Mariana Mortágua e outros dirigentes do BE consideram que a meritocracia, ou seja, os cidadãos alcançarem determinado estatuto na sociedade devido ao seu valor e ao seu trabalho, é um mito. Afinado pelo mesmo diapasão, o cantor Paulo Furtado – The Legendary Tigerman – declarou numa entrevista à revista Mutante que a meritocracia era uma mentira.
Fiquei baralhado.
Porque, na minha ingenuidade supus que o facto de Mariana Mortágua ter chegado a czarina do BE se deveu às suas qualidades e ao seu esforço para promover o Comunismo caviar, tendo por isso mesmo passado a perna a outros candidatos menos competentes. De igual modo, o reconhecimento como músico de The Legendary Tigerman deveu-se também ao seu talento vocal, ao domínio dos instrumentos e à sua mestria na elaboração das letras; há muitos cantores, mas raros atingem o nível de Paulo Furtado. Ora, como Mariana Mortágua e Paulo Furtado não se tornaram famosos e bem-sucedidos devido a uma herança, por pertencerem à Maçonaria ou à Opus Dei, ou por qualquer outra influência secreta, apenas posso concluir que eles próprios desmentem as suas afirmações. Mortágua e Furtado são, por muito que lhes custe, a prova viva da meritocracia.
Além desta grande líder política e deste grande cantor, e mesmo tendo em conta que Portugal é um país de cunhas e padrinhos, a maioria dos homens e mulheres que alcançam lugares de topo nas empresas consegue-o por terem dado provas de merecerem o cargo que ocupam. Se assim não fosse, as empresas iriam à falência. E o mesmo se verifica em todas as atividades onde os cidadãos competem pelo melhor lugar. O desporto é um bom exemplo. Ronaldo, João Sousa, Patrícia Mamona, entre outros, conseguiram os resultados e os proventos de que usufruem (sobretudo os dois primeiros) graças às suas qualidades e ao seu trabalho. Graças ao mérito.
Dito isto, o mérito nada pode contra dois vilões: a intervenção do Estado na economia e a nomeação para cargos políticos. Assim como a gravidade distorce o espaço e o tempo, estas práticas distorcem a possibilidade de os cidadãos subirem na vida graças ao seu esforço. O elevador social é substituído pelo elevador vermelho, rosa ou laranja e, neste, só entra quem tiver o cartão do partido. Neste sistema, boys e girls que nunca trabalharam, sem a menor experiência profissional, perfeitos nabos e nabiças, podem ser nomeados diretores de empresas estatais, secretários de Estado, ministros, videntes, ou outro cargo qualquer com um salário nunca inferior a 4 mil euros.
Para mim, esta realidade nacional é uma desgraça. Jamais farei parte de um partido, não sei cantar, não conseguiria vencer João Sousa nem que ele jogasse com uma raquete de matar moscas; e as únicas atividades que desempenho razoavelmente não dão grandes rendimentos. Resta-me, pois, trocar as tintas e começar a desancar o mérito. Afinal, ao contrário de Mortágua e Furtado, tenho boas razões para me queixar. Na sequência desta viragem de casaca, junto-me à próxima manifestação conjunta contra as alterações climáticas, a habitação e a discriminação dos Pokémones e desato também a vandalizar montras capitalistas.
Por fim, poderíamos fazer um trio de rua: o Furtado canta, a Mariana dança e eu parto janelas. l
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