O Gabão foi dirigido pela família Bongo desde 1967. Omar Bongo, primeiro, até à sua morte em 2009, e o seu filho Ali, depois, até 30 de Agosto. Horas depois do anúncio de nova reeleição de Ali Bongo, as forças armadas chefiadas pelo general Brice Oligui Nguema (antigo ajudante de campo do Presidente Omar Bongo) derrubaram o Governo. Três semanas depois do golpe de Estado, o seu filho mais velho, Noureddin Bongo Valentin, e membros do gabinete do ex-Presidente foram colocados em prisão preventiva e acusados de «alta traição, desvio de fundos, corrupção ativa, tráfego de estupefacientes e falsificação da assinatura do Presidente!».
Se Ali Bongo foi entretanto libertado e autorizado a viajar para o estrangeiro, algo que rejeitou, a sua mulher, Sylvia Bongo Valentin, com 60 anos, esteve detida em residência desconhecida em Libreville, «para sua proteção», até ser esta semana levada para a Prisão Central de Libreville, sob as mesmas acusações. Este estabelecimento prisional tem uma sinistra reputação e está sobrelotado. Ali Bongo sofreu um AVC em 2018 que o deixou muito diminuído.
Em processo iniciado em 2007, nove filhos de Ali Bongo estão acusados em França de aí terem conseguido fraudulentamente um património imobiliário superior a 85 milhões de euros, em que a origem dos fundos será de reservas nacionais desviadas do Gabão.
O auto-proclamado Presidente interino, autor do golpe, convocou 200 a 300 empresários e altos funcionários para os intimidar a devolverem ao Estado o que sobrefaturaram durante décadas. «Têm 48 horas para essas devoluções voluntárias, ou vamos atrás de quem prevaricou e verão como será bem mais desagradável».
Segundo o Banco Mundial, o Gabão é o terceiro país mais rico de África em PIB per capita graças ao petróleo, mas um em cada três habitantes vive abaixo do limiar de pobreza, com menos de dois euros por dia.