Ocorrem todos os dias, em todo o mundo, pequenos sismos, mesmo que não os sintamos – só se toma conhecimento pelos registos dos sismógrafos. Por isso, são muito mais comuns do que se pensa. E Portugal não é exceção.
Segundo o Serviço Geológico dos EUA (USGC, sigla em inglês), somente nos quatro primeiros meses de 2023 foram registados quase 60 tremores de terra em todo o planeta classificados como “significantes”. Nesta categoria estão aqueles que preenchem alguns requisitos como “magnitude”, “número de vítimas” e “quantidade de outros tremores que ocorrem em sequência”. Por exemplo, o abalo de 6,9 de magnitude que foi registado no dia 8 de setembro, em Marrocos – segundo o sistema europeu de controlo de sismos, ocorreu a 10 quilómetros de profundidade, na zona montanhosa a sul de Marraquexe (mais precisamente a 70 km da cidade) – foi sentido em várias zonas de Portugal, quer no Algarve, Alentejo e na zona de Setúbal e Lisboa. Espanha e o norte de África também registaram as ondas sísmicas. Cinco dias após o fenómeno já se contavam pelo menos 2,946 mortos.
Tal como pudemos observar nas imagens que nos chegaram dos meios de comunicação ou que circulam na internet desde essa altura, há situações em que, por vezes, a energia que a crosta terrestre liberta é tão forte que se traduz em forças destrutivas capazes de eliminar cidades inteiras. E já são muitos aqueles que atingiram o mundo no passado. Quais foram os mais mortíferos?
Escala de magnitude 9
Da “história recente”, de acordo com a BBC, podemos apontar o sismo de Valdivia, no Chile – conhecido também como o “Grande Sismo do Chile”, ocorrido a 22 de maio de 1960 e com uma magnitude de 9,5 –, como o maior sismo até agora. Este foi seguido de um tsunami, que varreu todo o oceano Pacífico. O maremoto, com ondas de até 25 metros, atingiu também o Havai, o Japão, as Filipinas, a Nova Zelândia, a Austrália e as Ilhas Aleutas. Além disso, provocou erupções vulcânicas. Entre duas a seis mil pessoas perderam a vida e houve cerca de dois milhões de feridos. Ainda assim, o número de vítimas e os prejuízos deste desastre nunca foram conhecidos com precisão.
Outros grandes sismos da “história recente” são: o grande sismo do Alasca, ocorrido a 27 de março de 1964, também seguido de um grande tsunami e o sismo de Sumatra, na Indonésia, ocorrido a 17 de dezembro de 2004, seguido também ele de um mega tsunami que varreu todo o Índico.
O primeiro teve uma magnitude de 9,2 na escala de Richter e ondas subsequentes de 67 metros que devastaram o mais despovoado estado norte-americano. Na catástrofe morreram 128 pessoas, registaram-se inúmeros deslizes de terra e partes de ilhas distantes elevaram-se em 11 metros.
Às 0h58 do dia 26 de dezembro de 2004, um sismo que atingiu 9,2 de magnitude, arrasou a costa oeste da ilha de Sumatra, na Indonésia. De acordo com a agência de notícias do Reino Unido, o tsunami atravessou o oceano Índico e causou mortes em 14 nações, algumas tão distantes do arquipélago indonésio como Somália, Quénia, Tanzânia e África do Sul.
Ao todo, a tragédia deixou cerca de 230 mil mortos ou desaparecidos – três mil eram turistas –, e 1,7 milhão de desabrigados. As nações mais afetadas foram Indonésia, com 170 mil, a grande maioria no norte da ilha de Samatra, Sri Lanka, com 30 mil, Índia, com 16 mil, e Tailândia, com 8.200.
Segue-se o sismo do Japão, a 11 de março de 2011, também seguido de um tsunami – estes entraram para a história como a maior catástrofe no país depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, na Segunda Guerra Mundial.
Segundo a BBC, pelo menos 15,7 mil pessoas foram mortas, 4,600 dadas como desaparecidas e 5,300 feridas na costa leste de Honshu, a maior e mais populosa ilha do Japão. Além disso, a combinação do sismo de magnitude 9,2 com o maremoto também deixou mais de 130 mil pessoas desabrigadas e destruiu 300 mil casas e prédios. A maioria das mortes ocorreu nas cidades de Iwate, Miyagi e Fukushima.
O desastre natural provocou ainda um acidente nuclear na central de Fukushima, que obrigou à criação de uma zona de isolamento de 20 quilómetros e obrigando centenas de milhares de residentes a abandonarem as suas casas.
O sismo da península russa de Kamchatka, em 1952, também registou 9 pontos de magnitude na escala de Richter. No entanto, foram as ilhas do Havai as mais danificadas no tsunami que se seguiu. Em grande parte pelo fato da região ser pouco povoada, não se registaram vítimas humanas e quanto a desaparecidos há apenas o registo de seis vacas, dadas como perdidas por um agricultor havaiano de Oahu.
8 na escada de Richter
Na madrugada do dia 27 de fevereiro de 2010, o Chile voltou a ser vítima de um sismo, desta vez com magnitude de 8,8, seguido de um tsunami que arrasou várias cidades costeiras do país, atingindo ainda o Japão e a costa californiana. De acordo com fontes oficiais, 525 pessoas perderam a vida. O “estado de catástrofe” foi declarado durante alguns dias em que as pessoas ficaram sem eletricidade.
De acordo com a mesma tabela do Serviço Geológico dos EUA, a 31 de janeiro de 1906, um sismo de magnitude 8,8 na escala de Richter também arrasou a fronteira entre o Equador e a Colômbia. O sismo foi seguido por um tsunami. As estimativas do número de mortes causadas pelo fenómeno variam entre 500 e 1,500.
Os especialistas referem ainda o Grande Sismo de Lisboa de 1755, o “Terramoto de Lisboa”, ou “Grande Terramoto”, ocorrido a 1 de novembro de 1755, também seguido de um mega tsunami que varreu todo o Atlântico. “É, talvez, um dos maiores sismos históricos de todos os tempos, e um marco incontornável na história da Ciência, no geral, e da Ciência Sismológica, em particular”, defende Fernando Carlos Lopes, professor do Departamento de Ciências da Terra, do Centro de Investigação da Terra e do Espaço (CITEUC), da Universidade de Coimbra.