Nada pode ficar como estava…

O que faz mudar os corações é a pregação do Evangelho de Jesus Cristo e não as mudanças estruturais.

Quando há dois mil anos veio Jesus Cristo – o Messias, Rei, profetizado pelas Escrituras – o clima em Israel era de uma esperança de libertação da opressão que os romanos faziam em relação ao povo judeu. Na realidade, o Messias, Rei, já estava anunciado muito antes pelas Escrituras muito antes que existisse o Império Romano.

Havia, então, uma urgência no interior dos homens de que os judeus pudessem ser libertos da opressão, não dos romanos, mas de outros povos à sua volta. Também Israel foi, em tempos, invadido pelo império da Babilónia, pelos persas, etc. O sentimento de opressão e de invasão não têm mudado com o tempo.

Dizemos, muitas vezes, que as Escrituras – principalmente o Antigo Testamento – representam histórias violentas e arrebatadoras, mas não é verdade. A verdade é que as Escrituras descrevem as guerras de um tempo como paradigmáticas de todos os tempos. O que é contado sobre as conquistas daquele tempo não é muito diferente do que está a acontecer na Ucrânia, com uma diferença apenas: aquelas histórias aconteceram há três mil anos atrás – que muitas vezes identificamos como culturas pouco instruídas e pouco civilizadas e hoje pensávamos que houve algum tipo de civilização na Rússia.

É certo que apareceu o Messias que veio libertar o homem das cadeias injustas que o habitavam, das sóbrias regiões da morte, mas os seus discípulos estavam um bocado baralhados: pensavam que o Messias, Rei, fosse um messias, um libertador, político. Pedro andava armado. Pensa-se que Judas fosse mesmo de um grupo de sicários. As conversas que tinham com Jesus rejeitavam por completo a dimensão do sofrimento e da morte e tinham um caris mais político do que espiritual: «Senhor, quando vier o teu reino, faz com que um dos meus filhos se sente à tua direita e outro à tua esquerda».

Parece que até hoje nada mudou, mesmo tendo Jesus Cristo mostrado que a verdadeira liberdade se encontra em subir à cruz e não na eliminação das estruturas injustas deste mundo. Há como que uma redução da Igreja a um grupo de sicários que devem libertar o povo da opressão política e uma eliminação completa da dimensão espiritual do ser humano.

Hoje, estamos muito preocupados com as estruturas da Igreja e as relações de poder – nada de novo debaixo da terra, pois os discípulos andavam a conversar qual deles seria o maior. Dentro em breve vai começar um novo sínodo sobre a sinodalidade, isto é, a melhor forma encontrada para acabar com os abusos de poder e os abusos sexuais na Igreja Católica, dando lugar a todos, todos, todos na instituição, que era uma coisa que não existia até agora.

Vamos começar a ouvir barbaridades sobre a vida da Igreja e sobre a vida dos padres e vai ser preciso aparecer um messias que nos liberte das estruturas injustas que oprimem as mulheres e os homens que estão cá dentro e, principalmente, que nos liberte do império sacerdotal instituído pelos padres.

O que vamos assistir é algo que já sabemos: é preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesma. Tudo vai ser falado e refletido e, porventura, muitas coisas irão mudar do ponto de vista das estruturas, mas se os corações não mudarem, não haverá futuro. É verdade! E o que faz mudar os corações é a pregação do Evangelho de Jesus Cristo e não as mudanças estruturais.