O estado da desunião

O discurso de Ursula von der Leyen sobre o Estado da União, ampliou pelo contraste o absurdo da ausência de Pedro Sánchez em Estrasburgo, para apresentar aos eurodeputados o programa da presidência espanhola do Conselho da UE, como seria suposto. Vivemos momentos sensíveis causados pela guerra na Ucrânia, a inflação, as taxas de juro, os…

O discurso de Ursula von der Leyen sobre o Estado da União, ampliou pelo contraste o absurdo da ausência de Pedro Sánchez em Estrasburgo, para apresentar aos eurodeputados o programa da presidência espanhola do Conselho da UE, como seria suposto.

Vivemos momentos sensíveis causados pela guerra na Ucrânia, a inflação, as taxas de juro, os fluxos migratórios, catástrofes naturais, os extremismos e violações do Estado de direito. Pedro Sánchez, não obstante, mesmo sabendo que a presidência espanhola do Conselho da UE teria início em 1 de julho, provocou em junho eleições gerais antecipadas por ter perdido as eleições regionais e agora, tendo perdido também as eleições gerais, mantém-se barricado algures entre o País Basco e a Catalunha, negociando com herdeiros do terrorismo da ETA, outros radicais e independentistas a forma de se manter no poder, com a presidência espanhola hibernada e sequestrando os interesses vitais da UE. Sôfrego pelo poder, permite-se assim tudo e revela talvez o pior da política.

Dito isto, pela colateralidade com o interesse português e por razões de princípio, há que destacar três temas abordados por Ursula von der Leyen:

  • O primeiro tem que ver com a ideia da criação de um representante da Comissão Europeia para as pequenas e médias empresas e a desburocratização. Apesar de alemã, a presidente da Comissão soube dar expressão à realidade de muitos outros países, Portugal a começar, com um tecido empresarial constituído fundamentalmente por micro, pequenas e médias empresas. Saiba António Costa aproveitar a oportunidade.
  • O segundo relaciona-se com importância da Política Agrícola Comum (PAC) para a nossa soberania e autonomia alimentar. Devemos à PAC a produção de alimentos seguros e a preços acessíveis um pouco por toda a UE, criando milhões de postos de trabalho diretos e indiretos e promovendo o ordenamento do território. Esta justiça tem de ser feita, mais ainda quando não falta em Portugal quem conteste a PAC, do PCP à Iniciativa Liberal, que nas últimas eleições europeias defendeu que «devemos empenhar-nos em abolir os intervencionismos e barreiras que dificultam a livre iniciativa e o acesso dos cidadãos aos benefícios de uma economia livre de estatismos», reclamando «a diminuição progressiva da preponderância da PAC no Orçamento Europeu». Ponderado que sem a PAC, provavelmente já não haveria agricultura competitiva em Portugal, asfixiada pela capacidade dos países muito mais ricos e com solos mais férteis, a questão não é apenas académica. O CDS-PP é um defensor intransigente das virtudes e do aprofundamento da PAC na União Europeia.
  • Por último, referência para as preocupações de Ursula von der Leyen acerca do Estado de direito. Atualmente, à frente das sondagens para as eleições gerais na Eslováquia, encontra-se Robert Fico, cujo partido (SMER) integra o grupo dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, defendendo a Rússia e Putin na agressão à Ucrânia que viola o direito internacional, destrói aldeias, vilas e cidades e mata indiscriminadamente civis e contestando as ajudas da UE a este país. Espera-se, não se tratando de hipocrisia, que o PS e os eurodeputados socialistas portugueses não digam menos sobre o seu camarada, do que aquilo que dedicam à Hungria e a Viktor Orbán. l

Presidente do CDS/PP