O cartaz Raúl Castro

O sósia de Raúl Castro, visivelmente emocionado com a proximidade do primeiro-ministro, representa a guinada ideológica para o marxismo dada pelo Governo nos últimos anos.

Por João Cerqueira 

O novo cartaz do PS ‘Governar a Pensar nas Pessoas’ com António Costa diante de um sósia de Raúl Castro é o símbolo perfeito do programa e das intenções do Governo socialista. O sósia de Raúl Castro, visivelmente emocionado com a proximidade do primeiro-ministro, representa a guinada ideológica para o marxismo dada pelo Governo nos últimos anos. A nacionalização da TAP, o ataque ao alojamento local, a lei das rendas e o pacote Mais Habitação são medidas contra o sistema de mercado e dignas de um país comunista que tanto Raúl como Fidel Castro aprovariam. É até provável que no instante em que a fotografia foi tirada, António Costa esteja a dizer ao sósia de Raúl Castro: «A história absolver-me-á».

 

Porém, para lá das analogias cubanas, o cartaz mostra qual o verdadeiro projeto político do governo socialista: vencer as eleições com o voto dos pensionistas. Tendo Portugal quase 3,6 milhões de pensionistas, cerca de 36% da população, e tendendo a crescer o número de abstencionistas nas eleições, o governo de António Costa descobriu a fórmula mágica não apenas para as ganhar, mas até para se perpetuar no poder à moda do PRI mexicano. Basta aumentar as pensões uns meses antes das eleições. Não é preciso governar, aliás é até altamente desaconselhável fazer grandes alterações no modo de vida dos portugueses, é mesmo proibitivo fazer a mais insignificante das reformas ou seja lá o que for destinado a produzir resultados a médio e longo prazo. Os pensionistas preferem o curto prazo. 

Além disso, o aumento das pensões antes da eleição decisiva, por mais mísero que seja, tem ainda o condão de fazer esquecer as trapalhadas, os escândalos e os casos de corrupção que durante os anos anteriores indignaram os cidadãos de todas as idades. Um aumento de cinco euros numa pensão pode até obliterar o raciocínio de que se os biliões de euros desperdiçados na TAP fossem distribuídos por esses mesmos pensionistas e investidos no Sistema Nacional de Saúde, estes passariam a ter um nível de vida semelhante aos reformados alemães.

Nos livros de Jorge Amado é descrito como os caciques nordestinos se perpetuavam no poder distribuindo feijão e cachaça pelos pobres para assim ganharem o seu voto. Em Portugal, o feijão e a cachaça chamam-se aumento das pensões na altura certa.

É claro que a maioria dos pensionistas sabe que está a ser manipulada com aumentos poucochinhos que não os resgatam da pobreza. É então que entram a serviço os profetas da desgraça neoliberal, como sucedeu nas penúltimas eleições quando as sondagens começaram indicar que o PSD de Rui Rio poderia ganhar. Os profetas da desgraça neoliberal desempenham o seguinte papel: assustar os pensionistas com a vinda do homem do saco neoliberal, ou seja um governo PSD, que lhes vai cortar fatalmente as pensões. E como o medo é uma das mais poderosas emoções humanas, atuando nos recônditos primitivos do cérebro que regulam o instinto de sobrevivência, os profetas da desgraça neoliberal laranjinha, por muito que os líderes laranjinhas neguem tal intenção ou tentem explicar que os cortes da troika resultaram de um desgoverno socialista, conseguem sempre aterrorizar os pensionistas. E estes, ainda que não muito convencidos, ou mesmo tendo a sensação de estarem a ser enganados, voltam a votar em quem lhe paga.

 

Portanto, antes que Portugal se transforme numa Cuba europeia e comecemos a ver cartazes com o próprio Fidel Castro em todo lado, na impossibilidade cognitiva de contrariar os profetas da desgraça, resta aos dirigentes laranjinhas combater a propaganda socialista no mesmo território e com as mesmas armas. Ou seja, convencem aqueles médicos cubanos que estão em Portugal a ganhar mais de 4000 euros, mas que na verdade só recebem 20% do salário, ficando o governo cubano com o resto, a explicar aos pensionistas a quem derem consultas que o projeto cubano de justiça social e proteção dos idosos só gerou miséria – com os seus filhos e os seus netos a fugirem do país.