Quando o Estado de Israel foi constituído, e a sua bandeira içada pela primeira vez, ainda se ouviam as balas do conflito no ‘Mandato da Palestina’. Esta foi a primeira guerra do país que não consegue ter Paz.
O novo país nasceu de uma obrigação histórica europeia, depois de séculos de sucessivas perseguições aos judeus, com corolário no Holocausto. Este ódio, bem como a sua ‘guetização’ não foi iniciativa da Alemanha nazi, nem terminou com a derrota alemã. Ainda encontramos, de forma encapotada, marcas desse ódio um pouco por toda a parte.
O espetáculo bárbaro que o Hamas deu de si mesmo nos últimos dias deveria ditar o seu fim, como grupo terrorista que é, mas não deveria contribuir para arrastar ainda mais o processo de paz do Médio Oriente.
Apenas será possível uma relação ‘normal’ (leia-se pacífica) entre Israel e os países vizinhos com a resolução de três questões essenciais: criação do Estado da Palestina e mútuo reconhecimento, gestão partilhada das nascentes de água da região e definição de um estatuto para Jerusalém que seja aceite por todos. Não por acaso, nenhum acordo de Paz conseguiu fechar estas questões.
Este é, na realidade, o princípio de todos os problemas neste processo: as partes não se entendem sobre o direito de o outro existir ou sobre questões essenciais para a vida futura das comunidades.
Os ataques terroristas do Hamas têm lugar, curiosamente (ou não com tanta curiosidade), quando Israel se encontra a negociar um acordo de mútuo reconhecimento com a Arábia Saudita, isolando (ainda mais) o Irão, principal financiador do movimento terrorista.
Importa, não obstante, separar o Hamas da causa da Palestina. O povo palestiniano tem, como todos os demais, o direito à sua autodeterminação, bem como a uma existência pacífica. O Hamas não representa o Povo Palestiniano. Representa, no limite, o pior que existe na reação à sua opressão: a violência extrema, violadora dos mais elementares direitos do povo que diz representar.
A violência contra a população israelita foi miserável, assim como todos os dias o Hamas é miserável para com todos os que consigo discordam.
Neste momento, ter um olhar lúcido e racional sobre a matéria é arriscar ser confundido com branqueamento às ações de um grupo terrorista. Não obstante, importa pensarmos o quanto a opressão contribui para a geração do horror. O quanto as tensões acumuladas redundam em reações desesperadas ou quantos terroristas nascem na falta de perspetiva de futuro.
Claro está que os resquícios de antissemitismo remanescentes no continente europeu (Portugal não é exceção) imediatamente surgiram relembrando os excessos de um Estado militarmente forte, desprezando o porquê desse Estado ter de ser permanente forte do ponto de vista militar.
Independentemente da perspetiva com que olhemos para este conflito, a realidade é que sem confiança mútua e sem objetivos racionais, o processo continuará a ser uma mentira e a violência não será mais do que a semente de nova violência. Os mortos rapidamente serão esquecidos, pois haverá novos mortos para enterrar.
A terra até pode ser santa, mas quem lá vive está longe de ser