A seleção nacional obteve os primeiros dois pontos num Campeonato do Mundo de râguebi ao empatar com a Geórgia. Foi um jogo emocionante que começou mal para Portugal. Esteve a perder por 13 pontos de diferença, mas a extraordinária reação na segunda parte surpreendeu toda a gente e deu vida aos Lobos. Se dúvidas houvesse sobre a evolução do râguebi português, o jogo frente à Geórgia (13.ª do ranking da World Rugby) dissipou essas dúvidas e deixa Portugal mais próximo de um patamar superior no râguebi mundial. A exigente e conhecedora imprensa inglesa elogiou a qualidade do râguebi nacional, houve mesmo quem tivesse escrito que este foi dos jogos mais emocionantes do Mundial, e a imprensa francesa falou de uma lufada de ar fresco neste Mundial.
Dá gosto ver a seleção jogar pela alma, paixão e determinação que coloca em campo. Os resultados teriam sido certamente melhores não fosse alguma precipitação quando chega à linha de 22 metros do adversário e que motivou diversos erros técnicos nos dois jogos.
A primeira parte frente à Geórgia foi extremamente difícil. A equipa da Europa de Leste revelou muita qualidade nas linhas atrasadas, foi extremamente agressiva nas entradas e fez Portugal andar a correr atrás da bola oval. Foi assim que marcou o primeiro ensaio a abrir o jogo e terminou a primeira parte a vencer (13-5) e com mais posse de bola: 78% contra 22%. Portugal só foi superior nas placagens efetuadas, o que mostra as dificuldades que teve para parar a corrente ofensiva georgiana. Foi um período difícil, porque o adversário jogava melhor e a seleção nacional esteve 10 minutos com menos um jogador em campo. No final dos 40 minutos iniciais, o resultado até era simpático, como reconheceu o selecionador, Patrice Lagisquet: “A primeira parte não podia ter sido pior. Estávamos a fazer faltas parvas, pontapés parvos, foi terrível. A única coisa boa foi que defendemos a nossa linha de ensaio com todas as forças, foi por isso que fomos vivos para a segunda parte”.
Que reviravolta!
O râguebi não se joga às meias partes e o jogo de sofrimento do primeiro tempo deu lugar a uma revolta já habitual nos Lobos, que contaram com o apoio de milhares adeptos. Foi bonito ver e ouvir o sentimento lusitano no Stade Toulouse. A mentalidade foi completamente diferente, Portugal reagiu, virou o resultado a seu favor (18-13), e só uma falta desnecessária possibilitou à Geórgia empatar a dois minutos do fim. Mesmo assim, a última oportunidade foi dos portugueses, mas o pontapé de penalidade passou fora dos postes. Continuou a maldição dos postes, ou a bola bate no ferro ou passa ao lado.
Portugal continua a contrariar as estatísticas neste Mundial. Para este jogo, o favoritismo era dado à Geórgia (79,5% contra 20,5%), e viu-se o que aconteceu em campo. Teria bastado a Samuel Marques acertar o pontapé de conversão ou Nuno Sousa Guedes converter a penalidade e as probabilidades eram uma batata. Isso mesmo é confirmado pela estatística do jogo: a Geórgia teve mais posse de bola (52% contra 48%) e percorreu mais metros com a bola (534 m contra 426 m). Portugal foi superior nos turnovers (ganhou 8-4) e nas formações espontâneas ((ganhas por 82-76). Além disso, teve em José Madeira o jogador que fez mais cortes (18) sem recorrer à falta, Raffaele Storti foi o melhor marcador do encontro com dois espetaculares ensaios (10 pontos) e o médio de abertura Jerónimo Portela, o jovem estudante universitário de 22 anos, foi eleito o “Player of the Match” num jogo do campeonato do mundo.
Patrice Lagisquet estava resignado, mas não convencido com o resultado: “É frustrante por aquilo que Portugal fez na segunda parte”. O selecionador lembrou no final do encontro que “a equipa ainda tem muito para aprender”. “Estamos a crescer de jogo para jogo, mas ainda falta experiência”, reconheceu. Em relação aos próximos adversários, adiantou que “Portugal vai continuar a lutar contra equipas superiores” e concluiu: “Queremos ser tão bons quanto pudermos ser, irritar e perturbar o jogo deles. Vamos preparar-nos ao máximo para resistir. Quero que os jogadores continuem a sonhar com a vitória. A Austrália joga um râguebi muito realista, organizado e não oferece espaços, as Fiji jogam um râguebi muito bom e gostam de fazer circular a bola”.
Jerónimo Portela, o melhor jogador em campo, admitiu um “sentimento amargo”, apesar de os Lobos terem conseguido pontuar pela primeira vez num Mundial. “Agora, precisamos de corrigir os erros deste jogo para defrontar a Austrália”, disse.
No dia 1, Portugal defronta à Austrália, às 16h45 (RTP 2), e, no dia 8, joga contra as Fiji, às 20h00 (RTP 2). Serão jogos de elevado grau de dificuldade, mas servem para mostrar até onde pode ir a seleção nacional. Uma coisa é certa, os Lobos foram mais competentes frente ao País de Gales, líder destacado do grupo, do que a Austrália, que acabou esmagada por 34 pontos de diferença, Portugal perdeu por 20 pontos. Qualquer que seja o resultado frente a Portugal, os australianos estão a um pequeno passo de serem eliminados do Mundial. Se as Fiji vencerem a Geórgia com um ponto de bónus, a Austrália regressa a casa.
França apurada
A seleção gaulesa foi a primeira a garantir o apuramento para os quartos de final do torneio, onde poderá defrontar a Àfrica do Sul, atual campeã do mundo. A Itália ainda pode ser apurada no grupo A e, nesse caso, deixaria a Nova Zelândia fora do Mundial, o que seria surpreendente e uma tremenda desilusão, já que o campeonato sem os All Blacks não é a mesma coisa. Tudo para decidir na sexta-feira, quando as duas seleções se defrontarem. No grupo B, Irlanda, África do Sul e Escócia lutam pelos dois lugares de apuramento com os escoceses em desvantagem. E no grupo D, a Inglaterra, Samoa e Japão vão decidir nas duas últimas jornadas quem passa à fase seguinte. Japão-Samoa e Fiji-Geórgia são outros jogos decisivos desta semana, pois as quatro equipas têm possibilidade de apuramento.