João Barrento vence Prémio Camões 2023

João Barrento, de 83 anos, considera a atribuição do prémio um reconhecimento pelo trabalho de tradução

João Barrento foi distinguido com o Prémio Camões 2023, anunciou esta terça-feira o Ministério português da Cultura. O ensaísta considera que este é um reconhecimento pelo trabalho de tradução.

“João Barrento foi reconhecido pelo júri como autor de uma obra relevante e singular em que avultam o ensaio e a tradução literária. Em particular, as suas traduções de literatura de língua alemã, que vão da idade média à época contemporânea, e em todos os géneros literários, formam o mais consistente corpo de traduções literárias do nosso património cultural e constituem indubitavelmente um meio de enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial”, lê-se no comunicado, que cita o júri.

Também em comunicado, publicado no site da Presidência, o Presidente da República felicitou o “Prof. João Barrento pela atribuição, anunciada hoje, do Prémio Camões 2023. O prémio reconhece uma distinta carreira académica, nomeadamente no campo da germanística e da literatura comparada; celebra o empenho de décadas em muitas e rigorosas versões dos grandes autores de língua alemã, de Goethe e Hōlderlin a Kafka, Musil, Benjamin, Celan, Heiner Müller ou Handke; e, após Eduardo Lourenço, Antonio Candido, Alberto da Costa e Silva, V. M. de Aguiar e Silva ou Silviano Santiago, reafirma o ensaio enquanto género literário, esse ensaio a que João Barrento muito justamente chamou ‘o género intranquilo’”. 

Já o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, considera o ensaísta, tradutor e crítico literário,  “um dos pensadores mais acutilantes da arte e da cultura em Portugal”. 

João Barrento, de 83 anos, que diz ter recebido com surpresa a notícia, considera a atribuição do prémio um reconhecimento pelo trabalho de tradução, que além de ser um trabalho sobre a língua portuguesa, exige uma criatividade quase igual ao da escrita original.   

“Talvez faça algum sentido pensar num prémio como este, não apenas para os grandes géneros literários, como o romance ou a poesia, mas também como o ensaio ou mesmo a tradução, porque é um trabalho sobre a língua, a língua de Camões, está no nome do prémio, que exige uma criatividade que, no meu caso, considero-a quase equivalente à da escrita original”, disse o também cronista e professor, citado pela agência Lusa. 

João Barrento nasceu a 26 de abril de 1940 em Alter do Chão e licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo elaborado uma dissertação sobre a obra do dramaturgo inglês Harold Pinter (“Entre a Palavra e o Gesto. Interpretação do Teatro de Harold Pinter”), tendo publicado, desde então, diversos livros de ensaio, crítica literária e crónica.

De 1965 a 1968, foi leitor de Português na Universidade de Hamburgo e, mais tarde, leitor de Alemão na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se tornado tradutor literário de língua alemã. De 1986 até se jubilar, foi professor de Literatura Alemã e Comparada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

João Barrento traduz literatura e filosofia de língua alemã, tendo transposto  para língua portuguesa e prefaciado dezenas de autores de língua alemã, particularmente de poesia, da expressão mais antiga à mais moderna e contemporânea, além de obras de ficção, filosofia e teatro. Ao longo da vida foi distinguido com vários prémios.