Francisco Franco, El Caudillo, nunca se importou grandemente que os stukas e os Messerschmitt da Luftwaffe de Hitler sobrevoassem os céus de Espanha à sua vontade. Afinal, no no dia 26 de abril de 1936, tinha-lhe dado um jeitão a mortandade sanguinária com que a Legião Condor desfizera Guernica. Enfim, os amigos são para as ocasiões. Por seu lado, o exército franquista, mal colocou a pata sobre toda a Espanha, Espanha por inteiro sem pequenas aldeias de irredutíveis de ideias contrárias, teve a ideia de, para criar laços de camaradagem, formar equipas de futebol nas suas principais divisões. Uma deles destacava-se pela sua superior qualidade perante as demais: a Aviación Nacional, dirigida pelo tenente Francisco Salamanca. Assente sobretudo em jogadores das Canárias, os responsáveis pelo desporto do governo de Franco tinham uma tão profunda predileção pelo Aviación que prometeram a Salamanca que haveria um lugar salvaguardado para os seus rapazes no campeonato da I Divisão. A coisa causou barulho. Há que dizer que, ao contrário do que está encasquetado na memória coletiva, o Real Madrid não era o clube do regime. E não o era pela simples razão de que Franco queria que todas as equipas fossem do regime e distribuiu mais ou menos equitativamente prebendas por todos eles.
Mal a guerra acabou começou a tranquibérnia. Vários foram os clubes que se rebelaram contra a entrada direta do Aviación na competição e o mais assanhado foi o Osasuna que devia descer e deixar o seu posto aos aviadores. Ora, aproveitando-se da confusão instalada, e não sendo o Aviación federado, o Atlético (agora dito de Madrid) propôs uma associação imediatamente aceite. E assim nasceu o Atlético-Aviación que conquistou logo dois campeonatos seguidos. Um êxito voador!
A direção do Atlético-Aviación parecia uma extensão do Governo do Generalíssimo. O presidente, Jesús Suevos, fora o fundador da Falange; Javier Barroso, o arquiteto do Vicente Calderón era irmão do Ministro do Exército, Antonio Barroso; Fuertes de Villavicencio era o chefe militar pessoal de Franco – conta-se que depois de irem a despacho, com as formalidades cumpridas, o Caudilho lhe dizia sempre, com uma palmada nas costas: “Hale, Fernandito, vete a ver a tu equipito”. Mas a coisa não se ficava por aqui: o dr. Garaizábal, médico do clube, era igualmente médico particular do Generalíssimo, e o capelão, visita de casa de Franco, nunca na vida usou trajes eclesiásticos o que dá bem ideia do à vontade com que percorria os corredores do poder. Já Vicente Calderón Pérez-Cavada, que assumiu a presidência do clube em 1964. era um dos mais acérrimos partidários do regime. Por estas e por outras é preciso ter um certo cuidado de cada vez que se fala em clubes beneficiados pelo governo franquista. Mesmo muito cuidado, ainda por cima quando vemos adeptos do Atlético de Madrid queixarem-se amargamente dos privilégios que caíam no colo do Real assim do pé para a mão.
Para selar a forte amizade entre a Aviación Española e a Luftwaffe, os jogadores do Atlético sujeitaram-se a defrontar uma equipa representante da aviação militar alemã. Em Berlim, após os nazis terem tomado avanço no marcador e dominado toda a partida, uma falta muito manhosa a dez minutos do final serviu para selar um empate tão conveniente como aldrabado. A imprensa germânica não perdeu a possibilidade de elogiar o acontecimento com palavras eloquentes: “O futebol espanhol, muito competentemente dirigido pela Falange, trará muitos dias de glória ao império que renasce sob o comando do Generalíssimo Franco, o führer de Espanha!”. Só mesmo um calhordas como Francisco Franco para sentir a baba da vaidade a escorrer-lhe pela papada ao ver-se equiparado ao canalha nazi do bigodinho ridículo. Nisso estavam bem um para o outro. Uma semana mais tarde, o Aviacíon jogou em San Siro frente à Aviazione Italiana. Os rapazes de Mussolini não estiveram pelos ajustes e golearam por 4-0. Não era supinamente importante. Necessário era mostrar ao mundo que os ditadores estavam juntos. Eles nunca
obrevivem sozinhos…