por João Sena
A cada convocatória da seleção nacional, as escolhas do treinador provocam sempre algum ruído. É assim há mais de 100 anos, quando Portugal fez o primeiro jogo internacional. Para a dupla jornada frente à Eslováquia e Luxemburgo, Roberto Martínez escolheu 24 jogadores, havendo a registar o regresso de Pedro Neto e as ausências de Pepe, Raphael Guerreiro, Nuno Mendes e Renato Sanches devido a lesão, jogadores que poderiam integrar a convocatória, pelo menos o selecionador falou neles. Estão também convocados João Félix e João Cancelo, que já tinham feito parte de anteriores convocatórias, mas ainda não tinham jogado esta temporada, fizeram os primeiros minutos este fim de semana no Barcelona.
Felizmente, há cada vez mais os jogadores com potencial para serem chamados à seleção nacional, e há também uma regra básica que é convocar aqueles que estão em melhor forma para defender as cores nacionais. Só que desta vez a regra foi quebrada em nome da unidade de grupo e do trabalho que tinha sido feito antes. “Acho que é um momento muito importante para nós, para apoiarmos jogadores como João Cancelo ou João Félix e valorizarmos o trabalho que fizeram nos últimos estágios”, justificou Roberto Martínez, que explicou: “É muito importante para mim trabalhar com consistência. O trabalho na seleção precisa de tempo, não é juntar jogadores para um jogo. Neste estágio é mais importante o trabalho dos últimos dois e não tanto o momento dos jogadores”. Esperemos que resulte.
Há dois jogadores que têm estado em destaque na liga portuguesa, caso de Paulinho, marcou quatro golos em três jogos, e de Bruma, um dos principais responsáveis pelo apuramento do Braga para a Liga dos Campeões, e que ficaram de fora da convocatória. Sobre o jogador do Sporting, Roberto Martínez disse: “Gostei muito do começo de Liga do Paulinho. É um jogador de área, um finalizador, mas temos dois pontas de lança [Cristiano Ronaldo e Gonçalo Ramos]. A competitividade neste nível faz com que seja muito difícil ter uma oportunidade”.
A convocatória não caiu bem na equipa técnica e no balneário do Sporting. Rúben Amorim deixou bem claro a sua posição. “A seleção não deve ser para ajudar jogadores que estão em momentos maus, nem para dar prémios aos que estão em bom momento. Os melhores devem ir. É um momento-chave na carreira e todos gostam de ir à seleção”, disse o treinador dos leões, que adiantou que “muitos jogadores do Sporting podiam ter sido convocados há algum tempo. Não foram, têm de continuar a trabalhar sem stress e sem fazer caso disso”, concluiu.
Catio Baldé, empresário de Bruma, não poupou críticas a Roberto Martínez: “Neste momento, o Bruma e o Paulinho são os dois melhores jogadores neste início de campeonato. Como bem diz o Rúben Amorim, a seleção não é lugar para recuperar e ajudar psicologicamente os jogadores ou casa da Misericórdia”.
Depois de falar da seleção, Roberto Martínez abordou também o caso Luis Rubiales, dizendo que “precisamos de ter uma conduta exemplar e isso não aconteceu”. Quanto à candidatura à organização do Campeonato do Mundo em 2030, referiu que “a candidatura ibérica é um processo que tem muito trabalho e está acima de qualquer pessoa. A candidatura está num momento muito forte e esperamos que tenha sucesso”.
Surgem as dificuldades
As primeiras quatro jornadas foram um passeio para a seleção das quinas que defrontou e venceu a Bósnia-Hezgovina, Liechtenstein e Islândia, mas o grau de dificuldade vai aumentar com os próximos dois adversários, a Eslováquia, dia 8 de setembro, em Bratislava, e o Luxemburgo, dia 11 de setembro, no Estádio do Algarve. Portugal lidera o grupo com 12 pontos, seguido da Eslováquia com 10 e do Luxemburgo com sete pontos. Os dois primeiros classificados garantem o apuramento para o Euro 2024.
Mesmo sem fazer grandes exibições, Portugal é uma das quatro equipas, entre 48 participantes, que venceu todos os jogos da fase de apuramento, marcou 14 golos, não sofreu nenhum, e tem, em média, 70% de posse de bola. Números impressionantes a que só falta a “nota artística”. Terá um teste complicado frente à Eslováquia, que ainda não perdeu (três vitórias e um empate, tem cinco golos marcados e um sofrido) e ambiciona disputar o seu terceiro europeu consecutivo. O histórico é muito favorável à equipa portuguesa, com três vitórias e um empate em quatro jogos de qualificação, com sete golos marcados e apenas um sofrido.
O selecionador fez questão de frisar que “o jogo em Bratislava será essencial para nós, precisamos de estar ao máximo nível para mostrarmos a nossa forma de jogar. A Eslováquia está invicta e o seu treinador tem uma ideia de jogo clara. É uma equipa experiente, está muito bem trabalhada e estruturada e conta com jogadores com uma mentalidade vencedora como Skriniar e Lobotka”, disse o técnico nacional, que lembrou “o apuramento para um Europeu tem seis jogos e todos são muito importantes”. No dia 11, Portugal recebe o Luxemburgo, que tem duas vitórias, um empate e uma derrota, quatro golos marcados e seis sofridos. O histórico é claramente favorável às cores nacionais, com 18 vitórias, um empate e uma derrota.
Quem também quererá continuar a mostrar serviço é a França, venceu todos os jogos e não sofreu qualquer golo, e a Inglaterra, a equipa mais concretizadora até ao momento com 15 golos marcados. As duas seleções lideram destacadas os respetivos grupos. A atual campeã europeia, Itália, começou mal a fase de apuramento ao perder em casa com a Inglaterra, foi a desforra dos ingleses que tinham sido derrotados pelos italianos na final do último Europeu, em Wembley. Também a Espanha, vencedora da Liga das Nações, entrou mal nesta competição com a surpreendente derrota na Escócia e agora está obrigada a vencer todos os jogos.
Depois de disputadas as quatro primeiras jornadas da fase de apuramento para o Europeu, que se realiza na Alemanha no próximo ano, o dinamarquês Hojlund e o belga Lukaku são os melhores marcadores com seis golos, Cristiano Ronaldo aparece logo a seguir com cinco golos.