Um novo terramoto ocorreu em Marrocos, sendo a réplica mais intensa desde o grande sismo da última sexta-feira. Este tremor de terra atingiu uma magnitude de 4,6 na escala de Richter e foi sentido em Marraquexe. As equipas de resgate estão em andamento, mas as hipóteses de encontrar sobreviventes estão a diminuir. As autoridades já confirmaram quase três mil mortes e cerca de seis mil pessoas feridas.
E se acontecesse o mesmo em Lisboa? «Se houver em Lisboa um sismo como o de Marrocos, será devastador. E o devastador tem a ver com a quantidade de pessoas que vão morrer. Metade das construções em Lisboa não estão preparadas para um abalo de elevada magnitude. Os grandes edifícios da cidade ficarão completamente destruídos: o Hospital de S. José, o Curry Cabral, o Santa Maria. Os viadutos caem excetuando o do Fonte Nova, em Benfica, que foi preparado para eventuais sismos. O Hospital da Luz de Lisboa também tem isolamento de base. Se começarmos a reforçar hoje os edifícios, teremos imensos benefícios! E, acima de tudo, temos de pensar que a vida humana não tem preço», começa por dizer, em declarações ao Nascer do SOL, José Paulo Costa, especialista em reabilitação estrutural.
«Relativamente ao Hospital da Luz, o custo desse sistema de isolamento representou apenas 0,8% do valor total do projeto. Em países com alta atividade sísmica, como Japão, Turquia, Chile, México, Irão, Peru, Itália e outros, já não é permitida a construção de novos hospitais sem este isolamento de base», acrescenta, explicando que «o custo final do reforço dos edifícios dependerá de vários fatores, como a extensão das obras necessárias».
«Se a reabilitação for profunda e incluir a renovação das instalações elétricas, hidráulicas, de esgoto, etc., esse custo pode aumentar em cerca de 10% a 15% em relação ao investimento inicial. Em última análise, o custo total será determinado pelos benefícios e melhorias que se deseja alcançar no edifício. E não nos podemos esquecer de que Lisboa estava a florescer e deixou de ser uma das capitais mais importantes da Europa precisamente devido ao sismo de 1755: e nunca mais foi importante como era!», adianta José Paulo Costa, sendo que o terramoto de 1755 deixou um impacto significativo em vários aspetos.
Segundo José Paulo Costa, foi a primeira grande catástrofe moderna, principalmente porque desencadeou uma resposta inovadora por parte das autoridades. Após a tragédia, o Estado assumiu um papel preventivo e de proteção civil, evidenciado pelo inquérito realizado na época. Este terramoto afetou não apenas Portugal, mas também Marrocos e a região da Andaluzia, em Espanha.
Em Portugal, o sismo, acreditando-se que tenha tido o epicentro no Algarve, é conhecido pela sua violência e pelos danos que causou. Foi seguido por um maremoto que, embora não tenha atingido áreas tão distantes quanto Campo de Ourique, alcançou o continente americano, chegando a cidades como Boston e até à América do Sul. Como resultado da catástrofe, muitos edifícios e estruturas foram arrasados. Por exemplo, o teatro que existia na Baixa, a Casa da Comédia, desapareceu completamente, assim como o Hospital de Todos os Santos, no Rossio, onde apenas algumas paredes permaneceram após um incêndio que resultou em várias mortes entre os pacientes. Os incêndios desempenharam um papel significativo na destruição, já que o terramoto ocorreu no Dia de Todos os Santos, quando muitas pessoas estavam nas ruas, em procissões, a carregar velas acesas. Esses incêndios persistiram por vários dias (até cinco no máximo).
Além das perdas já mencionadas, o terramoto de 1755 também destruiu a Ópera do Tejo, que havia sido inaugurada em março daquele ano. Esta ópera era considerada uma das mais opulentas da Europa, com uma quantidade impressionante de ouro do Brasil que era tão abundante que os primeiros visitantes estrangeiros a consideravam excessivamente luxuosa e distrativa para os espetadores. O palco era extraordinariamente amplo, e na estreia até mesmo 40 cavalos estiveram em cena. Outro edifício notável que foi destruído foi a Basílica Patriarcal, que servia como sede da Igreja em Portugal desde o reinado de D. João V, Rei de 1706 a 1750. Além disso, muitos arquivos importantes, como o da Casa da Índia, e manuscritos valiosos foram perdidos. Várias ruas desapareceram, mas outras mantiveram os nomes, como a Rua do Ouro ou a Rua da Betesga.
«Posso parecer exagerado a falar, mas o sismo é como uma viagem: fazemos a consulta do viajante, até levamos vacinas se for necessário… Um terramoto é um evento para o qual devemos estar preparados e os líderes governamentais devem estar vigilantes em relação a essa ameaça. Fazemos manifestações para reivindicar variados direitos, mas não fazemos nenhuma para reivindicar o direito à sobrevivência em caso de sismo. É um direito que assiste às pessoas! Por exemplo, se alguém for a um teatro público e morrer lá durante um sismo… De quem é a responsabilidade? Devia haver uma placa lá fora com a indicação ‘Mata em caso de sismo’ e a pessoa decidia se entra ou não», conclui. l
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