Ignacio Ramonet, histórico diretor do Le Monde Diplomatique, escreveu no final dos anos 1990 um livro com o título deste artigo. Não se trata de plágio, apenas de uma pequena homenagem ao autor, dada a ‘tirania’ em que vivemos.
Uma empresa explora comercialmente, sem licença, um outdoor em espaço público. Nessa estrutura ilegal é colocada uma lona alusiva às vítimas da pedofilia na Igreja Católica. O Município onde essa lona estava ilegalmente colocada retira-a para poder, nos termos da Lei e de acordo com um edital recente, poder retirar a dita estrutura.
O tema da lona é sensível e choca qualquer ser humano. Não obstante, independentemente do tema, a Lei deve ser respeitada.
Segue-se um chorrilho de críticas ao Município por ter mandado retirar a lona, acusando os seus eleitos de censura (foi esse o título de uma notícia de um jornal, na sua edição online). Nem por um momento procuraram efetivamente conhecer o assunto e analisá-lo racionalmente.
Vejamos a questão de outro ângulo. Uma empresa vende espaço publicitário comercial não licenciado. Cobra pela utilização desse mesmo espaço a uma associação, por uma mensagem que não é comercial, mas política ou institucional (de claro interesse público).
Comparando os dois ângulos, verificamos que quem é julgado pela tirania da comunicação não é a empresa que vende o espaço publicitário ilegalmente, é o Município.
Este é o retrato de um mundo viral, virado do avesso, no qual se julga o que não se conhece, com informação sem análise e análise sem informação.
O mesmo Município que, meses antes, teve patente uma exposição, denominada ‘amor Veneris’, que expunha a questão do abuso sexual, é agora acusado de praticar censura. O mesmo Município, cujo vice-presidente escreveu, nesta mesma coluna, um artigo criticando o comportamento da Igreja portuguesa no tema, é vilipendiado por cumprir a Lei.
Claro está que, quando os temas são sensíveis, é mais fácil aderir ao politicamente correto, fazermo-nos de mortos e deixar a passar onda. Em linguagem tradicional: ‘Fingir de morto’.
A causa do combate à pedofilia, e do honrar das vítimas da mesma, é muito maior do que estas questões e não pode ser conspurcada pela violação da Lei. A Lei é a nossa âncora na defesa das boas causas. Não podemos permitir a derrogação da Lei por a causa ser justa, sob pena de tudo o resto ruir.
A Jornada Mundial da Juventude e a vinda do Papa a Portugal podem e devem ser aproveitadas para discutir com seriedade e elevação o tema, cuidando de proteger os que devem ser protegidos: as vítimas. A questão são as vítimas, não campanhas de comunicação!
Paralelamente, aproveitar as jornadas para absorver a energia positiva que se vive em Portugal. Com jovens de todo o mundo, trazendo a esperança do futuro ao país. Quem percorre as ruas da região de Lisboa sente a energia positiva que se vive.
Beneficiemos da energia que veio de fora para alimentar a falta de energia que tantas vezes se vive cá dentro.