Por Luís Paulino Pereira, Médico
Ao abordar este tema, vêm-me sempre à memória recordações dos meus tempos de estudante quando, nas aulas de Filosofia, se analisavam teorias sem se conseguir chegar a uma conclusão final.
Será o indivíduo a influenciar a sociedade ou é a sociedade que influencia o indivíduo?
A questão levanta muitas interrogações e não é fácil perceber de que lado está a razão.
Se todos nós formamos a sociedade, devíamos ser nós a definir as regras do seu funcionamento; mas não é isso que se passa: é a sociedade a impor-nos ‘modelos’ que temos de aceitar à viva-força, quer estejamos de acordo quer não.
Vivemos num mundo onde os valores se vão perdendo e as convicções deram lugar às conveniências. Tudo passou a ser normal. No fundo, deixou de se viver como se pensa, para se pensar como se vive. Num artigo publicado neste jornal há algum tempo, dizia-se que «a sociedade está doente» devido aos ‘sintomas’ que apresenta. Concordo plenamente. Basta olhar à nossa volta para se perceber que o panorama não é nada animador.
Fala-se cada vez mais em guerras, mísseis, bombardeamentos, numa escalada de violência que não para de aumentar; as notícias trazem-nos diariamente cenários de horror com atentados, destruições e mortes; os ataques à família sucedem-se das mais variadas formas, e o número dos que atentam contra a própria vida vai crescendo assustadoramente; as pessoas relacionam-se de forma cada vez mais superficial, pensando apenas nelas próprias, e servem-se umas das outras em função de interesses de ocasião.
É preciso salvar a sociedade. Se o diagnóstico está feito, há que passar ao tratamento. Com a minha experiência, destaco duas áreas prioritárias em que é necessário intervir: Saúde Mental e Família.
A saúde mental é uma especialidade de que muito se fala mas pouco se vê e quase nada se faz, apesar de ninguém duvidar da sua importância.
O número de suicídios entre nós devia merecer uma atenção especial da parte dos principais responsáveis. É uma situação grave, um vexame para a comunidade – que urge resolver. E como? Investindo na Saúde Mental, o que não tem acontecido até aqui. Fala-se (e bem) na prevenção das doenças oncológicas, vasculares, neurológicas, entre outras, e toda a gente aceita que um doente atingido por uma destas patologias corre o sério risco de perder a vida. Porém, todos acham muito ‘estranho’ e ‘difícil de compreender’ que alguém seja vítima de uma doença mental. Ora, esta pode ser tão ‘maligna’ como qualquer das outras.
É preciso apostar mesmo na área melindrosa da Saúde Mental, e os médicos de família devem estar sensibilizados e atentos a esta vertente ao avaliarem os doentes, chamando-lhes a atenção para a necessidade de serem acompanhados regularmente.
Quanto à Família, cujo tema já tem sido por mim abordado nestas colunas, citando José Carlos Nunes, «é na Família que a Paz começa», e muito do que a sociedade tem de pior deve-se precisamente à falta de família.
Investir na Família é prioritário, bem como na natalidade, onde Portugal é dos países com piores taxas. Os jovens queixam-se com frequência da falta de condições para adquirirem habitação e consequentemente para poderem ter filhos. Por isso, cada qual vive para seu lado, com ligações esporádicas sem responsabilidade – e assim a vida vai correndo, com o projeto de família sempre adiado e a desvanecer-se como uma miragem. Quando é que os nossos governantes decidem tomar medidas que se vejam de proteção e de incentivo às famílias? É urgente atuar, pois a situação tem vindo a piorar e os novos tempos não parecem trazer nada de bom.
E NÓS, como vamos responder? Deixamo-nos ir na onda ou vamos salvar a sociedade? Se queremos salvá-la, temos de saber dizer ‘não’ quando é preciso e resistir à tentação de ir atrás das modas do ‘politicamente correto’.
Se cada um de nós adotar uma postura sensata, conservando o sentido crítico e não se conformando com aquilo que esta sociedade decadente teima em impingir-nos, muita coisa pode mudar. Só depende de nós. Daí o meu apelo incondicional: vamos salvar a sociedade!