Portugal perdeu com o País de Gales na estreia no Campeonato do Mundo de râguebi. Os Lobos mostraram grande atitude frente a uma das melhores seleções do mundo, e estiveram por cima do encontro por diversas vezes. A Geórgia é o próximo adversário a pensar na primeira vitória.
Pela segunda vez na sua história, a seleção portuguesa de râguebi está entre as 20 melhores do mundo, desta feita com um 15 renovado, mais experiente e ambicioso. Dos 33 escolhidos pelo selecionador Patrice Lagisquet, 16 são portugueses, dez são luso-franceses e sete emigrantes – apenas a França, Irlanda, Japão e Nova Zelândia alinham com jogadores que atuam no seu país. Portugal está num grupo equilibrado e difícil composto pela Austrália, País de Gales, Geórgia e Fiji. A equipa começou a preparar o Mundial três meses antes do pontapé de saída dado por Nuno Sousa Guedes, no passado sábado, frente aos galeses.
As vitórias morais não existem, mas o desempenho da seleção nacional (16.ª do ranking mundial) frente ao País de Gales (8.ª), uma das maiores potências mundiais da modalidade, mostrou a evolução do râguebi português. As previsões davam apenas 5% de favoritismo a Portugal, é verdade que não ganhou, mas o resultado (8-28) esteve longe de mostrar o desequilíbrio esperado. A derrota por uma diferença de 20 pontos não retira brilho ao desempenho da equipa, mas serviu de aviso para alguns erros e inexperiência dos Lobos. Ninguém ficou satisfeito com a derrota, mas se recuarmos 29 anos o resultado foi bem pior. Portugal perdeu com Gales por 11-102, naquela que é a segunda derrota mais pesada da história. Outro indicador importante é que os Lobos do Mundial de 2007 eram quase todos amadores, e os resultados foram pesados com derrotas frente à Nova Zelândia (11-108), Escócia (10-56), Itália (5-31) e Roménia (10-14). A equipa que chega Mundial de 2023 tem 17 jogadores profissionais, a maioria joga no campeonato francês, e 16 que conciliam os estudos ou a vida profissional com o râguebi.
Cerca de 50% dos jogadores que entraram em campo no Allianz Riviera, em Nice, eram profissionais, mas havia também um estudante universitário (Jerónimo Portela), um engenheiro (João Granate), um consultor de seguros (Nuno Sousa Guedes) e um médico dentista (Tomás Appleton), que interromperam a sua atividade profissional para estar no Mundial. É extremamente difícil chegar ao nível das grandes potências do râguebi mundial quando metade dos jogadores trabalham ou estudam durante o dia e treinam à noite, mas nos grandes momentos os Lobos já mostraram que o espírito de luta e determinação vão insuperáveis e a seleção consegue surpreender.
Portugal sem medo
A equipa portuguesa jogou de igual para igual com os galeses durante grande parte do tempo como demonstram as estatísticas da partida, só pecou na eficácia perto da linha de ensaio – as duas primeiras oportunidades do jogo pertenceram a Portugal. A seleção superiorizou-se no número de placagens efetuadas (167 contra 114), levou a melhor nos turnovers ganhos (7-5) e nos roubos de bola (2-1), e equilibrou nas conquistas nas fases estáticas (18-18). A equipa treinada por Patrice Lagisquet apenas perdeu na posse de bola (43% contra 57%). Um detalhe que jogou contra os Lobos foi a pontaria demasiada afinada de Samuel Marques que, na marcação de pontapés de penalidade, mandou a bola ao poste por duas vezes, o que facilmente daria mais cinco pontos a Portugal. Outro pormenor que mostra que os galeses ganharam respeito a Portugal foi o festejo ‘à Cristiano Ronaldo’ de Rees Zammit quando marcou o primeiro ensaio. “Não queria ofender ninguém. Adoro o Ronaldo, é o meu ídolo”, justificou.
Patrice Lagisquet sublinhou o tempo útil de jogo e a falta de eficácia.“O jogo teve 43 minutos de tempo efetivo, o que é imenso para nós. Talvez tenha sido o desafio com mais tempo de jogo útil neste Mundial. Quando estivemos perto da linha de meta, não fomos suficientemente eficientes. Essa é a grande diferença entre as duas equipas”, lamentou o selecionador. “A este ritmo e velocidade, é difícil manter a clarividência, por isso alguns passes não foram suficientemente precisos”.
O grande objetivo dos Lobos é conseguir o primeiro triunfo de sempre. Falharam a primeira tentativa, mas o jogo de sábado, dia 23, frente à Geórgia (13h00, RTP 2) pode ser histórico. A Geórgia é um velho conhecido de Portugal e o selecionador espera um jogo complicado devido à qualidade do adversário. “Vai ser igualmente difícil sermos eficientes contra eles, porque, para mim, o nível não é assim tão diferente em relação ao País de Gales”, advertiu.
Patrice Lagisquet espera que a World Rugby anule o cartão vermelho mostrado a Vincent Pinto. “Podem fazê-lo, já o fizeram com outros jogadores, e penso que é o adequado”, defendeu. “Se virmos a posição do Vincent Pinto, ele estava no ar, a virar-se para proteger a bola, e perdeu o equilíbrio nessa ação. Podia ter-se lesionado quando caiu no chão, foi tão perigoso para ele próprio como para o adversário”. Os problemas para Portugal podem aumentar, uma vez que Rafael Simões vai ser ouvido pela Comissão Disciplinar Independente devido a “placagem perigosa” no jogo contra o País de Gales.
França fortíssima
A jogar em casa, os gauleses começaram o Mundial com um triunfo contundente sobre a Nova Zelândia (27-13), assumindo a liderança do grupo face aos All Blacks. Outra equipa em grande forma é a África do Sul, que conseguiu dois resultados volumosos e bastante motivadores antes de defrontar a Irlanda num jogo que se prevê escaldante. O País de Gales e a Irlanda são as únicas seleções com 10 pontos em dois jogos, conseguindo um ponto extra em cada partida ao fazer, no mínimo, quatro ensaios. A segunda jornada confirmou que França, Nova Zelândia, África do Sul e Irlanda são as grandes favoritas a ganhar o Mundial, e trouxe a primeira surpresa com a histórica vitória de Fiji sobre a Austrália (22-15), duas equipas do grupo de Portugal que lutam pelo apuramento para os quartos de final.