Isto é um manifesto para quem quer tudo diferente: Parecia um dia normal. E para muita gente o dia correu de forma igual aos outros, sem qualquer problema. No dia em que os órgãos de comunicação social mostravam uma mulher na rua, no chão a levar pontapés na cabeça em contexto de violência doméstica.
Nesta mesma altura, o mundo virava as suas atenções para o ‘caso Rubiales’, mais um sucessor do machismo que acima de si mesmo, após a seleção espanhola feminina ter sido campeã do mundo, com as duas mãos, agarrou na cabeça da jogadora Jenni Hermoso e beijou-a na boca. Aquilo que não se permite. Aquilo que acabou. Que acabaria por ser sempre desvalorizado, gerou uma onda de indignação e tomada de atitudes sem precedentes, tanto de jogadoras como de jogadores. No entanto, no país vizinho, uma mulher no chão, desconhecida, até delinquente, sem qualquer dúvida nas imagens, levava pontapés na cabeça. Não houve qualquer comentário por parte dos nossos dirigentes políticos, como se existisse uma normalização perante esta tragédia que deve ser assim o futuro das mulheres. Como se dissessem: ‘A violência doméstica vai sempre existir e vai chegar a isto, a termos agressores em plena rua a dar pontapés na cabeça das suas vítimas’.
Pior, os nossos dirigentes, comentam até o que se passou no país vizinho, desvalorizando, comparando-o com uma guerra (como se existisse comparação ou a mesma tivesse que ser feita), mas sobre este episódio, ninguém proferiu uma única palavra. Vamos ficar conformadas/os com isto? No entanto querem firmemente que as mulheres acreditem quando lançam mais uma campanha nacional, que estão a combater este flagelo, quando mulheres que fazem queixa, morrem com três tiros à queima-roupa e outras têm de fugir antes que os homicidas dos seus filhos sejam postos em liberdade. Campanha nacional, que não aborda os reais problemas da violência doméstica, mas sim aquilo que já se sabe. Portanto uma campanha feita para quem a fez e não para quem tem de a ver e mudar algo através dela. Mais uma campanha igual a tantas outras, que passou algumas vezes na televisão mas que não passa nas escolas. Se passasse era indiferente, pois não aborda os verdadeiros problemas, com os quais as vítimas se deparam dia após dia, hora após hora. Temos então de parar com as campanhas mudas e os silêncios que parecem que nos fazem explodir os ouvidos. Nós dizemos não. Nós dizemos que mais nenhuma mulher será agredida e violada, espancada ou pontapeada, porque nós não nos conformamos! Para nós, nem mais uma, nem mais nenhuma!