A história não é nova. No entanto, com o passar do tempo, parece não só estar a piorar, como também a alastrar-se. Em janeiro, o Nascer do SOL dava a conhecer as preocupações de alguns agricultores e caçadores do Litoral Alentejano relativamente ao aparecimento e aumento da população de javalis na região e em zonas desadequadas. Estes eram avistados não só em campos agrícolas – que acabavam por destruir e a matar o gado – como também no meio da cidade, causando medo à população de Vila Nova de Santo André. Já nessa altura se falava numa «situação insustentável», com um caçador a revelar que, há uns anos, numa noite, caçava um ou dois javalis, enquanto nos últimos dois anos chega, muitas vezes, aos sete. Recorde-se que, em maio, o Governo apresentou um plano no qual se constatou uma sobrepopulação destes animais a rondar os quatrocentos mil. E, pelo que se tem observado nas últimas semanas, a localidade pertencente ao concelho de Santiago do Cacém, continua a sofrer com a sua presença, que tem causado «danos severos».
Em busca de comida
Já se foi a luz do dia em Vila Nova de Santo André. É meia noite e os únicos sons que se ouvem são de grilos, rãs ou dos motores dos poucos carros que passam. Se nos mantivermos atentos, é possível, ao longe, ouvir o mar. Reina a paz e a tranquilidade. No entanto, para muitos dos moradores desta pequena cidade do litoral alentejano, as noites das últimas semanas têm sido de inquietação e receio, já que, deambulando pelas estradas, jardins e canteiros, se veem javalis em grupo, procurando comida e acabando por destruir os terrenos por onde passam.
«Nas primeiras vezes, há 5 ou 6 anos, aparecia um javali solitário no bairro horizonte, perto do grupo desportivo da Petrogal. Depois começaram a aparecer mais um ou dois… Há dois anos já víamos uma porca com três crias. Filmei-as com o telemóvel», lembra Carlos Teixeira, morador do Bairro do Pinhal, local onde os animais têm sido mais avistados este ano. Nos últimos meses a situação agravou-se. «Apareceram quatro crias ainda riscadas e parece-me que estão acompanhadas de duas porcas».
Segundo Valter Espada, um outro morador do bairro que também tem registado com o seu telemóvel estes «passeios noturnos», os animais têm medo dos humanos. «Vejo-os a passear, mas têm medo de nós. Os estragos maiores que se têm visto são apenas ao nível dos relvados, estão todos revirados. Acredito que sejam zonas frescas, já que são regadas à noite e têm muito alimento, nomeadamente minhocas», acredita. «Agora, que tem que ser feito um controlo da população de javalis, isso tem! Existem muitos nestes pinhais fora e são perigosos nas estradas… Causam acidentes, esse é o problema maior», lamenta. Para si, devem ser feitas mais caçadas programadas para controlo de população.
«Eles caçam comida cavando as gramas dos jardins públicos e também têm aparecido do nada na frente de carros em movimento como já aconteceu. Acaba por ser um grande perigo! Tenho uma amiga que capotou o carro nas Ademas quando se desviou de um», acrescentou Isabelly Pereira, que se mudou para a cidade há dois anos.
No entanto, segundo Teresa Pereira, apesar da população dizer «ter medo», é a primeira a «jogar alimentos para os bichos»: «Dizem ter medo mas quando eles aparecem vão atrás deles com os carros, a pé… Quer dizer, são os próprios a criar possíveis situações perigosas com os animais», lamentou. Para si, esta situação já se arrasta há demasiado tempo e já deviam ter sido tomadas medidas para mitigar o problema. «Alguém tem de fazer alguma coisa. Queremos passear os nossos cães tranquilamente, os nossos filhos querem brincar nos bairros à noite. Isto tem de acabar», frisa a moradora da cidade.
Mitigar o problema
«Isto é sazonal, mas nós tivemos este problema com maior incidência em outubro/novembro de 2022. Seguiram-se meses de acalmia e agora temo-los visto nas últimas semanas», esclarece David Gorgulho, Presidente da Junta de Vila Nova de Santo André. «A população de javalis está descontrolada. Há realmente um descontrolo… Esse é um dos principais problemas», assegurou. Segundo o governante, os animais chegam em busca de uma minhoca presente nos espaços verdes. «Temos muitos espaços verdes aqui… Eles circulam nas imediações e têm um faro apuradíssimo», acrescentou, afirmando que os animais só são perigosos se se sentirem ameaçados na presença das crias. «Aí a mãe natureza trabalha… Uma mãe protege as suas crias, não é?», interrogou o Presidente da Junta, explicando que os maiores problemas são ao nível do espaço público e dos acidentes rodoviários. «Isto está a acontecer no país todo», apontou. Interrogado sobre as medidas que serão implementadas para mitigar o problema, David Gorgulho revela que a Junta de Freguesia expressou imediatamente a preocupação à Câmara Municipal de Santiago do Cacém que, por sua vez, contactou o ICNF no sentido de em conjunto conseguirmos tomar medidas que acabem com o problema. «O que ficou combinado foi: primeiro, a Câmara Municipal – e já está a tratar disso – vai colocar alimentação em algumas zonas estratégicas pegando nos caminhos que eles fazem para chegar aqui; segundo, devidamente autorizado pelo ICNF, também em zonas escolhidas com crité