Jorge Palma – Palma’s Gang, ao vivo no Johnny Guitar
músicos: Jorge Palma, Zé Pedro, Kalú, Flak, Alex
gravado ao vivo no extinto Johnny Guitar (Lisboa)
produzido por Flak e Palma
Ao contrário do que vem sendo costume aqui neste vosso cantinho, o álbum da homilia de hoje é Jorge Palma e os seus Palma’s Gang (Zé Pedro e Kalú – Xutos e Pontapés, e Flak e Alex – Rádio Macau).
Adquiri este álbum que saiu em ’93, em meados dos ’90s, após ler uma crítica no semanário Se7e, que simplesmente o arrasava por completo, não tendo o “crítico” musical poupado impropérios de todo o tipo, ao classificar este álbum…!!!
Logo de imediato após a leitura desse texto horripilante, adquiri o álbum, já não me lembro bem onde, mas quase de certeza na Tubitek ou Bimotor, na baixa do Porto.
Como tinha já anteriormente denotado, a forma como esse Sr. ou Sra. descreveram o álbum, era tudo menos fidedigna.
Sim, é quase uma gravação caseira, mas julgo que o espírito era precisamente esse. Através dos nossos sentidos sonoros, dar-nos uma (ainda que breve) perspectiva do que seria o Johnny Guitar, em toda a sua envolvência sonora.
Abrindo com Portugal, Portugal, todo o álbum é um discorrer de algumas obras primas do Palma, começando em 1975 (Poema Flipão; O Velho no Jardim) e terminando em 1989 (Eternamente Tu).
Não sendo um guitarrista de excelência, como também não o era Zé Pedro, o principal guitarrista deste pequeno ensemble caseiro era Flak, com excelentes malhas de guitarra eléctrica, excepto nos temas acústicos, que, e quanto a mim, são o ex-libris de todo o álbum, pois foram-se emboras as distorções, criando-se um ambiente intimista, com Palma quasi a declamar poemas, apenas acompanhado da sua guitarra acústica.
Este é um álbum completamente electrificado, exceptuando os dois temas acústicos já anteriormente referenciados, chegando a roçar mesmo a crueza, tal a antítese em toda a sua discografia anterior, principalmente no álbum Só, completamente gravado sem rede, apenas com Palma a cantar e tocar piano ao mesmo tempo.
De referir igualmente a bateria de Kalú, que além de muito palrador (vá-se lá saber o motivo…!!!) encontra-se por todo o álbum, batendo naquelas peles como se não houvesse amanhã, uma batida poderosa, tendo quase por certo, desfeito por completo aquela tarola, que nem para recauchutagem deverá ter servido após o concerto.
Além dos dois temas acústicos, um dos electrificados que mais gostei foi o Lobo Malvado, de 1982, e toda aquela mensagem subliminar…!!!
“Eu fui um lobo malvado
Entrei na casa da avózinha
Instalei-me na caminha
Contigo a meu lado
Depois mostrei-te a cozinha
Fiz-te passar um mau bocado
Com medo de ficar sozinho
Quis fazer de ti o meu capuchinho
Ainda não manejei nenhuma arma
Que não desse ricochete
E a cicatriz sobrevive sempre
À mais perfeita ligadura
Mas quando quiseres és bem vinda
Ao meu castelo
Que talvez por ser velho e enrugado
Não precisa de pintura
És bem vinda, amor
Se ainda te apetecer
Tal aventura
Cheguei com falinhas mansas
Quis mostrar-te quem não era
Armei-me em herói de quimera
Todo brilhante
Mais tarde soltei a fera
Mostrei-te o meu corno penetrante
Com ele espetei contigo na rua
Mas antes fiz questão de te deixar nua
Ainda não manejei nenhuma arma
Que não desse ricochete
E a cicatriz sobrevive sempre
À mais perfeita ligadura
Mas quando quiseres és bem vinda
Ao meu castelo
Que talvez por ser velho e enrugado
Não precisa de pintura
És bem vinda, amor
Se ainda te apetecer
Tal aventura
Eu fui um lobo malvado
Obrigado”
Espero que tenham gostado desta breve dissertação, e que, se conseguirem e puderem claro está, adquiram igualmente este álbum, pois cá entre nós, que ninguém nos ouve, foi o último que comprei de Jorge Palma, tendo-o no entanto já o visto ao vivo dezenas de vezes após esse álbum…!!!
Até para a próxima
Telmo Marques