necessária de alternativas a um tipo de democracia corroída.

O consumidor, o espectador passivo e uniformizado deve reagir de modo pavloviano à exibição do vocábulo extrema-direita e associá-lo a tudo o que há de malévolo. A associação ao fascismo, a políticas totalitárias, discriminatórias, inimigas de mulheres, das minorias e dos migrantes deve ser automático. Esta mentira de tanto ser repetida tem feito o seu caminho. Acreditarão as caricaturas de comentadores, os intelectuais subvencionados e políticos que as repetem de modo programático naquilo que afirmam?

O Vox, o Chega, a coligação da senhora Meloni, o Reagrupamento Nacional e outros são formações políticas distintas entre si, colocá-las a todas na mesma designação mostra a simplicidade, a ignorância e ou uma premeditação propagandística falaciosa.

O que predomina no Ocidente é o triunfo de um desenvolvimento do liberalismo, a existência de um poder transnacional, em que o poder económico-financeiro e a respectiva ditadura dos mercados predomina com a respectiva caução progressista com as suas ficções e que se apresenta como sem alternativa. Este poder de elites distantes dos problemas reais das pessoas não respeita a soberania dos Estados, destruiu o predomínio da política sobre a economia e submeteu a dimensão social e ética aos interesses económicos. O cidadão é governado por um poder que não pode escrutinar e pouco ou nada participa e decide sobre aquilo que lhe diz respeito. Qualquer manifestação ou irrupção neste sistema que lhe parece escapar do controlo é imediatamente diabolizado.

E se esta for a verdadeira direita e ela sim democrática porque a diabolizam? Responder aos problemas concretos das pessoas comuns, preocupa-se com a soberania nacional, com os problemas sociais mais graves, defender valores e até uma dimensão social é agora sinónimo de extremismo. A obra de diabolização diária e programada a que as alternativas estão submetidas, dividindo as pessoas entre as dignas e as indignas nada tem de democrático. Infelizmente também a verdadeira esquerda, que lutava pela justa redistribuição da riqueza, pela justiça social e pela dignidade do trabalho, critica das perversões que existem no capitalismo, desapareceu, transformada num movimento manicomial com a tretas do género, do feminismo do ódio e dos anti-racismos racistas…O que temos é este poder praticamente totalitário e distante, onde os políticos transitam entre as grandes financeiras, os bancos internacionais e as estruturas do poder transanacional. Pensemos, por exemplo, em Lagarde, Barroso, Draghi, Monti, esses grandes democratas. Estranho mundo em que quem se preocupa com a vida do seu país, dos seus cidadãos, do seu trabalho, da sua cultura é demonizado.

No nosso paraíso antifascista 46% das pessoas não sabe o que é a inflação. Se a democracia é participação que democracia é a nossa?