Dependência do álcool aumenta 50% em dez anos

A maioria dos doentes com dependência de álcool continuam a ser homens (80%) e há um aumento de consumo de álcool nas mulheres e nos jovens

A dependência de álcool em Portugal aumentou quase 50% na última década, alertou esta quarta-feira a Sociedade Portuguesa de Alcoologia (SPA), que defende maior intervenção para detetar estes doentes e tratá-los.

De acordo com um inquérito à população geral promovido pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) a prevalência da dependência de álcool aumentou de 3%, em 2012, para 4,2% em 2022. 

Apesar deste aumento de quase 50%, a procura dos serviços da SPA tem-se mantido “relativamente estável nos últimos anos”, o que indica que “não está a ser devidamente acompanhado da sinalização [dos casos] e do devido encaminhamento para as estruturas”, afirmou uma responsável da SPA à agência Lusa. 

A maioria dos doentes com dependência de álcool continuam a ser homens (80%) e há um aumento de consumo de álcool nas mulheres e nos jovens. “Nos jovens, não só tem aumentado o consumo em quantidade, como também tem aumentado em idades mais jovens”, sublinhou a psiquiatra, advertindo que “qualquer consumo de álcool nesta fase é muito prejudicial para a saúde”, porque ainda não têm o sistema nervoso completamente formado.

Joana Teixeira manifestou-se ainda preocupada com o número de condutores com excesso de álcool envolvidos em acidentes rodoviários, defendendo um incentivo a campanhas de prevenção e um aumento da fiscalização. 

Para a psiquiatra, tem de haver simultaneamente um reforço das estruturas de tratamento, “que não têm estado a ser devidamente dotadas de recursos nos últimos anos”, e “uma maior capacidade de intervenção quando a doença está efetivamente estabelecida”. Joana Teixeira acrescenta ser decisivo “detetar estes doentes e tratá-los”, para evitar um aumento das doenças atribuíveis ao álcool, como a cirrose hepática e algumas doenças neoplásicas.

A também coordenadora da Unidade de Alcoologia e Novas Dependências do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL) defende a necessidade de dotar o país de recursos, “não só nas campanhas de prevenção, mas também nas campanhas de tratamento”.