‘A Europa está definitivamente em declínio’

Para o antigo Presidente da República Checa, a Europa vive com um ‘excesso de regulação’ que faz lembrar o comunismo.

Václav Klaus foi Presidente da República Checa entre 2003 e 2013. Economista e defensor do mercado livre, esteve nas Conferências do Estoril, onde defendeu a importância de colocar as pessoas de novo no centro das decisões. Em entrevista a Johan Bodinier, da EuroNews, falou sobre política, economia e os desafios que se colocam à Europa.

A minha primeira pergunta é sobre os desafios que se colocam aos jovens na Europa. Quais são os problemas, as questões mais urgentes que a juventude europeia enfrenta neste momento?

Europa? Para os jovens europeus? Não. Eu acho que há um problema com a Europa enquanto tal, e a juventude é parte disso, parte dessa história. Temo que não estejamos a deixar às gerações mais novas, aos nossos filhos e netos, uma Europa em bom estado. E esse é o problema principal. A Europa está definitivamente em declínio, e o seu papel no mundo há muito que tem vindo a diminuir. A sua força económica é muito reduzida. Por isso, hoje, acho que devíamos não apenas pensar no futuro da Europa, e dos nossos filhos e netos, mas tomar conta dela. E há dois fatores, facilmente identificáveis, que explicam isto. Um é a loucura do excesso de regulação que, para quem viveu sob o comunismo, faz lembrar vários aspetos desse regime. Com uma economia excessivamente regulada, os mercados são reprimidos, e isso nunca traz bons resultados. O outro fator é o de que o comunismo assenta sobre um engano, uma ideologia errada. Os atuais desenvolvimentos na Europa apontam para uma repetição desse erro. O facto de a Europa ter aceitado a ideologia verde e o green new deal são os mais recentes exemplos de uma tendência que tem vindo a crescer nos últimos anos, senão nas últimas décadas. Por isso, livrarmo-nos da Revolução Verde na Europa é uma tarefa fundamental para todos, velhos e novos.

Como sabe, há quatro pilares nestas Conferências do Estoril – Pessoas, Planeta, Paz e Novas Políticas. Qual destes deve ser prioritário?

Cientistas sociais e, basicamente, economistas. Parece-me definitivamente errado pensar em termos do planeta. É caricato tudo isto dos ativistas ambientais e do ativismo verde na Europa. Dizemos que devemos tomar conta de nós e dos que estão à nossa volta, e depois falamos do planeta. É preciso que regressemos ao sistema democrático. E o sistema democrático só pode existir em Estados-nação. A democracia não pode ser ao nível continental, nem pode ser ao nível do planeta. Deveríamos regressar às instituições e padrões comportamentais antigos.

Enquanto economista, quais considera ser as necessidades na Europa? Isto é um tema que, até agora, não parece estar a ser levado muito a sério…

Há a União Europeia enquanto tal e a União Europeia enquanto entidade económica. Sabe, eu sou um grande crítico do processo de unificação da Europa, que começou em Maastricht e tem-se aprofundado, sobretudo desde o Tratado de Lisboa. Eu era, dos chefes de Estado, o menos disposto a assinar o Tratado de Lisboa. Acho que a passagem da integração para a unificação foi um erro. E não pode funcionar, porque a União Europeia é heterogénea, os países não são idênticos. Unificá-los é incorrer num erro. A integração oferece as melhores hipóteses de cooperação nos vários domínios, e a unificação era desnecessária, e foi um erro. No que diz respeito à economia, existe, como referi, a questão do excesso de regulamentação. Eu sou um economista especializado em política monetária. E considero que foi um erro introduzir uma moeda comum a tantos países, com diferentes níveis económicos. E, claro, a taxa de juros favorece as economias mais desenvolvidas como a Alemanha, e é muito desfavorável para os países do sul da Europa. Como é que se resolve este problema? Não sei. Mas consegui evitar que a República Checa entrasse no sistema Euro. Ainda temos a coroa Checa, podemos ter a nossa taxa de câmbio e política monetária própria e não a política monetária de Frankfurt. E acho que funciona bem.

Uma última questão: o que é que lhe suscita esperança, quando pensa no futuro da Europa?

Acho que pessoas, mesmo os europeus, são seres racionais. E, mesmo que lentamente, começarão a compreender os problemas que a Europa realmente enfrenta.