Mitificado empreendedorismo

Trabalhar para terceiros e contribuir de forma eficiente e dedicada também é uma forma valiosa de participar na sociedade e criar valor para si e para os outros.

Vivemos numa sociedade que frequentemente glorifica a liderança e o empreendedorismo como os caminhos supremos para o sucesso e a realização pessoal. No entanto, é importante questionar se esta cultura de promoção constante destas características tem levado muitas pessoas a serem infiéis à sua própria natureza, competências e gostos. Nem todos encaixam ou têm de encaixar no referido perfil, e é essencial compreender que existem caminhos igualmente valiosos e reconhecidos, que combinam as suas habilidades com o bem da comunidade e a estabilidade financeira.

 

Não há problema em não ser líder de um grupo ou em não ser aquele que toma a decisão final. Não me entenda mal, não há nada de errado em desenvolver e promover liderança, principalmente porque é uma competência em falta. Quero é sublinhar que trabalhar para terceiros e contribuir de forma eficiente e dedicada também é uma forma valiosa de participar na sociedade e criar valor para si e para os outros. Os caminhos que mais preenchem os indivíduos frequentemente surgem da combinação entre o que é útil à comunidade, as nossas capacidades e conhecimentos, e aquilo que gera um retorno e valor acrescido para todos os envolvidos.

 

Por exemplo, um canalizador ou um eletricista pode gerar mais riqueza e segurança com menor risco do que alguém que decide criar uma empresa. Estas profissões são essenciais para o funcionamento das nossas comunidades e, portanto, são altamente valorizadas e procuradas pelos serviços que oferecem.

Em contrapartida, trabalhadores freelancer são uma tendência crescente. Prestam o mesmo serviço para várias entidades, garantindo assim uma maior diversificação do risco e consequente proteção, além da autonomia que este tipo de trabalho lhes confere. Esta forma de trabalho é mais flexível e adaptável às necessidades do mercado, proporcionando uma abordagem mais equilibrada entre o bem-estar do trabalhador e as exigências das empresas.

 

Entretanto, não defendo que todos devemos cegamente perseguir as profissões mais necessitadas, tornando-nos todos carpinteiros, eletricistas ou canalizadores. Essas profissões, apesar de necessárias, podem não corresponder às nossas habilidades e paixões individuais. No entanto, a procura elevada por esses serviços é um indicador do mercado que deve ser levado em consideração ao ponderar sobre o nosso futuro profissional. Construir reputação, utilidade e rendimento pode ser mais fácil quando a procura pelos nossos serviços é alta.

Prefiro evitar que um indivíduo, qualquer que seja, enverede por caminhos que vão contra a nossa essência, apenas porque são enaltecidos pela sociedade. Em vez disso, defendo a necessidade de abraçar a nossa autenticidade, descobrir onde podemos contribuir melhor e encontrar um ponto de equilíbrio entre a utilidade para a comunidade, o que somos capazes de fazer, e o que nos apaixona verdadeiramente. Ao fazê-lo, poderemos encontrar caminhos igualmente valiosos e gratificantes, proporcionando um maior bem-estar para nós mesmos e para a sociedade como um todo.