O Partido Trabalhista escocês superou as expectativas. Numa vitória importante e expressiva nas eleições da passada sexta-feira, garantiu 58,5% dos votos em Rutherglen e Hamilton West. Liderando em apenas 1 dos 59 círculos eleitorais da Escócia, conseguiu uma transferência de voto do SNP de cerca de 20,4%.
O Partido Nacional Escocês (SNP), pró-independência, foi, sem surpresa, o grande derrotado, num momento marcado por escândalos e divisões internas. Nicolas Sturgeon, primeira-ministra entre 2014 e 2023, tinha renunciado ao cargo e à liderança do partido em fevereiro. Em junho era revelado um escândalo relacionado com doações ao SNP para um referendo, e a detenção, para interrogatório, de Sturgeon.
Humza Yousaf, primeiro muçulmano a chegar à liderança da Escócia, foi o sucessor de Nicolas Sturgeon no SNP e no governo. Mas o governo de Yousaf, que figurava na passada semana na capa da Time, sob a série ‘líderes da próxima geração’, falhou o teste das urnas. Perante a derrota, considerou que «o SNP tem de refletir, de reagrupar, de reorganizar».
A partir das fraquezas do SNP criaram-se condições para o êxito dos trabalhistas, esperançados em ser a primeira força política já em 2024. O candidato eleito, Michael Shanks, afirmou no discurso de vitória: «Não há nenhum sítio neste país onde os trabalhistas não possam ganhar». Já Anas Sarwar, líder do partido apelidou o resultado de «vitória sísmica».
Estas eleições parciais podem ser trampolim para o relançamento do Partido Trabalhista, líder nas sondagens a nível do Reino Unido com quase 17 pontos de vantagem sobre os Conservadores. E confirmam o sucesso da liderança de Keir Starmer, menos divisivo que o seu antecessor James Corbyn, e cada vez mais bem posicionado para vencer as eleições gerais de 2024. Starmer, que também participou na campanha eleitoral escocesa, reconheceu a importância estratégica desta vitória: «Sempre disse que recuperar a confiança do povo escocês era essencial. A vitória desta noite é o culminar de três anos e meio de trabalho duro e humildade».
Mas, para vencer, o Partido Trabalhista, um partido unionista, terá de convencer os escoceses a votar para lá, ou apesar, das reivindicações independentistas. A taxa de participação nestas eleições (37%) diminuiu face às últimas eleições gerais (66,5%). A abstenção elevada, bem como o facto de se tratar de eleições locais e antecipadas, limita exercícios de extrapolação. Mas o momentum que criam, para os trabalhistas e para Starmer, é inegável.