A ideia de conectar Sintra a Colares e, depois, à Praia das Maçãs através de um elétrico surgiu em 1886. No entanto, várias tentativas fracassaram ao longo dos anos. Apenas em novembro de 1898, Nunes de Carvalho e Emídio Pinheiro Borges receberam uma concessão de 99 anos da Câmara Municipal de Sintra para construir e operar um caminho de ferro a vapor entre Sintra e a Praia das Maçãs, que mais tarde foi convertido para tração elétrica.
Como é explicado na plataforma ‘Visit Sintra’, a Companhia do Caminho de Ferro de Cintra à Praia das Maçãs foi formada em julho de 1900, que mais tarde em 1904 se tornou a Companhia Cintra ao Oceano. A construção começou em agosto de 1902, e em março de 1903, foram encomendados 13 elétricos à empresa americana J. G. Brill Company.
Em março de 1904, o primeiro trecho da linha foi inaugurado entre Sintra (Vila Velha) e São Sebastião de Colares, com cerca de 8,900 metros. Em julho do ano seguinte, a linha foi estendida até à Praia das Maçãs, totalizando 3,785 metros.
Ao longo dos anos, os elétricos enfrentaram desafios, e em 1914, a Companhia Sintra-Atlântico substituiu a empresa anterior que havia falido. A expansão continuou, e em janeiro de 1930, os elétricos chegaram à vila das Azenhas do Mar, alcançando um comprimento total de 14,600 metros.
No entanto, a partir dos anos 40, a popularidade dos elétricos começou a declinar devido ao desenvolvimento dos transportes motorizados. A partir de 1953, eles só funcionavam no verão, e em 1955, o trecho entre a Praia das Maçãs e Azenhas do Mar foi fechado. Em 1958, o trecho entre Vila Velha e a Estação de Sintra também foi fechado.
Apesar disso, os elétricos continuaram a ser uma atração turística, operando apenas durante o verão entre Sintra (Estação) e a Praia das Maçãs. Em 1967, a Sintra-Atlântico foi adquirida por um grupo de camionagem, o que levou a um declínio ainda maior dos investimentos e da infraestrutura.
Os elétricos operaram pela última vez até Sintra em 1974. Em julho de 1975, foram substituídos por autocarros. No entanto, a vontade de trazer de volta os elétricos permaneceu e, em 1980, a circulação foi reiniciada entre Banzão (Colares) e a praia. Nos anos seguintes, mais trechos foram recuperados, e em 2004, no centenário da linha, os elétricos regressaram a Sintra.
«Lembro-me bem de ir à praia, com os meus avós e irmãos, nos anos 80, quando era pequena. Sair de Lisboa já era bom, mas andar de comboio e elétrico tinha outra magia», sublinha Cátia Silva, hoje com 46 anos. «Acho que, hoje em dia, os miúdos já não sabem bem o que é andar nos meios de transporte, ver tantas pessoas, comer um gelado aqui e acolá… Tenho muitas saudades da minha infância e, sem dúvida, a Praia das Maçãs faz parte das minhas melhores recordações!».
Mas há vilas e freguesias que vão ainda mais longe e criam comboios turísticos de praia. Por exemplo, segundo o ‘Lisbon Beaches Guide’, o Transpraia era um serviço sazonal de comboio turístico que começou a operar em 1960. Conectava o centro da cidade da Costa da Caparica à Praia da Fonte da Telha, parando em várias praias ao longo da costa. Antes da construção de estradas e estacionamentos próximos às praias, esse pequeno comboio a diesel composto por três carruagens com bancos de madeira era a única maneira de ter acesso às praias. O comboio percorria nove quilômetros ao longo das dunas em trilhos especialmente colocados para esse fim.
Inicialmente, o Transpraia – funcionava de junho a setembro – tinha um total de vinte e duas paragens. No entanto, em 2007, o percurso foi encurtado em cerca de um quilómetro. Antes de ter sido interrompido, o serviço começava perto da Praia Nova, próximo da rotunda no final da Avenida General Humberto Delgado. Tal fica a uma distância de aproximadamente dez a quinze minutos a pé do terminal de autocarros e do centro da cidade. É interessante notar que, apesar da mudança no percurso, os números originais das paragens foram mantidos. Portanto, a primeira paragem (na Praia da Saúde) ainda era indicada como a quarta paragem de acordo com as placas.
À semelhança da Costa da Caparica – cujo comboio «parou em 2020 devido à pandemia, a problemas financeiros e a uma falta de entendimento entre o empresário e a Câmara de Almada», como noticiou o Público –, também Odeceixe tem um comboio turístico, que marca presença no verão há quase vinte anos. Contudo, teve a atividade interrompida devido à pandemia, tal como o primeiro, mas sabe-se que a mesma foi retomada em julho do ano passado. «Quem vê o comboio verde e amarelo passar, fica logo com outra disposição! Seja com portugueses ou estrangeiros, é uma maravilha vê-lo circular. Pelo menos, eu acho», diz Maria Costa, de 68 anos, natural daquela freguesia do município de Aljezur. «Espero continuar a vê-lo por muitos mais verões. Significa que continuo cá e que a minha freguesia não pára, continua a apostar na tradição!», conclui.