Valentes, competentes e ambiciosas

O poste tirou Portugal do Campeonato do Mundo de futebol feminino. Não se perdeu tudo e ganhou-se uma equipa para o futuro. Sem desculpa foi a eliminação da Alemanha, do Brasil e da Itália.

Portugal acreditou desde o primeiro minuto e colocou em sentido a seleção norte-americana, bicampeã mundial. Para vencer os Estados Unidos era necessário  um bom plano de jogo, estratégia correta e eficácia. A equipa das Quinas mostrou grande atitude, fez um jogo quase exemplar e só faltou o golo. A demonstração de qualidade do futebol feminino português levou a exigente imprensa americana a considerar um milagre o apuramento da sua seleção para os oitavos de final do Mundial.

A participação portuguesa começou com uma derrota (0-1) frente aos Países Baixos, depois venceu facilmente o Vietname (3-0) e, no último jogo, empatou com os Estados Unidos (0-0). Com quatro pontos, ficou em terceiro lugar no grupo e disse adeus ao Mundial. Aquilo que a seleção de Francisco Neto fez na fase de qualificação e depois nos playoffs de acesso ao Mundial deixa a certeza de que esta equipa joga para vencer em qualquer lado, e que vai fazer mais e melhor no futuro.

Em Auckland, na Nova Zelândia, os Estados Unidos, número um do ranking FIFA e vencedores de quatro dos oito mundiais realizados, defrontaram Portugal, mas em campo essa diferença nunca existiu. A seleção foi superior em todos os momentos do jogo, mas faltou, uma vez mais, eficácia, pois o talento, o trabalho e a dedicação estão lá. O remate ao poste de Ana Capeta, aos 92 minutos, gelou a América, e quase estragava a série da Netflix sobre a seleção norte-americana que está a ser rodada durante o Mundial. Ia ser bonito… O que não foi nada bonito foi o boicote ao hino por parte das jogadoras e equipa técnica dos EUA – ficaram em silêncio. A imprensa acusa a capitã Rapinoe de ser a responsável por essa absurda atitude. Até por isso é injusto continuarem no Mundial.

Portugal nunca teve uma atitude defensiva e mostrou mais qualidade técnica e caráter. Os EUA não estavam habituados a ser pressionados e viu-se o desconforto das americanas sempre que a seleção tomava conta do jogo. Quando a irrequieta Jéssica Silva arrancava em direção à baliza toda a defesa tremia. Portugal terminou o jogo com mais posse de bola (44% contra 38%), mais passes (415 contra 288) e demorava menos tempo a recuperar a bola (10 s contra 11 s).

Jéssica Silva estava desolada e, entre muitas lágrimas, desabafou: «Deixamos este Mundial com um sentimento amargo, sabíamos que tínhamos muito para dar nesta competição». E fez um pedido muito sério: «Olhem para nós, não se esqueçam de nós. Continuem a dar-nos a mão porque este grupo é incrível».

O jogo de Portugal com os Estados Unidos foi visto por mais de 1,3 milhões espetadores na RTP 1 (39% de share), o que confirma que as Navegadoras conquistaram os portugueses. Pouco tempo depois de aterrarem em Lisboa, as Navegadoras foram recebidas por Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém. «Jogaram melhor do que os Países Baixos, do que o Vietname e do que os Estados Unidos. Foram verdadeiramente excecionais», disse o Presidente da República, que sublinhou: «O país estava e está mobilizado. Vocês conquistaram o país. Os mais machistas dos machistas estão esmagados. Não faziam aquilo».

 

Favoritas, mas pouco

A fase de grupos foi bastante disputada e teve grandes surpresas no final. A última jornada foi desastrosa para o Brasil, Alemanha e Itália. A Jamaica empatou (0-0) com o Brasil e garantiu o apuramento sem sofrer golos. A eliminação da equipa canarinha representa também  o adeus de Marta, considerada a melhor jogadora do mundo por seis vezes. A Alemanha empatou (1-1) com a Coreia do Sul e foi para casa mais cedo. Ainda mais surpreendente foi a vitória da África do Sul frente à Itália (3-2), obtida nos descontos, o que significou a eliminação das italianas.

Os jogos dos oitavos de final são os seguintes: Suíça-Espanha, Japão-Noruega, Países Baixos-África do  Sul, Suécia-EUA, Inglaterra-Nigéria, Austrália-Dinamarca, Colômbia-Jamaica e França-Marrocos.