Climáximo: as propostas ultra-radicais dos ativistas do clima

O direito à participação ativa das crianças com mais de seis anos nas decisões sobre a sua educação ou autonomia corporal é uma das propostas polémicas dos jovens ativistas do clima que se autoproclamam ‘do lado certo da História’.

Além das causas mais conhecidas e ligadas ao ambiente, os ativistas que têm dado que falar pelas suas manifestações recentes defendem medidas ultra-radicais como a habitação pública (por exemplo, tornando do domínio público todos os edifícios abandonados e transformando-os em habitação pública), o desinvestimento em forças de segurança e na indústria militar, conduzindo-o para o setor dos cuidados e serviços sociais e para um serviço nacional do clima, a participação ativa das crianças com seis ou mais anos nas decisões sobre educação, autonomia corporal e vida familiar, assim como em outras áreas onde alegadamente já têm direitos e deveres, o fim da utilização de jatos privados, carros de luxo e iates, entre outras, nos seus ‘planos de desarmamento e paz’.

O Nascer do SOL tentou saber junto do Ministério Público se, a par dos autos levantados aos ativistas que bloquearam o trânsito da Segunda Circular e na Rua de S. Bento, também foram abertos inquéritos aos automobilistas que os retiraram das vias de circulação de forma violenta. E se, apesar do ministro do Ambiente não ter apresentado queixa, também tinha sido aberto inquérito ao que se passou com a ofensa à integridade física do governante. O MP não respondeu a nenhuma das questões.

«Dando o exemplo da ação de ontem, interagimos com umas 300 pessoas que passaram por nós, estavam essencialmente nos carros, e uma ou duas podem ter tido reações mais agressivas. Estavam a ir para o trabalho e podem ter tido uma reação expectável de ‘Eu não consigo mais’, mas ao mesmo tempo temos muitas que saíram dos seus carros no sentido contrário: para nos protegerem, apoiarem e deixarem algumas palavras de encorajamento», explicou ao Nascer do SOL Noah Zino, do coletivo Climáximo.

Na última quarta-feira, Lisboa foi cenário de mais uma manifestação deste movimento. Durante o protesto, três ativistas sentaram-se no chão e bloquearam o tráfego na Rua de São Bento, por mais de 20 minutos. Este protesto ocorreu apenas um dia após outra manifestação em plena hora de ponta na Segunda Circular. Dessa vez, os ativistas estavam a distribuir panfletos com a pergunta: ‘Com o conhecimento que tens sobre a crise climática, o que vais fazer?’.

Há uma semana, ativistas dos grupos Climáximo e Scientist Rebellion realizaram uma ação de protesto na Feira Internacional de Lisboa (FIL), durante a realização da conferência World Aviation Festival. Pintaram a fachada da FIL de vermelho e interromperam uma sessão em que executivos de empresas de aviação estavam presentes. Na ocasião, a Polícia identificou cinco ativistas.

Além disso, também na semana passada, durante a abertura de uma conferência da CNN Portugal, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, foi alvo de um ataque com tinta verde por parte de ativistas do movimento Greve Climática Estudantil. Uma das ativistas afirmou que o Governo demonstrou falta de compromisso com a transição climática ao realizar conferências em parceria com a GALP e a EDP. As jovens foram retiradas do local pela equipa de segurança do ministro e pela GNR.

«Houve duas idas a tribunal: eu e as pessoas que bloquearam a Segunda Circular estivemos uma hora e meia lá e disseram-nos que não seria um processo sumário e as outras pessoas apresentaram-se em tribunal. É algo ansiogénico e que cria medo, mas sabemos que estamos do lado certo da História e enfrentamos um sistema legal que, neste momento, não nos protege do colapso climático», avança Noah Zino, do «movimento aberto, horizontal e anti-capitalista».

«Há uma parte maior do que nós que tem receio de que o nosso presente esteja entregue às pessoas que são culpadas pela crise climática, que não a resolvem. Nem as outras crises que estão perfeitamente interligadas. Não há isolamento das casas que corte as emissões, não há direito à habitação em Portugal, não há serviços básicos incondicionais nem emprego digno na economia com a vida no centro e com as energias renováveis no centro», realça.

Esta quinta-feira, os ativistas pintaram de vermelho a fachada da sede da REN, em Lisboa, por considerarem que esta é «uma das empresas que declarou guerra à sociedade e ao planeta», como explicitaram em comunicado.