Os jogadores e adeptos portugueses não estavam habituados a isto. A seleção nacional garantiu presença no Campeonato da Europa, que se realiza na Alemanha, entre 14 de junho e 14 de julho, a três jogos do final da fase de qualificação. Até agora, o melhor que Portugal tinha conseguido foi qualificar-se para o Euro 2016, que venceu, e Mundial 2006, foi quarto classificado, a um jogo do fim do apuramento e nunca fez o pleno de vitórias. É um feito inédito, até porque foi conseguido vencendo os sete jogos disputados. Foi uma qualificação invulgar, que começou com a vitória no primeiro jogo frente Liechestein (4-0), quebrando a ‘maldição’ de não vencer na estreia para o Europeu, que durava desde 1998.
O importante era o resultado, isso foi conseguido, embora sem nota artística na maioria das vezes. Nos sete jogos realizados, a equipa portuguesa teve, em média, 61,4% de posse de bola e 88,5% de eficácia no passe, marcou 27 golos (média de 3,8 golos/jogos) em 132 remates à baliza, esteve seis jogos sem sofrer golos e permitiu apenas 13 remates à baliza.
Foi o 13.º apuramento consecutivo para grandes competições internacionais desde 1996, sendo que no Euro 2004 era o país organizador e estava automaticamente qualificado. Apenas a Alemanha, França e Espanha conseguiram 13 presenças consecutivas em fases finais de Campeonatos do Mundo e da Europa este século. A este registo histórico, juntam-se mais 9,2 milhões de euros de prémio UEFA pelo apuramento.
Sempre Ronaldo No jogo das decisões, o selecionador juntou, pela primeira vez, Cristiano Ronaldo e Gonçalo Ramos no ataque, e foram eles que marcaram os golos da vitória frente à Eslováquia (3-2). É verdade que a seleção fez uma boa primeira parte, dominou e teve oportunidades para resolver a partida nesse período. No segundo tempo desligou-se do jogo – parecia que já estava a pensar na Alemanha – sofreu dois golos e deu vida aos eslovacos, que tiveram um aproveitamento quase perfeito; três remates e dois golos.
Uma vez mais, a seleção precisou de Cristiano Ronaldo para garantir a vitória. O capitão marcou dois golos no jogo que carimbou o apuramento, e prepara-se para conseguir um feito sem precedentes na história do futebol que é participar em seis fases finais de um campeonato da Europa. É, de longe, o melhor marcador a nível de seleções com 125 golos e a diferença para Messi aumentou para 21 golos. Ronaldo detém também os recordes de mais golos em fases finais (14) e mais jogos (25). O internacional português marcou o 857.º golo da carreira e voltou a dizer: “Não sigo os recordes, os recordes é que me seguem”, e acredita que outro recorde vem a caminho. “Espero chegar aos 900 golos, ainda falta um pouco, mas acredito que vou lá chegar. É só afinar a máquina”.
O caminho imaculado da equipa das Quinas está alinhado com o do selecionador Roberto Martínez. Depois da passagem pela seleção belga, o técnico continua sem perder em fases de qualificação para o Europeu ou Mundial, o que é notável.
O que se segue Na fase de apuramento houve 20 jogadores que estiveram em todas as convocatórias. Se Roberto Martínez mantiver esse grupo restam apenas três lugares para fechar a lista de 23 jogadores a entregar à UEFA. Como guarda-redes, o técnico contou com Diogo Costa, Rui Patrício e José Sá. Na defesa, os escolhidos foram João Cancelo, Rúben Dias, Danilo, Gonçalo Inácio, António Silva e Diogo Dalot. A meio-campo, Palhinha, Rúben Neves, Vitinha, Bruno Fernandes e Otávio estiveram em todas as convocatórias e na frente os eleitos foram Cristiano Ronaldo, Gonçalo Ramos, Bernardo Silva, Diogo Jota, Rafael Leão e João Félix. A estes deve-se juntar os nomes de Pepe e Raphael Guerreiro, que falharam as últimas convocatórias por lesão.
O selecionador tem à sua disposição jogadores de muita qualidade, que atuam em alguns dos principais clubes europeus: “Individualmente, a nossa seleção tem um talento superlativo”, reconheceu Roberto Martínez, mas tem de melhorar coletivamente para aproveitar o talento que existe no plantel, e isso é tarefa do selecionador. Portugal tem alternado o sistema de jogo, mas não se viu uma evolução na qualidade do futebol praticado entre o primeiro jogo com o modesto Liechtenstein e o último frente à Eslováquia. A qualidade individual não teve a devida correspondência com a qualidade do futebol exibido. Portugal tem momentos em que joga bastante bem, como aconteceu na primeira parte frente à Eslováquia, mas é pouco consistente e, na maior parte das vezes, não jogou o suficiente.
Os defensores da seleção dizem que o que importa são os resultados e o apuramento. É verdade, mas não tem de ser sempre assim, e jogar bem não faz mal a ninguém. Basta seguir, por exemplo, a França, que se qualificou ao vencer os Países Baixos em Amesterdão, para se ver um futebol mais agradável.
Depois do jogo histórico com a Eslováquia, Portugal defrontou ontem a Bósnia e Herzegovina, o jogo decorreu à hora de fecho desta edição, e termina esta fase defrontando o Liechtenstein e a Islândia, a 16 e 19 de novembro. Será interessante perceber se o selecionador vai continuar a cimentar o que tem feito até aqui ou se aproveita essa dupla jornada para experimentar novas ideias de jogo e lançar outros jogadores na equipa inicial, e há vários nomes à espera de uma oportunidade.
Alcançado o objetivo principal, o pensamento dos jogadores já está no Euro 2024, e numa eventual vitória. “Temos coisas a melhorar para podermos dar uma resposta melhor do que demos noutros tempos porque queremos lutar por um título. Há que apontar mais alto e o mais alto é ganhar o Europeu”, afirmou, sem medos, Bernardo Silva. Também o selecionador deixou pistas nesse sentido ao dizer: “Precisamos de sonhos para tudo na vida. Realizar o sonho é o mais importante e creio que nós estamos no bom caminho”.
Apuradas ou quase Falta uma dupla jornada para o fim da qualificação e os grupos começam a ficar definidos, com algumas surpresas pelo meio. A Alemanha está apurada por ser o país organizador, a França, Bélgica, Espanha, Escócia, Áustria e Turquia já garantiram presença no Euro 2024. Ao invés, depois de ter falhado o Mundial do Qatar, a Noruega está fora do Europeu, ou seja, a competição perde Erling Haaland, o mesmo acontece com a Suécia. Inglaterra e Itália defrontam-se hoje numa partida que pode definir quem vence o grupo. A Ucrânia ainda tem possibilidade de se apurar e deixar uma dessas equipas fora do torneio. Croácia e Polónia estão fora do Euro 2024 e é preciso uma combinação de resultados para garantirem o segundo lugar nos respetivos grupos.