O Dia Mundial da Pneumonia é celebrado anualmente a 12 de novembro. Esta data foi estabelecida para aumentar a consciencialização sobre a pneumonia, uma doença infeciosa que afeta os pulmões, e para promover a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz da mesma. A pneumonia é uma das principais causas de morte em todo o mundo, especialmente entre crianças com menos de cinco anos e idosos. No Dia Mundial da Pneumonia, organizações de saúde, profissionais médicos, ativistas e comunidades unem-se para destacar a importância da vacinação, higiene respiratória, acesso aos cuidados de saúde e outras medidas preventivas. As atividades realizadas neste dia incluem campanhas de consciencialização, eventos educacionais, programas de vacinação e esforços para arrecadar fundos para pesquisa e tratamento da pneumonia. O objetivo é reduzir o impacto dessa doença respiratória grave em todo o mundo.
“Fui ver o Portugal-Suécia, em 2004, em Coimbra. Não estava calor, até estava frio, e recordo-me de que tive arrepios, mas não prestei atenção. Uns dias depois, comecei a ter febre, dores no corpo, dificuldade em respirar e pensei ‘Tenho de ir ao médico’. Fui, ele disse para tomar o Paracetamol, mas aquilo nunca mais passava”, começa por contar Mário Marques, de 66 anos, então com 47. “Já com muita dificuldade em respirar, fui fazer um raio-x e disseram-me que tinha uma pneumonia e teria de ficar internado. Fiquei internado durante aproximadamente uma semana, em Coimbra, e transferiram-me para Cantanhede. Aí, fui internado precisamente no dia da inauguração do Euro 2004. Tinha convites para ir e pedi à médica: ‘Vou só ver e volto amanhã’, implorei eu. Mas a doutora disse que não. Tive de aceitar, não havia outra alternativa”, narra. “Acabei por, na totalidade, estar internado durante um mês. Quem tem pneumonia tem de ter muito cuidado com as gripes, as diferenças de temperatura, etc. Ainda por cima, sou doente cardíaco e diabético. Portanto, ainda mais cautela tenho de ter”, frisa.
“A pneumonia é uma reação inflamatória ao nível do pulmão que tenta combater a invasão de um microrganismo, que pode ser uma bactéria, por exemplo. É exatamente essa reação que vai ocupando o espaço que é ocupado habitualmente pelo ar e, conforme a sua progressão, existem cada vez menos zonas do pulmão que estão a respirar normalmente”, explica António Morais, pneumologista do Centro Hospitalar e Universitário de S. João e presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP). “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a principal causa de mortalidade nas crianças, mas também uma das principais nos adultos. Portugal tem aí um principal destaque porque é uma das principais causas de morte e tem números superiores em comparação com os dos outros países europeus”, realça.
Também Jaime Pina, da comissão científica do projeto Pneumoscópio, destacou, em declarações à agência Lusa, que nos dois primeiros anos de operação, essa plataforma online trouxe atenção para os “níveis muito altos de mortalidade” causados pela pneumonia em Portugal. O vice-presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, entidade promotora do projeto, ressaltou que o Pneumoscópio é uma ferramenta crucial para pesquisadores e profissionais médicos, alertando para a significativa mortalidade por pneumonia no país.
Os dados da plataforma, disponível em https://www.pneumoscopio.pt/, revelam que entre 2014 e 2019, 31.026 pessoas morreram de pneumonia em Portugal, sendo 95% desses óbitos de pessoas com mais de 65 anos. Em 2014, foram registados 5.096 óbitos, sendo 2015 o ano com o maior número de mortes (5.597), enquanto 2019 teve o menor registo (4.337).
Lançada em 29 de março de 2021, a plataforma tem como principal objetivo mapear internamentos e mortalidade por pneumonia e meningite não meningocócica em Portugal continental. Funciona como um “observatório” que recolhe informações oficiais sobre essas doenças e as associa a uma base de dados georreferenciada. Após dois anos de operação, Jaime Pina enfatizou que os dados confirmam os elevados índices de mortalidade em comparação com outros países europeus, atribuindo isso ao envelhecimento da população portuguesa. Além disso, a sazonalidade da mortalidade por pneumonia foi destacada, possivelmente relacionada com a falta de aquecimento eficaz em 40% das residências portuguesas, tornando o inverno propício a infeções respiratórias.
Foi exatamente em 2019, no inverno, que a mãe de Susana Costa Silva, Maria Costa Silva, então com 81 anos, morreu com pneumonia, na zona do Porto. “Sofria de Parkinson há 10 anos e era diabética há 20. Apanhou uma pneumonia e tudo se complicou. Ainda esteve internada durante duas semanas, mas acabou por falecer”, lembra Susana. “Acho muito bem que se assinale o Dia Mundial da Pneumonia porque a maior parte das pessoas não presta atenção nenhuma a esta doença. E infelizmente porque quando nos bate à porta é que percebemos o grande problema que é”, lamenta. “Ainda hoje me sinto culpada pela morte da minha mãe. Penso que a devia ter resguardado ainda mais das temperaturas baixas, que a devia ter obrigado a vestir ainda mais roupa… Ela era uma mulher independente apesar das suas doenças e eu fiz o meu melhor, mas há sempre uma voz que me diz que podia ter evitado este desfecho”, lastima.
Os dados do Pneumoscópio também revelaram uma maior taxa de mortalidade no interior do país em comparação com o litoral, atribuída à maior proporção de idosos nessas regiões e à dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Jaime Pina ressaltou que a iniciativa contribuiu para aumentar a taxa de vacinação contra o pneumococo em pessoas com mais de 65 anos, ultrapassando os 40%. Ele concluiu que a plataforma foi valiosa nesse aspecto e destacou a importância de iniciativas como essa.
“A ‘pneumonia da comunidade’ é causada por um microrganismo da comunidade: a pneumonia ocorre no ambiente natural do individuo, em contraposição a uma pneumonia que pode ocorrer num contexto de uma instituição de saúde ou de acolhimento, por exemplo. Os sintomas decorrem desta reação inflamatória: febre, tosse, expetoração e pode haver falta de ar consoante o tal espaço que é habitualmente ocupado por ar for sendo ocupado por inflamação”, explicita António Morais. “A diferença que pode existir é relacionada com as características do doente porque o que acontece no indivíduo mais idoso é que esta inflamação está mais atenuada e, portanto, por vezes tem uma pneumonia com sintomas atípicos. Não tem febre e é mais difícil de a detetar. Em princípio, o tratamento faz-se em ambulatório, mas em situações de maior gravidade as pessoas têm de ser internadas”.
“A vacinação é, efetivamente, o grande meio de prevenção. Não só as vacinas contra a gripe e a covid-19 porque estas infeções, que são infeções víricas, podem ser complicadas com a pneumonia, e fazer esta vacinação sazonal pode ajudar nesse sentido, mas existem também as vacinas antipneumocócicas que tentam prevenir as infeções com serótipos da bactéria que é mais frequente, o pneumococo, que condicionam pneumonias mais graves. Daí o Dia Mundial da Pneumonia ser tão importante. É algo que afeta os indivíduos mais idosos e com doenças crónicas. Estes têm maior risco de ter uma pneumonia e, quando a têm, têm mais risco de ter uma situação grave e de a sua vida ficar em risco. E Portugal tem níveis elevados de morte por esta doença. Ou seja, as medidas de prevenção e deteção precoce da pneumonia são extremamente importantes. E a sensibilização é muito relevante”, conclui.