Nos primeiros anos de escola, muitas crianças sonham vir a ser professores. É a profissão com quem têm maior contacto e que veem em prática todos os dias. Imaginar saber tanta coisa e poder ensinar com prazer a quem ainda não sabe e quer aprender, a ler, a escrever, a fazer contas complicadas, artes plásticas… E ainda por cima ser um professor querido, amigo, empático, compreensivo, brincalhão… O que mais se pode desejar?
No tempo da ditadura, ser professor era mais um sacerdócio do que um ofício. E ainda há muitos professores que se entregam de corpo e alma à profissão, mesmo que, por vezes, em condições muito difíceis. Têm um grande amor ao que fazem e conseguem transmitir isso às suas turmas. Mas o que dizer de professores, sobretudo dos ciclos seguintes, que se sentem desmotivados, revoltados, desgastados? De professores que confessam aos alunos que também preferiam estar noutro sítio em vez de estarem ali?
Cada vez é mais difícil ser professor. Não só pela desvalorização da classe, que tem sido o principal motivo das greves, mas pelo que se passa em algumas escolas, dentro e fora da sala de aula.
Ser professor nunca foi uma tarefa fácil. Antigamente havia professores que só conseguiam exercer a sua autoridade de palmatória e os alunos aprendiam por medo. De uma forma diferente hoje passa-se o mesmo, mas sem a parte do medo, até porque os professores têm cada vez menos autoridade. Sobretudo no 2.º e 3.º ciclos, na idade em que os alunos desafiam os limites, é difícil ensinar, ainda mais se poucos quiserem aprender. Sobretudo porque se mantém a ideia – muitas vezes verdadeira – de que a escola é uma ‘seca’, quando devia ser um prazer aprender com os outros.
Para dar aulas numa escola de ensino clássico imagino que deva ser preciso um verdadeiro dom e um certo grau de malabarismo para conseguir desenvolver uma boa relação com os alunos e cativar o seu interesse, sobretudo quando se tem de impingir uma série de matérias extensas e desinteressantes. Se se é demasiado simpático e permissivo, rapidamente deixa de se ter controlo nos alunos, que acabam por abusar; se se for demasiado frio e autoritário as aprendizagens tornam-se uma obrigação pouco interessante.
Ser professor sempre exigiu um grande grau de perícia, porque implica o relacionamento de duas gerações diferentes, em que uma quer ensinar o que a outra entende que não precisa de aprender. Com o tempo, a autoridade do professor foi diminuindo e o abuso dos alunos tem vindo a aumentar. Ouvimos com frequência histórias, não só de alunos que fazem as coisas mais impensáveis, como de pais que fazem esperas à porta das escolas para ajustes de contas. Enquanto não se pensar numa escola nova, que vá mais ao encontro das necessidades e interesse de todos, uma escola mais prática, mais interessante e mais adaptada, em que todos trabalham em conjunto para um objetivo comum – professores, funcionários, pais e alunos – vai ser muito difícil ensinar e aprender de forma saudável.
Os professores são cada vez menos, não por falta de cursos, mas de candidatos. Quem quer ser professor? Enquanto a escola não mudar, enquanto não houver mais respeito e valorização da carreira, vai ser difícil haver jovens com vontade de a seguir. E uma sociedade sem professores é um país sem rumo. l
Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
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