por João Cerqueira
Segundo a comunicação social, o PS prepara-se para substituir Augusto Santos Silva por Mário Centeno como candidato socialista a Presidente da República. Depois de anos numa empolgante campanha pessoal para dar nas vistas e mostrar ao povo que é o homem mais bem preparado para substituir Marcelo Rebelo de Sousa, Santos Silva vê-se agora abandonado pelo seu partido. Parece que nas sondagens para o cargo ficava atrás do Almirante das vacinas, de Marques Comentador Mendes e do rato Mickey – e o PS ainda teme mais as sondagens do que os banqueiros alemães temem Pedro Nuno Santos.
Seja como for, isto não se faz a um homem com as credenciais democráticas como Santos Silva.
Desde a adolescência que Santos Silva sentiu o chamamento da democracia militando em grupos de extrema-esquerda que lutaram ativamente para acabar com a farsa da democracia burguesa e o embuste das eleições livres. Nessa altura, quando estava na Liga Comunista Internacionalista, Santos Silva defendia a nacionalização da economia, a saída da NATO, o controle dos meios de comunicação, a criação de uma milícia operária armada para defesa da revolução e outros medidas musculadas para combater as força reacionárias – entre as quais a LCI incluía o PS. Mais tarde, apoiou a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho a Presidente da República – outro grande democrata que defendeu e praticou medidas de combate à Reação ainda mais extremas. Depois passa pelo Movimento de Esquerda Socialista e, finalmente, adere o Partido Socialista.
E é nesta fase da sua carreira política que Santos Silva recupera a fogosidade revolucionária da juventude ao tornar-se num dos mais aguerridos defensores do Primeiro Ministro José Sócrates, que o nomeou duas vezes ministro. Se Thomas Huxley se considerava o Buldogue de Darwin, Santos Silva poderia ter-se intitulado o Pitbull de Sócrates. Ai de quem pusesse em causa a integridade do primeiro-ministro, ou sequer duvidasse do seu projeto político. Imediatamente Santos Silva abria as mandíbulas e trucidava-o.
Naturalmente, Santos Silva não fazia a menor ideia da vida dupla de Sócrates, das ligações ao BES e do apartamento de Paris, e ter sido enganado dessa maneira faz dele a principal vítima do caso Sócrates. Ele representa a ingenuidade e a boa fé que, infelizmente, rareiam na política. Assim como Chamberlain foi iludido por Hitler, Santos Silva foi iludido por Sócrates. Infelizmente, os portugueses, tal como os ingleses, não parecem valorizar as almas puras e os crédulos. Afinal, desde que Salomão os criticou na Bíblia – «O prudente vê o mal e esconde-se; mas os ingénuos seguem em frente e sofrem as consequências», Provérbios 27:12 – que as carreiras políticas não combinam com a ingenuidade.
É certo que o sorriso de Santos Silva faz Boris Karloff parecer o Ken da Barbie, mas, ainda assim, a desfeita do PS é cruel. O que pode então fazer Santos Silva para não ser atirado para o caixote do lixo dos políticos falhados?
Poderia imitar o deputado do PSD Luís Gomes que fez um dueto romântico com Ana Rita Cavaco e juntar-se a Pedro Mafama para juntos cantarem o Olarilolé no Preço Certo e nas romarias populares? Subiria logo nas sondagens. O problema é que Pedro Mafama não é ingénuo, não almeja cargos políticos e está muito melhor acompanhado por Ana Moura.
Poderia imitar Rubiales e beijar, não Jeni Hermoso, mas sim André Ventura? Um beijo de Judas, obviamente, apenas de raspão na face e com cuspidela sequente, para o indicar ao povo português como o agitador fascista que sonha com o regresso do Estado Novo? Seria uma boa ideia, sobretudo se Ventura protestasse que o beijo não fora consentido. O problema é que se algum deles se aproximasse do outro um metro que fosse, antes do beijo haveria chapada.
Poderia imitar o Presidente da República e ir para a praia trocar de cuecas? Talvez, noutro país. Cá, infelizmente para Santos Silva, as praias estão cheias de rapagões musculados e meninas com o rabo à mostra e, como tal, ninguém lhe iria ligar peva.
Como tal, não havendo mais nenhuma opção para Santos Silva recuperar nas sondagens e voltar a ser o candidato socialista, resta-lhe meditar nos conselhos de Salomão, passear pelas praias (com uns calções decentes) e trautear o Olarilolé no chuveiro.