Quando, na quinta-feira, dia 3 agosto, o Papa Francisco se sentou no palco do Parque Eduardo VII, em Lisboa, para o seu primeiro encontro com os jovens peregrinos e voluntários da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), foi a voz de Mimi Froes a primeira que ecoou em todo o espaço. A música escolhida foi ‘Joyful, Joyful’ e a artista portuguesa atuou acompanhada pelo coro e pela orquestra da JMJ. Mas o que é que esse momento significou para a jovem cantora? Como foi ser a primeira e mais nova artista a cantar diante de uma das pessoas mais importantes e reconhecidas do mundo?
Desde pequena que tem uma relação próxima com a religião. Foi através da senhora evangélica que ajudava a sua mãe nas tarefas domésticas quando era pequena que ficou a conhecer melhor Deus. Mais tarde, quando a família foi viver temporariamente para casa da matriarca da família, Mimi percebeu a importância que a religião católica teria na sua vida. «Fiz parte de um movimento Mariano, Missão País, Campos de férias católicos. Fui-me informando bastante, tentado entender a teoria, tentando entender a doutrina», conta, admitindo que estes últimos dois anos, teve uma maior distância, «não deixando de se identificar como católica». «Acho que a única coisa que eu fui conseguindo manter ao longo do tempo foi a certeza da existência de Deus. Isso moveu-me, sempre me deu muita paz na terra», revela.
Partilhar o palco com Francisco
Interrogada como surgiu a oportunidade de cantar para o Papa Francisco, Mimi revela que foi a própria a contactar a organização da JMJ através de um email. «Enviei um email para perceber como é que eu poderia ser útil. Estava predisposta a dar a minha voz, a estar na sede a tratar dos artistas que iam cantar. Eu sabia que tinha de participar. Sentia isso… Um chamamento. Queria deixar à disposição daqueles que mandam, onde é que eu faria falta», detalha.
O convite inicial estava relacionado com o Festival da Juventude. Portanto, não era nos grandes eventos do Papa. «Pediram-me para organizar um concerto… Não me fazia sentido fazer um concerto, principalmente agora que estou a mudar os moldes porque vou lançar um novo disco», explica. Além disso, não estava a conseguir construir um concerto com pés e cabeça e a sua banda não é católica. «Não era fácil estar a pedir voluntariado a muita gente que não é católica. É super válido! Respondi que gostava imenso, mas que não estava a conseguir reunir as condições. Uma semana depois, ligaram-me a perguntar se gostaria de cantar no evento de Acolhimento, para o Papa. Eu fiquei incrédula», lembra.
Quando lhe fizeram o convite, a música já estava escolhida. «Esta espera, um bocadinho dramática, de mais um ano sem covid, deu uma sensação de soltura, num bom sentido. Eles queriam uma canção que representasse essa alegria. ‘Finalmente estamos aqui reunidos. Adiámos um ano, mas aqui estamos com o Papa!’. Acho que foi a escolha ideal», defende.
Ser a primeira a atuar, trouxe-lhe também uma maior responsabilidade. «Se eu ao menos pudesse ter sido a segunda, ter visto de fora como era e depois corria para o backstage e era a minha vez… Acho que isso me traria alguma calma. Mas isso acontece em tudo na vida, não é? Quando somos os primeiros a atirarmo-nos para o abismo, não sabemos o que é que está lá em baixo. Foi um bocadinho assustador nesse sentido. Ao mesmo tempo, é uma experiência que eu guardo para a vida também por essa razão. Gostava imenso de dizer que foi super ligeiro para mim, mas precisei de uma coragem para subir aquele palco», admitiu.
Relativamente à importância que isso teve, para si, a nível profissional, Mimi afirma que era muita gente. «Dizia aos meus pais com graça ontem: ‘Pronto, daqui já não se vai para lado nenhum!’. Cantei ao lado de uma das figuras mais importantes do mundo… Ao mesmo tempo, é uma sensação de cumprir uma missão. A música é útil e ainda bem que assim o é. Mas neste caso, a música era mesmo extremamente útil. Nós artistas que fomos servirmos as jornadas, fomos precisos e preciosos para as pessoas que nos estavam a ouvir. Como se a música fosse irmã e quisesse estar presente em cada um dos momentos», acredita. Além disso, cresceu com a ideia da falta de controlo (o seu álbum é inteiramente sobre isso). «Ali não há nada que nós possamos controlar. Tudo pode acontecer. Tinha uma parte que era improvisada. Eu estava super nervosa, mas depois disto, já posso improvisar onde quiser. Foi uma prova de fogo. Que isto me dê mais calma, nos meus projetos futuros, nas próximas vezes que subir ao palco», deseja. Como pessoa, não parava de pensar: «A minha avó está a ver-me!».
Sobre ter estado perto de Francisco, Mimi admitiu que quando o olhou ficou muito nervosa: «Só voltei a olhar para ele no final», acrescentou rindo. A cantora regressou ao Parque Eduardo VII como católica para a Via Sacra.
Interrogada sobre as polémicas que envolveram o evento, a artista admitiu não gostar de dar a sua opinião no que toca à política. «No entanto, posso dizer que acho que se toda a gente saísse à rua para testemunhar 5 minutos daquilo que aquilo era, entenderia a energia, a magnitude do evento. Tentarem entender o porquê de tudo isto. Da bondade do Estado em gastar este dinheiro, o porquê de se falar em retorno, em fé», remata.