O número de feridos em acidentes envolvendo trotinetas tem vindo a aumentar de forma significativa nos últimos quatro anos. De acordo com dados provisórios da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), no primeiro semestre deste ano registaram-se 236 feridos e uma vítima mortal em acidentes com trotinetas em todo o país. Em 2022, contabilizaram-se 446 feridos com trotinetas, no ano anterior apenas 182 feridos, enquanto em 2020 — ano marcado pelas restrições à circulação da pandemia — foram 69 feridos e em 2019 foram 84. Neste período, não houve registo de vítimas mortais.
Dos pelo menos 237 acidentes registados nos primeiros seis meses deste ano resultaram 227 feridos ligeiros. Apenas nove utilizadores de trotinetas sofreram ferimentos graves. A maioria dos sinistros aconteceu dentro de localidades, com apenas seis a registarem-se fora de localidades.
O Porto surge em primeiro lugar na tabela quanto ao número de vítimas (49), tendo sido neste distrito que se registou o único acidente mortal. Segue-se Lisboa, com 48 feridos – destes apenas um considerado grave –, Setúbal (33) e Coimbra (23).
Quanto à natureza dos acidentes, a maioria das vítimas (159) resultaram de colisões, sendo que houve ainda 72 feridos em despistes e seis foram vítimas de atropelamento.
Os dados da ANSR mostram também que grande parte dos acidentes ocorreram entre as 8h e as 20h, mas há registo de pelo menos 35 acidentes que aconteceram depois das 00h.
Maio foi o mês com maior número de feridos em acidentes com trotinetas – ao todo foram 60. O mês de junho ficou imediatamente atrás com 54 feridos. Os quatro primeiros meses do ano contabilizaram cerca de 30 feridos cada, sendo que a única vítima mortal registou-se logo em janeiro.
Maioria circulava sem capacete
As informações compiladas pela ANSR dão ainda conta de que, entre os 254 utilizadores de trotinetas envolvidos em acidentes com vítimas, pelo menos 216 circulavam sem uso de capacete e apenas 26 estariam a usar este acessório de segurança no momento em que ocorreu o acidente.
Na sequência destes acidentes foram submetidos ao teste de álcool 216 dos 254 condutores de trotinetas intervenientes em acidentes com vítimas. Apenas sete apresentaram uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1,2 g/l (gramas por litro de sangue), o que é considerado crime. Já 209 utilizadores apresentaram taxa de álcool no sangue inferior a 0,5 g/l.
Os restantes 38 utilizadores não foram submetidos ao teste de álcool por motivos de fuga, doença, lesão ou morte decorrente do acidente.
Tal como em anos anteriores, a maioria (195) dos acidentes aconteceu enquanto os condutores se encontravam em marcha normal. Há ainda registo de acidentes enquanto os utilizadores estavam a atravessar a via, a mudar de direção para a esquerda, a ultrapassar pela esquerda ou ainda a circular em contra-mão.
Bicicletas ainda provocam mais acidentes em Lisboa
Entre os novos meios de mobilidade urbana, os acidentes com bicicletas continuam a provocar o maior número de feridos na área da Grande Lisboa.
Este ano já deram entrada no Hospital de São José pelo menos 755 doentes acidentados em sinistros com bicicletas, trotinetas, skates e patins em linha. Destes, 203 eram jovens com menos de 18 anos e os restantes 552 eram adultos com mais de 18 anos, de acordo com dados avançados ao i por João Varandas Fernandes, diretor de Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) de Traumatologia Ortopédica do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) – Hospital de São José.
A maior percentagem destes doentes que deram entrada neste CRI de Traumatologia Ortopédica decorreram de acidentes de bicicleta, sendo que entre os adultos com mais de 18 anos os acidentes com trotineta surgem em segundo lugar. Já no grupo abaixo dos 18 anos são os acidentes de skate que surgem a seguir à bicicleta.
Segundo João Varandas Fernandes, o número de mortes resultantes destes acidentes é mínimo, mas entre 5% a 10% destes acidentes são de grande complexidade e considerados graves.
“Há lesões graves e complexas que prolongam o tempo de reabilitação e 5% destes doentes acidentados têm internamento mais demorado”, adianta, em declarações ao i, o médico especialista em ortopedia e traumatologia, que é também presidente da associação Convergência dos Centros de Responsabilidade Integrada (CCRIA) – que visa apoiar e dinamizar a multiplicação de CRI por mais unidades hospitalares públicas.
Em defesa deste modelo de organização, Varandas Fernandes refere que a capacidade de resposta do CRI de Traumatologia Ortopédica do CHULC – o primeiro desta área no país – resulta de “equipamentos modernos que permitem uma assistência multidisciplinar com várias especialidades”, o que na sua ótica permite “reduzir os tempos de espera em serviços de urgência e melhorar a eficiência e a resposta cirúrgica, possibilitando uma resposta em tempo útil com uma melhoria da qualidade dos cuidados”.