Dados dos Censos 2021 revelam que por cada 100 jovens portugueses existem já 182 idosos. Visando a melhoria das respostas que reforcem a participação cívica e social dos mais idosos, a ONU declarou a década 2020-30 como a década do envelhecimento ativo e saudável, repensando políticas de longevidade. Em alinhamento, a Comissão Europeia aprovou em 2021, o “Livro Verde sobre o Envelhecimento” sobre o lema de promover a responsabilidade e a solidariedade entre gerações. Também em Portugal está em discussão o “Plano de Ação do Envelhecimento Ativo” baseando-se em pilares de atuação que vão muito além da saúde e bem-estar, incluindo aprendizagens ao longo da vida, participação social, rendimentos e vida laboral ao longo do ciclo de vida. Ora a atividade física (AF) é um vetor fundamental para todos estes pilares. Pessoas fisicamente ativas lidam melhor com os desafios da vida em todo o seu contínuo.
Os beneficios da AF para os mais idosos estão bem estabelecidos e encontram-se já amplamente disseminados por instituições de referência como a OMS: a AF reduz a mortalidade por todas as causas, e por doenças cardiovasculares, reduz a incidência de hipertensão, de alguns tipos de cancros, e da diabetes tipo 2; melhora a saúde mental, a saúde cognitiva e o sono. A gordura corporal também pode melhorar. A AF ajuda ainda a prevenir quedas e lesões relacionadas, e o declínio da saúde óssea e da capacidade funcional. Importante será sublinhar que os benefícios vão além da saúde individual, potenciando a saúde do planeta e desenvolvimento sustentável: i) Os benefícios da AF no funcionamento cognitivo e na autoestima podem ajudar a reduzir assimetrias sociais; ii) Mais pessoas andando no espaço publico, criam mais oportunidade de interação social, prevenindo a solidão e estimulando a coesão social e ambiental; iii) a mobilidade ativa e a redução do transporte motorizado têm um grande impacto sobre a poluição e emissões de dióxido de carbono; iv) Ambientes facilitadores da mobilidade ativa parecem impulsionar a prosperidade económica, pois aumentam o valor dos serviços e bens locais, criando mais oportunidades de emprego e vendas; v) Por último, o aumento da AF gera também produtividade, particularmente por meio de menor absentismo.
No sentido, as recomendações para idosos incitam a realização de pelo menos 150 a 300 minutos de AF aeróbia de intensidade moderada, sublinhando vantagens em adicionar atividades que promovam o equilíbrio e a coordenação, bem como o fortalecimento muscular, para ajudar na prevenção de quedas e na melhoria da saúde. A AF pode ser realizada como parte integrante do dia a dia, seja em atividades laborais, desporto e lazer ou transporte (caminhar e pedalar), bem como de tarefas diárias e domésticas. A par destas orientações individuais há também orientações globais, nomeadamente as contidas no “Plano de Ação Global” contendo um eixo específico para a melhoria da ação ao nível dos programas comunitários para a população sénior, reforçados por um recente toolkit específico descrevendo fatores facilitadores de uma abordagem eficaz e sustentável e como os promover.
Como nota final é importante sublinhar a ideia de contínuo existencial: Aos 65 anos uma pessoa satisfeita e ativa (vs. triste e sedentária) já o será há muitos anos… Intervir no envelhecimento é intervir desde a infância … Mas nunca é tarde (estudos mostram benefícios na prática da AF mesmo quando se inicia em idades mais avançadas)!
Marlene Nunes Silva, PhD.
Professora Associada | Faculdade de Educação Física e Desporto, Universidade Lusófona
Diretora| Programa Nacional de Promoção da Atividade Física – Direção Geral da Saúde