Não vamos dissertar acerca de quão inesperada e brutal foi a sequência de acontecimentos da passada terça-feira, 7 de novembro. Nem a agora tão óbvia capa do nosso jornal, na semana passada, com as declarações do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, nos terá alertado, aos mais atentos, para um agora óbvio que aí vinha.
Falemos, antes, de um aspeto que parece estar dado como certo e que não pode deixar esquecida uma outra certeza: a certeza de que o Pedro Nuno Santos que parece vir a ser um líder certo e incontestado do Partido Socialista, é o mesmo Pedro Nuno Santos que nos deixou a todos pasmos com a quantidade de asneiras com que presenteou o país ao longo dos últimos anos.
É o mesmo Pedro Nuno Santos que ainda há poucos meses abandonou o Governo com estrondo, de rastos e de quem a dimensão ético-política foi reduzida a meia gota de água num vasto oceano que se impõe a quem aspira liderar um partido do arco da governação.
«Face à perceção pública e ao sentimento coletivo gerados em torno deste caso [o da indemnização milionária e ilegal, decidida por WhatsApp, à antiga administradora da TAP Alexandra Reis], o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, entende, neste contexto, assumir a responsabilidade política e apresentou a sua demissão ao primeiro-ministro» – foi assim que Pedro Nuno Santos abandonou o malogrado Governo de António Costa, no antepenúltimo dia de 2022, já passava da meia noite. Foi assim que Pedro Nuno Santos fugiu.
Mas Pedro Nuno Santos podia ter encontrado milhões de outras razões para ter, em momento anterior, abandonado o Governo (mesmo que isso não significasse que o pudesse fazer de forma mais digna): dos 3200 milhões de euros que Pedro Nuno Santos enterrou na TAP – a TAP que nacionalizou para depois Costa assumir ter de voltar a privatizar -, à decisão sobre o aeroporto de Lisboa e a sucessiva desautorização por parte do primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos deixou um rasto que o devia fazer corar a cada vez que pensasse ser resposta política para o que quer que seja.
Pedro Nuno Santos é um bom retrato daquilo em que se transformou o PS e a sua máquina de poder: errante na matéria, mas suficientemente hábil na forma (i.e. no jogo político), o que o torna, também assim como este PS, num ser especialmente perigoso.
O antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação é um produto daquilo que tem sido o PS, os seus anos de governação e, consequentemente, do seu poder quase absoluto: brada ideologia, esparrama-se na realidade, dia após dia. É, de facto, um bom sucessor de Sócrates ou de Costa. E é este Pedro Nuno Santos que se apresentará, com quase toda a certeza, aos portugueses.
Felizmente, os portugueses não são o PS, nem o PS são os portugueses. É que, se é certo que Pedro Nuno Santos é favorito dentro nas hostes socialistas, é também certo que os portugueses dele não têm boa memória. Mais do que isso: têm a triste memória, ainda bem acesa, do rasto de asneiras que Pedro Nuno deixou por onde passou e, se há coisa de que os portugueses querem fugir neste momento, é da confusão e do caos socialista.
E é, aqui, que o PSD tem um papel importante. O de mostrar aos portugueses, de forma clara e inequívoca, o que é que o separa – ao partido e ao seu líder, Luís Montenegro – deste escabroso estado de coisas. A bem de Portugal. l
Advogado, Vereador do Urbanismo e Inovação da C.M. Braga