Os amigos de ocasião!

rapidamente os russos perceberam que a Coreia do Norte é um “castelo de cartas”: não há blindados e mísseis confiáveis em quantidades suficientes e os poucos que possui apenas servem para agitar a retórica agressiva junto dos vizinhos do Sul.

Os últimos tempos têm sido férteis em acontecimentos sui generis na guerra da Ucrânia. Os progressos da contraofensiva desenrolam-se a um ritmo lento, mas consistente. A única constatação para ambos os lados são as elevadas baixas, das quais em termos absolutos pouco ou nada se sabe, por ser do interesse dos dois países.

O processo interposto pela Ucrânia contra a Rússia no Tribunal Internacional de Justiça em Haia está em marcha ainda com audiências preliminares. Esta ação procura desmontar a fundamentação delirante da Rússia de querer convencer o mundo que apenas invadiu a Ucrânia porque estava em curso um genocídio do povo russo no Donbass. Soubemos, entretanto, que a Rússia ameaçou o tribunal que se retirará do julgamento se for sancionada pelos seus juízes. Algo surreal e que não pode deixar ninguém indiferente. A confirmar-se tal posição era como se uma equipa só aceitasse entrar em campo se soubesse de antemão que o árbitro se encarregaria de assinalar o número de penalidades necessárias para que saísse vitoriosa. Confirma-se o que já sabíamos: a Rússia convive mal com as regras democráticas e a independência dos tribunais que é a base dos sistemas democráticos. Assim, os verídicos deste tribunal estão condenados ao fracasso e não há direito internacional que seja respeitado.

As últimas semanas foram também dominadas pela visita de Kim Jong-Un à Rússia. Falamos de alguém que tem pânico de aviões, por achar que se torna num alvo mais fácil, por isso viaja num comboio blindado à velocidade estonteante de 60 Km/h, como se tal veículo não tivesse também na mira dos que ele tanto teme. Kim Jong foi à Rússia para “afagar” o ego ao déspota que agora poucos amigos tem. O líder da Coreia do Norte foi à procura de capacidades nucleares para continuar a assustar o mundo, mas os russos, os seus amigos de conveniência, não estão interessados em partilhar tal informação com um demente. O que a Rússia quer é apoio militar (carros de combate, mísseis e munições) que a sua indústria militar (em stress) não consegue produzir em quantidade suficiente para alimentar a guerra de invasão na Ucrânia. Mas rapidamente os russos perceberam que a Coreia do Norte é um “castelo de cartas”: não há blindados e mísseis confiáveis em quantidades suficientes e os poucos que possui apenas servem para agitar a retórica agressiva junto dos vizinhos do Sul.

No fundo, tudo ficou na mesma e nada se vai alterar no campo de batalha. A Rússia vai ter acesso a uns milhares de munições de calibre 152 mm e poucos mais. Os norte-coreanos, por sua vez, talvez venham a ter acesso a alguns componentes para o seu exército, (alguns coletes, óculos de visão noturna) e umas toneladas de cereais que os coreanos pouco valorizam, porque as necessidades humanitárias do seu povo pouco contam para a elite delirante da Coreia do Norte.

Putin desde fevereiro de 2022 ficou ainda mais isolado da sociedade internacional e procura a todo o custo mostrar que ainda tem amigos. No entanto, os poucos que tem não são recomendáveis e com quem “ninguém quer tirar uma foto em público”. Neste lote de amigos “especiais” de Putin têm lugar o sucessor da dinastia sanguinária norte-coreana, governantes do Irão, da Bielorrússia e da Venezuela, tudo… enfim, gente “altamente” recomendável.

Carlos Bonifácio                                                               João Carlos Duarte

Mestre em Estratégia                                                 Consultor e Gestor de Empresas