A Amazon criou uma nova regra que limita o número de livros que os autores podem publicar por conta própria no seu site – três por dia -, após o surgimento de uma quantidade de material suspeito gerado por inteligência artificial (IA) que foi colocado à venda nos últimos meses, noticiou o The Guardian.
A empresa anunciou as novas limitações numa publicação no fórum Kindle Direct Publishing (KDP) na segunda-feira. «Embora não tenhamos visto um aumento no nosso números de publicações, para ajudar na proteção contra abusos, estamos a reduzir os limites de volume que estabelecemos para a criação de novos títulos», explica em comunicado. O KDP permite que os autores publiquem os seus livros por conta própria e os coloquem à venda no site da Amazon. A empresa adianta que está a «monitorizar ativamente a rápida evolução da inteligência artificial e o impacto desta na leitura, escrita e publicação de obras», garantindo que «muito poucos» editores sejam afetados.
Recorde-se que, há uma semana, esta passou a exigir que os autores informem a empresa quando o seu conteúdo for gerado por IA. Nessa altura, a plataforma criou uma nova secção com definições de conteúdo «gerado por inteligência artificial» e «assistido por inteligência artificial». No entanto, apesar da categorização estar agora disponível, a Amazon não verifica se os autores estão, ou não, a colocar à venda conteúdo gerado com recurso a tais ferramentas.
Ao jornal britânico, a empresa disse que o limite está definido em três títulos, embora este número possa ser ajustado «se necessário». Anteriormente, lembrou, «não havia limite para o número de livros que os autores podiam publicar por dia».
As novas regras surgem depois da Amazon ter removido livros suspeitos de serem gerados por IA que foram falsamente listados como escritos pela autora Jane Friedman. Livros sobre cogumelos encontrados no site foram considerados «potencialmente perigosos». Além disso, livros de viagens que também inundaram a plataforma também geraram preocupação. «Estou feliz por ver a Amazon tomar estas medidas sensatas e incrementais e espero que eles estejam preparados para fazer mais conforme seja necessário», admitiu Friedman sobre a regra dos três livros ao The Guardian. «É improvável que o material gerado pela IA desapareça tão cedo, dados os numerosos cursos que estão agora a ser promovidos para pessoas que procuram obter lucros fáceis com a venda de material gerado com essas ferramentas, sendo muitos deles de baixa qualidade e alguns até fraudulentos, como pude constatar», acredita a autora.
Sabemos que a IA é a capacidade de dispositivos eletrónicos funcionarem de uma maneira idêntica ao pensamento humano. E esta também se faz presente no mundo da música e do cinema, trazendo uma novidade que até alguns anos atrás era considerado algo inimaginável. Hoje, graças a ela, assistimos ao «ressuscitar» de artistas já mortos, permitindo, por exemplo, a criação de canções inéditas. Para isso, é usada uma ferramenta chamada Magenta AI, da Google, que reúne todas as letras de um compositor, criando músicas com um número médio de versos, acordes e palavras comuns, além de lhes atribuir sentido. Isso já aconteceu com artistas como Amy Winehouse, Jimi Hendrix e Jim Morrison. Outro caso envolve o vocalista do Nirvana, Kurt Cobain. Além disso, mais de 40 anos depois, o Beatle anunciou o lançamento da «última» música da banda, numa produção que utilizou Inteligência Artificial para isolar a voz de John Lennon.
A propósito deste fenómeno, considerados os prémios mais importantes da indústria musical, os Grammys também acabaram por «apertaram o certo» à IA.
A Recording Academy, a entidade que promove e entrega os prémios, anunciou uma nova regra que proíbe que músicas criadas exclusivamente por IA sejam elegíveis para um destes galardões. A nova norma não bane por completo músicas com elementos criados por IA. Mas para que estas sejam consideradas para um Grammy, devem apresentar uma «componente de autoria humana» que seja «significativa». Ou seja, a regra permite que os artistas usem IA. No entanto, esta deverá ser uma ferramenta e não a autora dos temas.