De acordo com os resultados do programa “Mais contigo”, que procura promover a saúde mental e prevenir os comportamentos suicidários em meio escolar, o número de adolescentes em Portugal com sintomas depressivos aumentou para 45% no ano letivo de 2022 e 2023.
Numa amostra de 13 mil adolescentes no país, 45,4%, quase metade, apresentou sintomatologia depressiva, o que representa um aumento face aos anos anteriores.
Os dados foram avançados em comunicado, esta quinta-feira, pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) que é responsável pelo programa “Mais Contigo”, que este ano se estendeu a mais escolas do 3º ciclo do ensino básico e do ensino secundário.
Na última edição foi abrangido o maior número de adolescentes desde o início do programa (em 2021-2022, a amostra foi de 5440 jovens) porém, também subiram os adolescentes com com indícios e manifestações de depressão moderados (14,8%) ou graves (15,3%).
O estudo feito pela equipa coordenadora do projeto, riado em 2009 pela ESEnfC e pela Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), com a cooperação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), acabou por concluir que “uma vez mais, foram as raparigas a manifestar piores indicadores de saúde mental — maior sintomatologia depressiva, menor autoconceito e menor bem-estar”.
O comunicado aponta ainda que os resultados têm por base uma amostra de alunos com uma média etária de 13,4 anos (faixa compreendida entre os 11 e os 21 anos de idade) a frequentarem 153 agrupamentos de escolas, mais 197 escolas ou colégios, de norte a sul de Portugal (incluindo Açores e Madeira).
José Carlos Santos, coordenador nacional do “Mais Contigo” e professor de saúde mental e psiquiatria na ESEnfC, reconheceu que o programa cumpriu a sua missão, embora ainda haja desafios pela frente.
“No final da intervenção, foi possível diminuir a sintomatologia depressiva, aumentar o bem-estar e o autoconceito, sendo que 96 adolescentes foram referenciados e encaminhados para serviços de saúde mental e psiquiatria e outros 90 para cuidados de saúde primários”, lê-se na nota.
O docente, citado no comunicado, sublinhou que foram reforçadas as “dimensões protetoras para o comportamento suicidário, autoconceito e bem-estar, e reduzidas as de maior risco, o estigma e a sintomatologia depressiva, que passou de 30,1% [no início da intervenção] para 26%, mesmo assim um valor alto”.
Carlos Santos acrescenta ainda que os resultados obtidos “apelam para a necessidade de acompanhamento e intervenção sistemática dos adolescentes em contextos comunitários, onde a escola emerge como contexto prioritário”.
Segundo o docente, as razões da existência do programa “Mais Contigo” são cada ano “mais aprofundadas”, já que “o impacto da pandemia, com mais procura de cuidados de saúde mental, com mais distúrbios de ansiedade, de sintomatologia depressiva e mais alterações comportamentais, reforçam a sua importância”.
O coordenador nacional do programa considerou que as recentes alterações da legislação em torno da organização dos serviços de saúde mental, “com mais proximidade e recursos comunitários, são razão para ter esperança”, embora “alguns desafios se mantenham”.
Entre os desafios, José Carlos Santos salientou a necessidade de “conquista de um lugar para a saúde mental” na formação dos adolescentes, o diálogo entre instituições ou o anonimato dos questionários, que impede uma intervenção individualizada quando identificadas necessidades.
Os resultados do estudo foram apresentados na quarta-feira, em Coimbra, no XII Encontro “Mais Contigo”.