Por Nuno Melo
Em algumas urgências do SNS, há doentes prioritários com pulseira amarela que aguardam por um tempo médio de perto de 10 horas, antes de serem atendidos. Há dias, um idoso morreu depois de horas de espera com a anca partida e necessariamente com dores.
Pressionados por condições indignas e salários ridículos, para quem desempenha funções altamente especializadas e de enorme responsabilidade, por lidarem com a vida dos outros, os profissionais de saúde têm sido conduzidos para a inevitabilidade de greves, que nunca desejaram no SNS.
Na escola pública os professores revezam-se nas ruas em protesto, em vez de concentrados a ensinar, como gostariam. mobilizados por reivindicações justas a que a tutela não dá resposta.
Atualmente, os hospitais privados são muito mais apelativos para os profissionais de saúde, e são procurados mesmo por famílias de baixos recursos, que não encontram respostas capazes no SNS.
Por seu lado, as escolas do setor privado estão invariavelmente no topo de todos os rankings, nas sem capacidade de acesso aos mais pobres, porque o socialismo extinguiu os contratos de associação que lhes davam essa possibilidade democrática.
Seria muito fácil multiplicar exemplos deprimentes da falência das ofertas do Estado, necessárias para que ninguém fique de fora, a par e do crescimento da qualidade e da eficácia no setor privado. Para o que importa, a conclusão irónica que indiscutivelmente se tem de retirar, é que poucas vezes como desde 2015 Portugal contou com uma esquerda tão ideologicamente preconceituosa, hostil à iniciativa privada e carregada de dogmas na abordagem do mercado, alcançando como principal resultado do disparate o definhamento trágico das ofertas públicas que diz querer defender, relativamente ao crescimento do setor privado.
Atirando socialismo para cima dos problemas, o Governo conseguiu a brilhante marca de valores recorde de dívida pública, despesa pública e carga fiscal, reduzindo mesmo assim a qualidade e a eficácia dos serviços públicos, num paradoxo digno de caso de estudo. Para desgraça coletiva, António Costa tenta crescer nas urnas, enquanto arruína o país, pensando nas próximas eleições, em vez de se motivar com o futuro das próximas gerações, como seria suposto em líderes dignos desse nome.
Os jovens, aliás, são talvez o custo de oportunidade mais implacável desta falta de visão.
Esta semana foi notícia que Portugal é o segundo país europeu a pagar pior aos jovens, apenas ultrapassado pela Grécia. E no exato oposto do que deve ser o normal funcionamento de um elevador social, a classe média vem minguando em número e nos rendimentos e são cada vez mais os jovens que procuram fora de fronteiras outras oportunidades. Também aqui, a razão é encontrada com facilidade na apropriação abusiva do esforço dos outros, pela voracidade tributária do socialismo.
Qualquer empregador que queira aumentar salários, é confrontado com um encargo totalmente desproporcionado, ponderado o beneficio para o trabalhador e aquilo que o Estado confisca. Para um salário bruto de 2000 euros, uma empresa abre mão de 2475 euros, ficando o Estado com 45% (1113 euros) e o trabalhador somente com 55% (1362 euros). Por cada 100 euros gastos, o socialismo retém 45 euros e muitas vezes os aumentos implicam alterações de escalões que os trabalhadores não desejam, perpetuando um modelo económico errado que assenta em salários baixos.
Em vez de promover o crescimento dos rendimentos das famílias e das empresas, reduzindo a carga fiscal, o PS investe no aumento das dependências, distribuindo as migalhas, com que a pretexto da bondade assistencialista combate as dificuldades que gera e injustamente angaria votos. O resultado é um país cada vez mais pobre e mais desigual, caminhando inexoravelmente para o fundo da lista dos países mais pobres da UE.
Paradoxalmente, os portugueses encontram hoje muito mais razões para trabalharem fora do país, do que durante o difícil período em que o PSD e o CDS no governo foram chamados a ultrapassar a bancarrota legada pelo PS liderado por José Sócrates, com António Costa a bordo parte do tempo e muitos dos atuais governantes também. Para lá do falso mito urbano, de que nos tempos da dolorosa intervenção externa alguém quis que os jovens emigrassem, ainda escutaremos outra vez, perante os fracassos do PS, que a culpa é do Passos Coelho e do Paulo Portas.