No passado dia 10 assinalou-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Se outrora esta era uma área quase tabu e ostracizada da saúde, nos últimos anos tornou-se um tema em voga para o qual somos constantemente alertados, passando a ser admitida como uma parte essencial de cada um.
Se por um lado nos deparamos constantemente com conselhos, dicas, atividades e até alimentos benéficos para a saúde mental, por outro as notícias do aumento da ansiedade e depressão na sociedade são constantes. E não é preciso ler as notícias, basta estarmos atentos a alguns pormenores para nos apercebermos que muitas pessoas não se sentem bem. Quantos pais encontramos logo de manhã a deixarem os filhos na escola já ansiosos e aborrecidos? Muitas vezes a apressá-los sem paciência para seguirem viagem. Ao final do dia então, por exemplo nas atividades extracurriculares, muitos já atingiram o limite da paciência. Ainda no outro dia assisti a uma mãe dar uma bofetada à filha porque ela estava a demorar mais a vestir-se.
Muitas pessoas sentem-se sobrecarregadas e sozinhas. Com demasiado trabalho e pouco apoio e as soluções que vão encontrando para colmatar este desamparo, desânimo e sobrecarga, assemelham-se a remendos que rapidamente se tornam pouco eficazes.
Quem já pintou uma parede sabe que as zonas que apresentam humidade têm de ser previamente tratadas ou, por melhor que seja a tinta e por mais perfeita que pareça a pintura nos primeiros dias, vai durar pouco. Assim são estes remendos. Alguém que trabalhe uma série de horas por dia, que chegue a casa saturado, sem paciência, que se sinta sozinho, desapoiado, por mais atividades e alimentos saudáveis que consuma terá sempre dificuldade em sentir-se realmente bem.
Embora sejamos um povo com inúmeras qualidades e estejamos num país que tem tudo para ser dos melhores, infelizmente não temos uma sociedade promotora de saúde mental. Somos o terceiro país da Europa com mais horas de trabalho (uma média de mais de 40 horas semanais), estamos entre os países com menor salário mínimo nacional e também com a menor produtividade. Ou seja, estamos demasiadas horas no trabalho, produzimos pouco e recebemos mal. É absolutamente frustrante.
Muitos pais, depois de saírem tarde e cansados do trabalho e de ainda enfrentarem a estopada do trânsito ou dos transportes públicos, encaram a família e as tarefas familiares já com pouca paciência e ânimo. As crianças que passaram o dia inteiro na escola, estão igualmente cansadas, à espera de algum conforto, de descontração ou de um tempo de encontro, de conversa ou simplesmente de um bom abraço, mas, não raras vezes, encontram os pais irritadiços, alheados, saturados e pouco disponíveis, que esperam ansiosamente pelo momento em que já vão estar todos a dormir ou em que já é fim de semana. E cada dia apressa-se assim para o seu final, cada semana para os dias de folga, cada ano para o período de férias, arrastando consigo a vida que vai passando demasiado depressa e pouco vivida. Um dia, quando quiserem recuperar o tempo perdido, será demasiado tarde. É esta a saúde mental que devemos preservar. Cuidar do nosso tempo precioso, aproveitá-lo, mimá-lo, disponibilizá-lo e vivê-lo com quem é importante. Porque mesmo as melhores tintas precisam de um primário para não serem sugadas por uma parede sedenta de cor.