por Carlos Moedas
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
A JMJ mais bem preparada». Estas foram as palavras do Papa Francisco no seu regresso ao Vaticano. Palavras que enchem a alma de todos nós: a minha, não só como presidente da Câmara Municipal de Lisboa mas também como simples cidadão que passou pelo maior desafio profissional da sua vida; e a alma dos trabalhadores da Câmara, das autoridades públicas, dos milhares de lisboetas e de portugueses que deram tudo para fazer desta Jornada a melhor de sempre.
Vivemos um momento único, de alegria inexplicável, com as ruas de Lisboa repletas de jovens de todo o mundo que transmitiam alegria por onde passavam, com as suas bandeiras de todos os países imagináveis cobrindo as nossas ruas de completa felicidade.
E o que é que me marcou durante esta semana única? Desde logo, saber que Lisboa foi capaz. Saber que fizemos desta JMJ um sucesso extraordinário. Mostrámos que somos capazes de organizar um evento histórico. Mas não só: mostrámos que somos uma cidade privilegiada por contar com o trabalho excecional dos serviços municipais, da proteção civil e polícia municipal, dos bombeiros, de voluntários e embaixadores, e também com todos os lisboetas que abriram os seus braços e corações aos jovens de todo o mundo.
Estive sempre confiante de que o evento seria um sucesso. Mesmo quando poucos acreditavam e diziam que não tínhamos capacidade, mesmo quando tive de dar o ‘peito às balas’ contra a avalanche de críticas. Depois desta efemeridade da espuma dos dias, ficou a audácia que nos fez superar todas as expectativas. Ficou uma cidade requalificada, mais verde e preparada para o futuro.
Em segundo, o retorno. Não só o retorno económico, mas principalmente o retorno humano. Vimos que a JMJ foi muito mais do que se esperava. Lembro-me de voltar a casa – já tarde, perto da 1h da manhã – e olhar pela janela: ainda havia peregrinos na rua a voltar do Parque Eduardo VII, a conversar, a cantar, a entreajudar-se, a viver com alegria… Naquele momento vi o que significava a JMJ: um oásis de paz num mundo em fricção, e esse oásis foi Lisboa.
Naqueles jovens vi um exemplo. Não imaginamos os sacrifícios que tantos fizeram para estar em Lisboa e ver o Papa, para sentir a ‘alegria missionária’ que aqui se viveu. Eles foram um exemplo porque não tiveram medo, porque escolheram o sonho em vez do medo. Foram símbolo da audácia de que tantas vezes falo, do pensar em grande, da busca do sonho e não do comodismo da inércia e da crítica vazia e fácil.
E, por último, a mensagem do Papa. A mensagem que deixou à Europa e que fez capa de jornais estrangeiros, e que, com coragem, deixou aos políticos portugueses. A forma como falou da «cultura de descarte» que deixa os nossos idosos ao abandono, e que tanto me preocupa. O seu convite para uma «Igreja de todos». E a sua exortação aos jovens, para que não se isolem nos ecrãs dos telemóveis e na artificialidade das redes sociais, mas que vivam concretamente.
Lisboa acolhe e agradece esta mensagem do Papa. Foi a cidade do sonho, que se abriu ao mundo e que dele acolheu a alegria e amor que transbordaram nas suas casas, ruas e avenidas. Aqui se reuniu a «juventude do Papa» e daqui saiu uma Geração Lisboa – uma geração marcada por Lisboa, que levará a cidade para sempre na sua memória e no seu coração.
É impossível que a cidade e o país fiquem iguais depois desta verdadeira manifestação de futuro. Só podemos sair da Jornada de peito aberto para o futuro, com toda a confiança. Fomos o mundo que queremos durante uma semana, e podemos ser a partir de hoje também a cidade e o país que queremos, todos os dias.
Tal como o Papa Francisco, também digo «obrigado, Lisboa, casa da fraternidade e cidade de sonhos». Obrigado a ti, que foste, és e poderás ser sempre muito mais do que imaginamos.