Comer é coisa boa… todos gostamos de comer… mas alguns comem por obrigação e não têm prazer nenhum! Outros comem por prazer… saboreiam cada um dos elementos que colocam na boca… comem e deliciam-se e depois de terem comido sentam-se a olhar o horizonte a sentir no estômago o sabor de tudo o que comem… saciados que estão de tão boa comida!
Outros, os gordos, não se preocupam em saborear o que estão a comer, porque procuram, acima de tudo, preencher o seu nada, o buraco que sentem dentro de si. O objetivo do ato de comer é, apenas, e só, chegar à saciedade. O prazer de comer tem, então, diferentes dimensões para cada um. Poucos, porém, pensam no prazer que dá comer!
Já pensámos, por exemplo, alguma vez, no sabor que tem a água? Nenhum! Porém, beber um copo de água num momento de calor e de sede é algo que ultrapassa toda a saciedade de um bom prato de comida. Beber um copo de água em momento de sede muda, até, o sabor da própria água.
Comer e beber à pressa pode dar uma grande congestão e a verdade é que estamos muito habituados a fazer tudo à pressa… vejo, muitas vezes, em Lisboa, tantos homens e mulheres que comem a correr para irem a correr trabalhar. É uma correria, porque não há tempo para nada… nada… não há tempo para saborear o que a vida tem de bom, porque o prazer de comer também foi criado por Deus e, portanto, querido por Deus.
As Jornadas Mundiais da Juventude ainda não tinham acabado e já estávamos a pensar: e agora, Igreja, o que se segue?
Mas, como é que é? Ainda não saboreámos a beleza das celebrações, o espetáculo das danças e das músicas, a animação das palavras do Papa Francisco e já estamos a pensar no que vem a seguir? Será que não podemos, agora, viver um pouco da beleza que criámos? Não podemos parar e trazer à memória os maravilhosos momentos que os jovens nos proporcionaram? Não evitaremos, então, desta forma, uma congestão de pensamentos?
Realmente, vivemos numa sociedade tão técnica e tecnicista que não damos lugar à beleza e ao prazer de saborear os prazeres da vida. Fazemos depender o único prazer das nossas vidas nos três minutos que a sensualidade nos pode dar e nada mais importa!
A beleza abre-nos a mente e o coração e leva-nos a poder encontrar-nos com umas das coisas mais importantes da nossa vida: a paz! A beleza de ver milhares de jovens ordeiros que se juntam apenas para viverem na precariedade, dormindo em sacos de cama, no chão das escolas, a tomarem banhos de água fria, a comerem enlatados, mas a crescerem numa relação de amizade e de amor de uns com os outros.
No fundo, a maior beleza das Jornadas Mundiais da Juventude – e esta é a minha sétima jornada – está em experimentar que podemos todos ser muito felizes com tão pouca coisa. No fundo, não precisamos de ter assim tantas coisas no nosso dia-a-dia para sermos felizes. A nossa felicidade não está nos bens que possuímos, mas na beleza da vida em comum, no amor, que tem o poder de nos salvar.
Agora seria tempo de nos sentarmos a revivermos o que experimentámos. Seria tempo de vermos as fotografias que tirámos e de voltarmos ao YouTube a rever as celebrações e as palavras do Papa Francisco.
Este é o tempo de voltarmos à beleza das palavras e dos gestos, à beleza de nos sentirmos amados. Acredito que a Igreja precisa hoje mais do que pensamento. A Igreja precisa, mesmo, hoje, de momentos onde a beleza possa dizer aos corações o que as palavras não conseguem dizer. Por isso, acredito que não precisamos de grandes coisas nos próximos tempos, mas de, apenas, voltarmos a reunir-nos na comunhão, à volta da Palavra de Cristo, como nos dias daquelas Jornadas Mundiais da Juventude que mudaram ou mudarão a vida de tantos jovens.