Romper

Alguém que sempre trabalhou num escritório e decide participar num workshop de carpintaria, irá desenvolver habilidades manuais que antes eram inexistentes.

Vivemos numa era marcada pela facilidade de acesso à informação e pela comodidade oferecida pela tecnologia. Frequentemente encontramo-nos enclausurados nesta “zona de conforto”, onde preferimos evitar o confronto com opiniões divergentes das nossas, ou mesmo ter novas experiências. Acredito ser fundamental procurar romper com a zona de conforto. Fora dela reside o ponto rebuçado do desenvolvimento de competências e, principalmente, do pensamento crítico, fator importante para a promoção de uma sociedade mais tolerante, mais coesa e menos polarizada.

 

Creio que o desenvolvimento de novas competências acontece (não exclusivamente) quando enfrentamos situações diferentes e desafiantes. As hard skills (competências técnicas e conhecimentos específicos) são frequentemente adquiridas ao enfrentar novos contextos. Por exemplo, alguém que sempre trabalhou num escritório e decide participar num workshop de carpintaria, irá desenvolver habilidades manuais que antes eram inexistentes. As soft skills, por sua vez, como a comunicação, empatia e trabalho em equipa, também se desenvolvem com a exposição a diferentes ambientes. Se alguém naturalmente tímido, que combate o impulso de se expor, se voluntaria para colaborar com uma organização social (seja de que ordem for), terá a oportunidade de interagir com um grupo diversificado de pessoas tal, que fará com que aprimore as suas competências interpessoais.

 

A falta de diversidade nas experiências pessoais pode resultar na polarização das opiniões políticas e sociais. Quando nos limitamos a ambientes onde todos pensam de maneira semelhante, ficamos menos propensos a considerar perspetivas diferentes. Como resultado, as divergências são exacerbadas, dificultando o diálogo construtivo. Por exemplo, se um indivíduo apenas consome informação de fontes alinhadas com suas opiniões políticas, torna-se menos aberto a compreender o ponto de vista de outros espetros ideológicos.

 

As redes sociais, muitas vezes alimentadas por algoritmos de recomendação, têm um papel significativo na ampliação ou limitação das nossas perspetivas. Essas plataformas tendem a apresentar conteúdo semelhante ao que já gostamos, criando uma bolha de informação que nos expõe a visões incompletas do mundo. Se alguém possui interesse por tópicos ambientais, por exemplo, verá predominantemente conteúdo relacionado a essa temática, privando-se de debates importantes noutras temáticas. Isso resulta numa menor tolerância a opiniões divergentes, pois raramente somos confrontados com elas.

É crucial sair da zona de conforto e explorar uma gama diversificada de experiências. Ao fazê-lo, enriquecemos nosso conjunto de habilidades, tornando-nos mais versáteis e adaptáveis. Além disso, promovemos a coesão social ao nos expormos a diferentes perspetivas, reduzindo a polarização das opiniões. As redes sociais, embora tenham vantagens, devem ser consumidas com cautela, pois podem contribuir para a limitação de perspetivas. É tempo de abraçar o desconhecido, expandir horizontes e construir uma sociedade mais unida e tolerante.