O Dia Mundial da Diabetes é assinalado a 14 de novembro de cada ano. Este dia foi criado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em resposta ao aumento alarmante dos casos de diabetes em todo o mundo. A data foi escolhida para homenagear o aniversário de Frederick Banting que, juntamente com Charles Best, desempenhou um papel crucial na descoberta da insulina, uma hormona vital no tratamento da diabetes.
O principal objetivo do Dia Mundial da Diabetes é aumentar a consciencialização sobre a diabetes, os seus fatores de risco, métodos de prevenção e tratamento. A cada ano, a IDF escolhe um tema específico para destacar uma questão particular relacionada com a diabetes. Através de campanhas de sensibilização, eventos educacionais e iniciativas comunitárias, o Dia Mundial da Diabetes visa mobilizar ações globais para combater essa condição de saúde pública.
A diabetes é uma doença crónica que ocorre quando o corpo não consegue produzir insulina suficiente ou não consegue usar eficazmente a insulina que produz. Existem diferentes tipos de diabetes, incluindo o Tipo 1, Tipo 2 e a diabetes gestacional. O tratamento adequado da diabetes envolve uma combinação de estilo de vida saudável, medicação (quando necessário) e monitorização regular da glicose no sangue.
Durante o Dia Mundial da Diabetes, muitas organizações de saúde, profissionais da área médica, comunidades e pessoas em todo o mundo unem-se para realizar atividades que visam educar, prevenir e oferecer apoio àqueles que vivem com esta doença. Esse é o caso de Rita, Daniel e Mário.
“A minha filha, a Rita, de 8 anos, é diabética. Foi-lhe diagnosticada diabetes tipo 1 há dois anos. Também tem uma doença autoimune, a artrite reumatoide, desde os dois anos. Ela começou por ficar com muita sede, perdeu peso, estava sempre muito cansada e com um ar doente, fazia muito xixi durante a noite, sem energia e achámos estranho. Fizemos ligação à artrite, mas uma vez fui a uma urgência com ela e a primeira coisa que a médica fez foi picar-lhe o dedo. A glicemia estava tão alta que o valor já nem aparecia no aparelhinho”, começa por explicar Marta Santos, mãe de Rita.
“Teve de ficar logo internada. Foi uma triste novidade e, quando a enfermeira chegou com o tabuleiro com a insulina e as agulhas… Pensei que ela ia fazer o tratamento durante um tempo e depois estabilizava. Mas a enfermeira disse ‘Não, mãe, isto é para toda a vida’. Hoje, a Rita tem uma bomba híbrida que faz, basicamente tudo aquilo que o pâncreas faz, mas temos de pesar a comida, fazer a contagem dos hidratos de carbono… Ela até lida muito bem com isto, a nós é que talvez nos custe mais porque temos mais noção das coisas”, constata. “A maior batalha que tenho tido, desde que descobri que a Rita é diabética, é a de transmissão de conhecimento. E o problema da escola porque não está preparada para ter crianças com esta necessidade. Foi sempre o meu cavalo de guerra. Tem 8 anos e é ela que me telefona e faz videochamadas comigo a fazer perguntas. Tem uma professora que é incansável, mas a verdade é que a saúde escolar nem põe os pés lá. A escola dela tem mais duas meninas diabéticas e quem foi lá dar formação há duas semanas fui eu”, lamenta a mãe que, no ano passado, lançou a petição ‘Pelo direito a um enfermeiro em escolas públicas frequentadas por crianças com necessidades de saúde específicas’.
“A diabetes é uma situação onde há excesso de açúcar no sangue o que vai provocar lesões nos chamados órgãos-alvo: os rins, o coração, os olhos, os vasos sanguíneos, causando insuficiência renal, enfartes do miocárdio, AVCs, cegueira e amputações, entre outras lesões. Há excesso de açúcar no sangue porque há falta de insulina ou porque a insulina existente não consegue atuar nas células. Na diabetes tipo 1, há uma insuficiência do pâncreas, que é o (órgão produtor de insulina, em produzir essa hormona), e isso passa-se, na esmagadora maioria dos casos, por uma destruição das células que produzem insulina através de uma agressão com anticorpos. É uma doença que, geralmente, começa em pessoas mais novas, embora haja casos que surgem depois dos 40 anos”, esclarece João Jácome de Castro, médico endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM)
“Depois, temos a diabetes tipo 2, em que começa por haver uma adequada produção de insulina pelo pâncreas, mas em que os tecidos são resistentes à ação dessa insulina: a insulina não atua de forma eficaz nas células. A diabetes é hoje um dos mais relevantes problemas de saúde das populações pela sua elevada prevalência, pela sua tendência de crescimento e pelas temíveis consequências ao nível dos órgãos-alvo, tal como já referi. E temos dois grandes patamares de intervenção: um é tentar prevenir a diabetes – há que alterar estilos de vida, promovendo uma vida mais saudável; fazer com que haja menos excesso de peso e obesidade – e outro é tratar quem já a tem – esta área está muito desenvolvida porque há fármacos insulínicos e não insulínicos muitíssimo mais seguros e eficazes do que havia há 30 anos”, explicita o endocrinologista.
