Dizer o óbvio sobre o Aeroporto de Beja

É óbvio que o Aeroporto de Beja é uma opção a considerar, nesta fase de esgotamento de Lisboa e no futuro com um novo aeroporto

A Comissão Técnica Independente elaborou um relatório com propostas para o aumento da capacidade operacional do congestionado Aeroporto Humberto Delgado (AHD).

A dita Comissão diz o óbvio ao defender o uso, do que designa de Base Aérea de Beja, para voos de carga e charters.

Não sendo especialista, é uma evidência que a infraestrutura de Beja é mais do que uma base aérea, por regra de natureza militar ou mista como acontece nas Lajes. Beja tem uma componente civil de Aeroporto.

É evidente que a reiterada utilização do Aeroporto de Beja nos últimos meses parece ter feito luz na perceção da existência de potencial complementar, que, só não é maior, dadas ‘as condições atuais de acessibilidade’. Por essa razão, segundo a Comissão “não pode ser uma alternativa comercial para gestão das pontas de tráfego de passageiros do AHD e do Aeroporto de Faro”, mas “pode ser considerada para acolher operações exclusivas de carga e de charters não regulares, libertando espaços do Aeroporto Humberto Delgado”.

Há muito tempo que defendemos a valorização da infraestrutura aeroportuária de Beja como alternativa ao esgotamento de Lisboa ou complemento às disponibilidades a norte e a sul. Fizemo-lo junto do Governo, da ANA, desta comissão e das principais companhias aéreas low-cost (Ryanair, EasyJet e Transavia).

Cada dia que passa, só não é um dia perdido porque a realidade tem contrariado a falta de visão estratégica na valorização do potencial existente, sob o ponto de vista logístico, da carga e do transporte de passageiros.

É óbvio que o Aeroporto de Beja é uma opção a considerar, nesta fase de esgotamento de Lisboa e no futuro com um novo aeroporto.

É opção, porque resulta de um relevante investimento nacional e tem potencial aeroportuário.

É opção, porque existem situações similares de aeroportos na Europa distanciados das cidades de referência, servidos por adequadas infraestruturas rodoviárias e ferroviárias.

É opção porque a coesão territorial é um desafio decisivo do país, para inverter tendências negativas dos territórios do Interior e gerar novas dinâmicas positivas para as economias locais, para as comunidades e para o país como um todo.

O país que se enleia em novos futuros tem de ter presente as existências, o potencial existente e o que pode ser valorizado. Enquanto a Comissão não aponta à solução para o futuro da principal infraestrutura aeroportuária do país e a companhia aérea nacional entra em processo de privatização, é fundamental valorizar o potencial que existe e vai sendo utilizado de forma crescente. É preciso assegurar que quem decide não é arrastado pela realidade, mas tem a capacidade de impulsionar uma visão prospetiva e dinâmicas positivas. Espera-se mais que o óbvio, um rasgo decisivo que acrescente.

O Baixo Alentejo está habituado a trilhar os seus caminhos de desenvolvimento e a contrariar as maiores adversidades, mas não prescinde de trabalhar na construção de melhores soluções para as pessoas e os territórios. Há hoje no Baixo Alentejo e no Mundo Rural um conjunto de dinâmicas positivas para a resiliência, as oportunidades e o futuro que queremos para a região e para o país. O Aeroporto de Beja tem potencial agora e no futuro. É uma evidência. Basta consagrá-la.

Presidente da Comissão de Agricultura e Pescas