“Brilharás”: A Ala dos Namorados ataca ao anoitecer!

“Vão encontrar um som renovado», diz Nuno Guerreiro. «Teremos muitas das nossas músicas mais clássicas à mistura com outras do novo álbum», diz João Gil. A Ala dos Namorados está de volta: daqui a uma semana (dia 8), às 21h, no auditório Emílio Rui Vilar, na Culturgest, depois no Casino de Espinho (dia 29). Comemorando…

Um som inconfundível, digo eu, que na verdade não percebo grande coisa de música senão ter o sossego e a paz para ouvi-la quando gosto. Gosto do que o João Gil, meu querido irmão, faz há anos e anos; gosto da voz fantástica de Nuno Guerreiro. Recordo os êxitos de os escutar, de tentar imitá-los numa guitarra de cordas de nylon que tem tantos anos como a Ala dos Namorados, acreditam vocês que estão a comemorar trinta anos de existência?! Que remédio se não acreditar porque o tempo não perdoa nem volta para trás. Confirma-se a velha teoria de que os dias podem passar devagar mas que os anos, esses, passam a correr. E assim, na próxima semana, na Culturgest, no auditório Emílio Rui Vilar, pelas 21h, que é a hora do anoitecer neste Verão que está a caminho do fim, dia 8 de Setembro, a Ala dos Namorados volta a atacar. «Que pode esperar o público deste concerto?», responde o Nuno Guerreiro repetindo a minha pergunta: «Um som renovado. Canções novas, muita coisa que pode surpreender mas, ao mesmo tempo, recua ao passado da música que fomos fazendo». Eles estão aí! ‘Brilhará’ é o título do novo álbum. «Diria que é algo de mais franco, com uma luz também ela nova, diferente», conta o Nuno. Além dele e do João, Rúben Alves no piano, Alexandre Frazão na bateria, Nelson Cascais no contrabaixo e Luís Cunha no trompete. Equipa de luxo. Que não se chama Ala dos Namorados por acaso. «Da primeira vez que nos juntámos», vai desfiando o João Gil, «tínhamos vários nomes para escolher mas acabámos de estar todos de acordo em relação a este. Tem história. Essa pergunta de querer saber quem inventou o nome é boa. Deixa-me cá pensar. Acho que foi o António Pinho, da Banda do Casaco, que o sugeriu. Ala dos Namorados é romântico. Liga a terra ao mar. Liga-nos à História de Portugal e a um movimento de revolta e de independência».

Lugar de Aljubarrota, junto à Batalha e ao mosteiro, ano de 1385, dia 14 de Agosto. Não, não se combateria à sombra como os 300 da Batalha das Termópilas. Combater-se-ia ao sol inclemente de uma terra que abria brechas de secura. Chefiado por D. Nuno Álvares Pereira, o exército defendia a independência de Portugal colocada em perigo por Castela. Estávamos em minoria, como sempre. Em soldados e em armas. Mas tínhamos a favor o génio militar da estratégia. A Técnica do Quadrado. Uma linha de soldados à frente para os castelhanos pensarem que estavam em vantagem e que não era preciso muito esforço e quando estavam mais fracos, com menos armas, foram rodeados de soldados portugueses. Um dos lados deste quadrado era formado pela Ala dos Namorados. Chamava-se assim porque era constituída por soldados mais jovens que combatiam por Portugal mas também pelas suas damas, por quem estavam enamorados. Era comandada por Mem Rodrigues de Vasconcelos e pelo seu irmão Rui Mendes, sendo identificada por uma grande bandeira verde; teria aproximadamente 400 besteiros, 200 lanças e 650 homens a pé… Como é linda a História deste país que teima em ser aquilo que o mar não quer, como dizia o poeta Ruy Belo, também ele tão injustamente esquecido.

Para continuar!

«Encontrámos no nome muito de heroico e também de trágico», continua o João Gil. «Fizemos disso um vínculo ao fado  também. Experiência geodésica. Ligação entre Lisboa e o interior, entre as cidades do litoral, como Porto e Aveiro, ao país que fica para leste. Para a Beira Interior, de onde sou natural». Regressam ao anoitecer do próximo dia 8 de Setembro mas regressam para ficar. «Temos gente diferente da composição inicial da banda mas estamos de volta para continuar, não nos vamos reduzir a um álbum que comemora os nossos trinta anos de vida, vamos tocar em mais sítios, vamos continuar a gravar novas músicas, as pessoas vão ouvir, nestes dois concertos que estão marcados para Setembro, o segundo para dia 29, com uma grande componente solidária (será no Casino de Espinho e reverterá para a Luta Contra o Cancro), os clássicos que sabem de cor e que tiveram a contribuição do João Monge, do Manuel Paulo, do Mário Delgado, do Zé Nabo e do José Moz Carrapa, e várias canções deste disco ao qual resolvemos chamar Brilhará». Brilhará é um tempo de verbo no futuro. É então que, neste momento, o passado se encarrega de cruzar ideias com o porvir.

Novamente o Nuno Guerreiro: «Estou certo de que vai ser algo que vai mexer com as pessoas e, sobretudo, com todos aqueles que já gostavam da Ala dos Namorados. E estou certo disto por causa da frescura do novo som que vão encontrar. Tem muita autenticidade, é muito bonito. Há uma fidelidade muito grande ao nosso passado como banda mas, igualmente, um novo brilho, não se chama Brilhará por acaso. Os espectadores vão reconhecer, com inteligência, a velha sonoridade e a nova. E aquilo que temos de novo para lhes oferecer. Lá está: uma nova luz! Cheia de energia positiva! O disco está muito bonito e, neste momento, sentimos uma felicidade muito grande por podermos ir apresentá-lo a todos os que forem ver-nos à Culturgest e que decidirem comprar o Brilhará».

Eu não tenho muitas dúvidas sobre aquilo que me dizem e lá estarei, no meu posto, para o reencontro. Entretanto também já há novidades para Outubro, um concerto que irá ter lugar em Gondomar. Para que não restem confusões, ‘Brilhará’ é um disco feito na sua totalidade de originais. Os concertos é que obedecerão a uma linha melódica na qual as velhas canções se misturam com as novas. Trinta anos mais tarde, os rapazes que foram buscar inspiração aos jovens apaixonados de Aljubarrota alinham-se para os combates que aí vêm. À medida que o Verão vai chegando ao fim, a energia renova-se e não se deixa afogar pela melancolia tão própria de Setembro. Porque todos os fins vão desembocar em recomeços.