“Há hoje outra mensagem de esperança para os doentes com a diabetes tipo 2 que é podermos, se interviermos cedo, e conseguirmos que a pessoa perca peso, atingir a remissão da doença. Há muita diabetes por diagnosticar: e o diagnóstico atempado é muito importante. Por outro lado, as pessoas têm de ser tratadas de acordo com objetivos terapêuticos definidos para cada uma para que as complicações não surjam”, continua. “É preciso pôr as pessoas, as sociedades científicas, as autoridades de saúde, a indústria farmacêutica, os parceiros sociais de braços dados para combater esta doença. É fundamental estarmos juntos todos os dias e não só neste dia. A SPEDM associa-se às comemorações do Dia Mundial da Diabetes e pretende sensibilizar a população, assim como as autoridades de saúde, para a importância da diabetes como um grande problema de saúde pública. No fundo, temos de conhecer a diabetes, pensar na diabetes, prevenir a diabetes, diagnosticar a diabetes e tratar a diabetes cada vez mais cedo e cada vez melhor”, conclui João Jácome de Castro.
“O Daniel tinha 6 anos quando foi diagnosticado com diabetes tipo 1. Foi um choque e ele esteve uma semana internado mais para eu aprender do que outra coisa. Os sensores Libre foram lançados na semana em que ele estava no hospital. Portanto, os primeiros tempos foram muito difíceis, sem tecnologia, a picar os dedos, mas tive muita sorte na escola dele. Estavam dispostos a aprender, tanto professores como vigilantes”, afirma Inês Campaniço, mãe de Daniel, hoje com 12 anos. “Com a diabetes veio outra doença autoimune, a doença celíaca. À medida que começámos a usar o Libre, adaptámo-nos muito bem e, hoje em dia, contamos pelos dedos as vezes em que ele tem de dar alguma pica”.
“Conseguimos dormir e não acordamos de duas em duas horas como antes. A nossa vida ficou muito mais facilitada com a tecnologia. Ele está sempre em movimento. Faz artes marciais, taekwondo, etc. e eu não o limito em termos de comida dentro do possível. Vamos ajustando a insulina. Contamos os hidratos de carbono, claro, mas cada corpo reage de uma forma e não é linear. O instinto e a aprendizagem funcionam juntos. Tentamos fazer a vida o mais normal possível e acho que o Daniel nunca deixou de fazer algo por ter diabetes. Digo-lhe sempre que há doenças piores e que pelo menos esta conseguimos gerir”, conta a mãe do menino que tem diabetes tipo 1 tal como a pequena Rita, sendo o caso destas crianças diferente do de Mário Marques, de 66 anos, que tem diabetes tipo 2, e soube-o quando foi internado para ser operado ao coração, em 2006.
“Até lá, nunca me apercebi de nada. Era muito desligado das análises e um bocado descuidado. Acho que nunca tive nenhum sintoma. Se tive, não dei por isso”, diz. “A partir desse momento, comecei a tomar comprimidos e sabia que podia reverter a doença. Com um regime alimentar muito cuidado, emagreci 12 quilos em dois meses e pouco e a minha glicemia baixou significativamente. E a minha médica diabetologista marcou-me consulta para daqui a 6 meses e disse-me que se continuar assim passarei a ser pré-diabético. Tudo graças à minha alimentação! E poderei deixar de tomar os comprimidos”, declara visivelmente feliz, indo ao encontro dos esclarecimentos de Jácome de Castro.
Em 2022, a Direção-Geral da Saúde veiculou que, nos então últimos 12 meses, haviam sido registados 79.241 novos casos de diabetes, elevando o número total de pessoas com diagnóstico da doença para 879.853, segundo dados do Programa Nacional para a Diabetes (PND). Durante o período de outubro de 2021 a setembro de 2022, esses dados foram apresentados numa sessão sobre o programa, destacando desafios e estratégias.
Nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), os números de 2021 já indicavam um aumento nos novos casos identificados, com 857.272 pessoas registadas no Sistema Nacional de Saúde (SNS), incluindo 74.396 novos diagnósticos. Apesar disso, a Federação Internacional de Diabetes estima que pode haver pessoas não diagnosticadas, tornando a promoção do diagnóstico precoce uma prioridade do PND, com ênfase na avaliação do risco de desenvolver Diabetes tipo 2.
Entre 2019 e 2021, nos CSP em Portugal Continental, foram realizadas 2.431.050 avaliações de risco de Diabetes tipo 2 na população adulta sem a doença, abrangendo 41% da população alvo. Dessas avaliações, 770.000 indicaram um risco elevado de desenvolver diabetes nos próximos 10 anos.
O relatório mais recente do PND revela que a diabetes foi responsável por 3,3% das mortes em Portugal em 2020, uma queda em comparação com 2016, quando atingiu 3,9%. Cerca de 66% das mortes relacionadas à diabetes ocorreram em pessoas com 80 anos ou mais. O Programa de Rastreio da Retinopatia Diabética teve uma cobertura crescente até 2019, mas houve uma redução em 2020 devido à pandemia de COVID-19.
Em 2021, o rastreio do pé diabético nos CSP abrangeu 62% das pessoas com diabetes, uma melhoria em relação a 2020. No entanto, persiste um número elevado de admissões hospitalares devido a complicações no pé diabético, com cerca de 2.700 internamentos no mesmo ano. Foram realizadas 2.639 amputações em pessoas com diabetes em 2021, um número significativo semelhante aos anos anteriores.
Os dados mais recentes indicam que mais de 4.100 pessoas com Diabetes tipo 1 receberam tratamento com Sistemas de Perfusão Subcutânea Contínua de Insulina (bombas de insulina), sendo cerca da metade crianças e jovens, e há um aumento notável no uso desse tipo de tratamento. Os custos relacionados com a diabetes atingiram 418 milhões de euros em 2021 em despesas com antidiabéticos não insulínicos e insulinas, mantendo uma tendência de aumento em relação aos anos anteriores.